HP volta a bloquear cartuchos alternativos em impressoras

O tempo passa, o tempo voa, e a HP continua fazendo a vida de seus consumidores um inferno. Desde 2016, a companhia usa um recurso chamado "Segurança Dinâmica", uma atualização do firmware, enviado de forma não-solicitada pelo usuário, às suas impressoras conectadas na internet, que deixam de reconhecer cartuchos de tinta não-oficiais.

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A prática foi alvo de inúmeros processos ao longo dos anos, mas a HP insiste em implementar, ano após ano, tal "medida de segurança" que, na prática, foi feita para protegê-la de seus consumidores, quando estes não compram tinta na sua mão.

A atualização de Segurança Dinâmica é enviada pela HP via OTA (over-the-air) a diversos modelos de impressoras da companhia, caso estas estejam conectadas à internet. Há uma série de motivos para um usuário mantê-la online, de praticidade para imprimir documentos pela web, usando celulares, a compartilhamento de equipamentos entre usuários.

A HP, da mesma forma que concorrentes como Epson, Lexmark e Canon, entre outras (a Samsung saiu do mercado em 2016), nunca foi fã do mercado de cartuchos de tinta alternativos, fabricados por terceiros e compatíveis com suas impressoras, e também não é fã da prática de recondicionamento, ou recarga.

Em verdade, tinta de impressora é o líquido mais caro do planeta, o litro da cor preta custa hoje aproximadamente R$ 25 mil, considerando o preço médio proporcional de um cartucho no Brasil, por mililitro (~R$ 50, 2 ml); colorida, em torno de R$ 18 mil. Levando isso em conta, é compreensível por que a empresa abomina a ideia de seus usuários comprarem refis de outras fontes.

Antes do surgimento das impressoras com tanques de tinta, havia duas formas de economizar na recarga: uma era apelar para o recondicionamento, em que terceiros repunham a tinta gasta, ou comprar novos cartuchos fornecidos por outros fabricantes, que são em geral mais baratos. Ambas foram combatidas com atualizações de firmware em modelos novos, no que a Lexmark inclusive entrou com um processo nos Estados Unidos, alegando infração de patentes. Não colou.

Em março de 2016, a HP deu um passo além nos seus esforços de impedir usuários adquirirem cartuchos de tinta de outros. Coincidindo com a época de volta às aulas, tradicionalmente um dos períodos de maior venda, a empresa liberou a primeira rodada da atualização de Segurança Dinâmica, completamente sem aviso e sem solicitação. Se a impressora estivesse conectada à internet, ela receberia e instalaria o update sozinha.

Muitos consumidores descobriram a sacanagem da pior maneira, quando já haviam comprado novos cartuchos alternativos e tentaram instalá-los, no que os equipamentos atualizados pela HP se recusaram a reconhecê-los.

Segundo as mensagens de erro, o novo firmware faz uma checagem dos chips proprietários que os cartuchos originais da HP trazem, e na ausência destes (ou uso de modelos não reconhecidos), a impressora os bloqueia e deixa de funcionar. Ao usuário, resta apenas comprar cartuchos originais, sejam novos ou recondicionados.

Na época, a marmotagem da HP pegou muito mal, e ela foi alvo de vários processos de usuários, no que o entendimento era de que a Segurança Dinâmica agia como um malware, se ativando apenas quando fosse oportuno. Inicialmente, a companhia soltou uma atualização que revertia a ação do update, mas repetiu a prática em 2017, 2018, 2019, 2020, 2021 e 2022, sempre cronometrando o disparo com os períodos de maior venda, preferencialmente, o retorno às aulas.

Por isso, não surpreende que a HP esteja outra vez disparando a atualização de Segurança Dinâmica em março de 2023, mais uma vez, sincronizado com a volta das crianças e jovens à escola. Oificialmente, a companhia diz que a prática visa "proteger a qualidade de nossa (da empresa) experiência do consumidor", quando na verdade, ela foi desenvolvida para proteger os interesses da companhia.

As impressoras afetadas podem deixar de reconhecer mesmo cartuchos alternativos que funcionavam antes do update, incluindo modificações no chip de reconhecimento, para o caso de processos de recondicionamento/reposição de tinta por outros que não a própria HP. A pior parte, apenas modelos anteriores a 2016 suportam reversão do firmware, enquanto as mais recentes não têm volta.

Nestes casos, o usuário ficará restrito a comprar cartuchos originais na rede varejista, ou assinar um dos vários planos da HP para fornecimento de tinta, que não só cobra a mais caso você passe da cota, como o equipamento é constantemente monitorado.

Em nota enviada ao site Ars Technica, a HP informa que a atualização de Segurança Dinâmica é descrita na caixa das impressoras, bem como em "materiais técnicos", dando como exemplo a página de suporte que descreve a prática, mas convenhamos, ninguém se incomoda de ler.

Simultaneamente, poucos são os consumidores que sabem de sua existência antes da compra, ou mesmo durante, já que vendedores não são treinados para avisar ao comprador da existência de tal recurso, por razões óbvias. Em suma, caveat emptor.

No mais, a recomendação que muitos fazem para quem realmente precisa comprar uma impressora, é de evitar os produtos da HP completamente.

Fonte: Ars Technica, ExtremeTech