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Apple é processada por vítimas de stalking com AirTags

Ação coletiva contra Apple nos EUA acusa empresa de não frear uso das AirTags como ferramenta de stalking contra mulheres

1 ano atrás

O AirTag é o rastreador inteligente da Apple, criado para facilitar a localização de objetos perdidos, como malas, chaves, e afins. Um dos principais argumentos da maçã, para promovê-lo como uma melhor opção frente aos concorrentes, foi afirmar que seu gadget era "à prova de stalkers". Bom, não foi o que aconteceu.

Desde seu lançamento em 2021, mais de 150 queixas policiais de uso das AirTags como ferramenta de perseguição e monitoramento não solicitado, em sua absoluta maioria contra mulheres, foram registradas só nos Estados Unidos; agora, a Apple é alvo de uma ação coletiva no país, por expor pessoas a "riscos sem precedentes".

Apple AirTag (Crédito: Onur Binay/Unsplash)

Apple AirTag (Crédito: Onur Binay/Unsplash)

Tags inteligentes não são um produto recente, nem a Apple foi a primeira a entra nesse mercado; a companhia só se coçou para valer quando a Samsung, sua eterna rival no mercado mobile, introduziu a linha Galaxy SmartTag. São spots Bluetooth que enviam dados se sua localização para o dispositivo móvel com o qual foi pareado, e por serem pequenos e leves, podem ser fixados em quase qualquer item.

Não muito após a linha SmartTag dar as caras, a Apple introduziu o AirTag, que faz a mesma coisa, mas não seria um produto de Cupertino se ele não contasse com perfumarias extras. Primeiro, ele é compatível com o recurso Busca Precisa, que só funciona em iPhones a partir do 11, e que permite localizar, com precisão absurda, o lugar onde a tag, e o item a ela preso, estão.

Segundo, a rede Buscar (Find My) permite localizar objetos perdidos, esquecidos ou furtados que se encontram muito distantes do usuário, no que a tag usa uma rede em segundo plano, formada por todos os iPhones em seu entorno. Você pode deixar uma tag em um lugar X, e graças a outras pessoas por perto, que também usem dispositivos Apple, saber onde ela está com precisão.

Por essa restrição, não é possível parear AirTags com dispositivos Android, embora o mesmo valha para as SmartTags da Samsung, que só funcionam em dispositivos da linha Galaxy; elas sequer conversam com smartphones de outras fabricantes que rodam o sistema do Google.

Do lado da Apple, o Android conta com um app oficial, chamado Detector de Rastreamento, que permite localizar AirTags estranhas por perto, e só.

Segundo a maçã, as AirTags foram desenvolvidas com foco na segurança em primeiro lugar, e ao menos conceitualmente, elas não deveriam funcionar como dispositivos de rastreio de pessoas, apenas objetos. Até por isso, elas contam com um alto-falante, que emite um som quando ativas.

Porém, a Apple provavelmente não conta com o "cara que malda" em seu quadro de funcionários, o responsável por analisar, e apontar, todas as formas em que uma solução pode dar errado, e fatalmente dará. A Microsoft que o diga.

Não demorou muito para versões modificadas das AirTags aparecem no mercado, com o alto-falante devidamente desativado, assim, as etiquetas inteligentes poderiam ser facilmente malocadas em lugares inconspícuos, sem serem notadas, e monitorarem pessoas de forma não solicitada.

Queixas na polícia, apresentadas invariavelmente por mulheres, descreviam casos em que ela encontravam AirTags em suas coisas, que teriam sido deixadas por ex-companheiros, ou mesmo os vigentes e completos desconhecidos.

Graças ao Find My, seus iPhones forneciam os dados de posição para os stalkers, que sabiam exatamente onde elas estavam, o tempo todo. Dois casos inclusive acabaram em mortes.

Apple AirTags (Crédito: Divulgação/Apple)

Apple AirTags (Crédito: Divulgação/Apple)

Em janeiro de 2022, em Akron, Ohio, um homem escondeu uma AirTag no banco do passageiro do carro de sua ex-namorada, e posteriormente a rastreou, e atirou nela; em outro, ocorrido em junho do mesmo ano em Indianápolis, em um dos poucos casos de inversão de gêneros, uma mulher fez a mesma coisa no carro de um ex, e o seguiu até próximo de um bar, onde o atropelou, matando-o.

Em fevereiro deste ano, a Apple prometeu atualizações nas AirTags para mitigar o uso do gadget como ferramenta de perseguição, após ser confrontada por advogados e autoridades; no entanto, a limitação da Busca Precisa apenas aos iPhones mais recentes (quer mais segurança? Abra a carteira), e por ignorar o "fator espírito de porco" de usuários mal-intencionados, que sempre buscarão meios de contornar limitações, levou aos casos não só continuarem acontecendo, como aumentarem em tempos recentes.

O que nos traz ao processo. Duas mulheres abriram uma ação na corte da Califórnia, acusando a Apple de lucrar com um produto absolutamente inseguro, que aumenta os riscos para as mulheres, e afirmar nas campanhas de marketing que não há nada de errado com as AirTags.

Na acusação (cuidado, PDF), uma das reclamantes afirma que o ex-marido colocou uma AirTag em seu carro, enquanto a segunda encontrou a etiqueta da maçã na mochila do filho; em ambos os casos, sem consentimento ou mesmo conhecimento do ato.

Segundo os advogados, a Apple vende a AirTag como um produto inofensivo, quando, na verdade, ela se tornou "a arma preferida" dos stalkers, por ser pequena, dificultando sua localização e permitindo que ela seja atochada em qualquer lugar, por seu preço baixo (US$ 29 nos EUA), que a torna ridiculamente acessível, e pela precisão altíssima do recurso Busca Precisa, que descrevem como "sem paralelo" no mercado.

O documento descreve as AirTags como "uma das mais perigosas e assustadoras tecnologias" disponíveis a perseguidores, que as usam como forma de monitorar, assediar, e em alguns casos, agredir e matar mulheres.

A ação, coletiva e aberta a todas as prejudicadas pelas AirTags, considera responsabilizar Cupertino, com a possibilidade de impor multas e pagamento de indenizações, por lucrar com um produto defeituoso, que vende uma falsa sensação de segurança, enquanto expõe pessoas a situações de risco extremo.

Usuárias de dispositivos Android também podem aderir ao processo, visto que o app Detector de Rastreamento parte do princípio que a pessoa precisaria, em primeiro lugar, suspeitar de que há tags estranhas por perto.

Procurada, a Apple não comentou o assunto.

Fonte: Ars Technica

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