Darkest Dungeon 2, Make-A-Wish e o sonho de um fã

Para muitas pessoas, os videogames são apenas meros passatempos, uma maneira de escaparmos para mundos muito diferentes do que vivemos. Já outras os utilizam como uma ferramenta para expressar sua criatividade e até buscar motivação para momentos difíceis, como foi o caso de Sam Burns, um apaixonado pelo Darkest Dungeon 2.

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Tendo passado a jogar a série em 2018 quando deu uma chance ao primeiro jogo, Sam ficou ansioso pela continuação e desde que o jogo se tornou disponível como em acesso antecipado, ele não parou mais de jogá-lo. Na verdade, o rapaz afirma ter gostado mais do Darkest Dungeon 2 e após várias horas dedicadas a ele, começou a ter algumas ideias para o título.

Pois parte dos conceitos que o garoto imaginou nasceram enquanto estava hospitalizado. Diagnosticado com leucemia, ele passava várias horas curtindo o jogo da Red Hook Studios e durante uma conversa com um assistente social em maio de 2022, aquele profissional o incentivou a entrar em contato com a desenvolvedora.

O problema é que algo assim não é tão simples e para tentar agilizar o processo, eles decidiram pedir ajuda a Make-A-Wish. Famosa por realizar o sonho de crianças doentes, a fundação — que inclusive atua no Brasil — poderia participar como intermediadora, mas entre a teoria e a prática normalmente existe uma grande diferença.

Após um longo processo burocrático fazer com que o primeiro contato com o estúdio só ocorresse em novembro do ano passado, Sam ainda precisou provar que não estava mentindo. “Aquela foi absolutamente a primeira vez que fizemos algo assim e para ser honesto, sim, pensei que era uma fraude quando li o assunto do email pela primeira vez,” afirmou o cofundador da Red Hook Studios, Chris Bourassa.

Ainda segundo o artista, ser contactado pela Make-A-Wish era algo que ele não estava esperando, mas após verificar o remetente e ler a mensagem, ele passou a ter uma maior convicção de que o contato era legítimo. Para ele, o fato de um jovem os procurar e não querer conhecer uma celebridade, por exemplo, foi algo que surpreendeu a equipe, deixando-os comovidos.

Mas para a sorte de Sam Burns, aquele contratempo foi superado e o rapaz logo foi apresentado a Bourassa, ao outro fundador do estúdio, Tyler Sigman e ao designer Erich Kohlweg. E foi numa reunião pela internet que eles pediram que o jovem lhes dissesse que tipo de personagem gostaria de ver no Darkest Dungeon 2, quando ele apresentou uma ideia muito interessante.

Batizado como Gaunt Chirurgeon, aquele seria um inimigo que encontraríamos durante a aventura e que nos atacaria com sanguessugas. Embora causasse pouco dano nos nossos personagens, eles sofreriam sangramento e destaque é que poderiam ser curados de doenças que tenham eventualmente contraído.

Ou seja, deparar-se com esse personagem que atuará mais como suporte não necessariamente será algo ruim, pois apesar dele ajudar o grupo de inimigos que enfrentarmos, suas “armas” poderão remover condições negativas que os nossos heróis tiverem. Caberá então ao jogador calcular o risco de não derrotar o Gaunt Chirurgeon rapidamente, mas também não o ignorar pura e simplesmente.

“As doenças são esses efeitos de status desagradáveis permanentes que você pode obter de várias maneiras diferentes e normalmente os inimigos são o que os infligem, não os removem,” explicou Sam. “Então pensei que seria divertido se houvesse um inimigo com um ataque que fosse irritante de ser atingido de alguma forma, mas que também curasse sua doença. Quando contei isso ao Chris, o tema do doutor/cirurgião meio que evoluiu em torno dele e foi assim que chegamos a como ele será.”

De acordo com Bourassa, após sua equipe trabalhar em alguns rascunhos para o personagem, eles voltaram a se reunir virtualmente com o Sam, que pôde responder algumas dúvidas que os profissionais tinham em relação à mecânica. O encontro também lhes permitiu dar início à criação de itens que servirão de apoio ao promissor in inimigo.

Com o conceito pronto, o pessoal da Red Hook Studios tratou de criar os itens que foram adicionados ao Darkest Dungeon 2 já em dezembro de 2022. O Gaunt Chirurgeon por sua vez só aparecerá no jogo numa atualização futura, já que por precisar ser animado e receber texturas, é preciso muito mais tempo para ser criado.

O curioso é que inicialmente o estúdio havia prometido a Sam que apenas esses itens baseados na ideia de dano e cura seriam implementados, já que não haveria tempo suficiente para que um novo personagem fosse adicionado. Para o garoto, aquela já seria a realização de seu sonho, mas conforme Chris e Tyler foram ouvindo sua ideia, gostaram tanto dela que decidiram produzir o pacote completo.

Quanto a tentar uma carreira na indústria, Sam Burns afirmou que apesar de o desenvolvimento de jogos ser algo que o interessa, ele ainda não sabe se é algo que pretende seguir. Com apenas 18 anos e o seu tratamento acontecendo até 2024, é compreensível que alguém tão jovem ainda não tenha decido seus próximos passos. “O câncer claramente não me matou, mas prejudicou qualquer tipo de plano pós-ensino médio que eu tinha,” declarou. “Então, meio que estou por aqui no momento, ainda resolvendo coisas, mas pelo menos estou melhor agora.”

Uma história inspiradora que só se tornou possível devido à dedicação dos fantásticos profissionais da fundação Make-A-Wish e de um estúdio que se dispôs a ouvir a ideia de um fã. No fim das contas, todos saíram ganhando com isso: Sam, que verá sua proposta ser eternizada num jogo que tanto ama; o Red Hook Studios, que verá o Darkest Dungeon 2 se tornar um jogo melhor; e os jogadores, que terão acesso a um personagem com uma mecânica muito interessante.

Fonte: PCGamer