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O fantástico caso da mãe que era tio do próprio filho

Imagine ser mãe e tio ao mesmo tempo. Aconteceu com uma colombiana, graças a uma raríssima situação genética. E sim, você leu "tio"

1 ano atrás

Biologia não é uma ciência exata, como descobriu uma mãe colombiana, quando saiu o resultado do exame de paternidade de sua filha. Não só o marido não era o pai (vai Ratinho!) Como ela não era... a mãe. Mas era o Tio.

Imagem genérica de DNA só pra encher linguiça (Crédito: Oleg GamulinskiyPixabay)

O caso, considerado raríssimo, envolve uma condição chamada Quimerismo.

Na mitologia, a quimera era uma criatura com corpo de leão, com uma cabeça de bode nas costas e uma cabeça de cobra na ponta da cauda. Com o tempo se tornou um termo genérico para qualquer criatura formada por partes de outras criaturas, como o Abelião, dos Wuzzles.

Ou catgirls. (Crédito: Stable Diffusion)

Na vida real isso aconteceu com Lydia Farchield, que desempregada, com 3 filhos, tentou pedir auxílio governamental pra sustentar a família, apenas para descobrir que o DNA de seus filhos não combinava com o dela; Lydia foi acusada de fraude, levantaram suspeitas de sequestro, e só por sorte seu advogado, depois de muita luta descobriu que Lydia era uma quimera.

Em algum momento no começo da gestação, Lydia tinha uma irmã gêmea, que foi absorvida. Ao invés de se desenvolver em um humano completo, o gêmeo se transformou em um órgão, no caso dela, os ovários, então o material genético nos óvulos não era de Lydia.

Exames de DNA com amostras da mãe de Lydia comprovaram parentesco dela com as crianças, e no final deu tudo certo. Já no caso da colombiana, a situação é mais complicada ainda.

Humanos normalmente têm 23 pares de cromossomos, dois deles determinam o sexo dos indivíduos. Mulheres são XX, Homens são XY. Ao menos é o que a gente aprende no colégio, mas biologia é uma área desgraçada de complexa, repleta de exceções.

Existem indivíduos com somente um cromossomo sexual, X. Há mulheres que nascem com XXX, não que isso influencie a futura carreira profissional delas. Na Síndrome de Klinefelter, um homem nasce XXY. Também temos anomalias cromossomiais que geram gente XXXX, XXXY, XXYY, XXXXY ou XXXXX.

Há casos como a Síndrome de Swyer, onde a pessoa tem cromossomos XY, mas externamente tem características fenotípicas femininas, incluindo genitália normal. Internamente, podem ter ovários OU testículos, sempre não-funcionais.

Na Síndrome de La Chapelle, o sujeito é externa e internamente masculino, pode ter tudo normal no lugar funcionando, mas geneticamente ele é XX. No caso, durante a divisão  celular inicial, um cromossoma Y “vazou” material, que foi absorvido por um cromossoma X, que passou a expressar um gene que faz o corpo desenvolver características masculinas. Ou pode ter um monte de problemas. Biologia é uma caixinha de surpresas.

No caso da colombiana, foram colhidas amostras de DNA de sangue e saliva. Ambas disseram que ela não era a mãe da criança. Novas amostras foram retiradas da bochecha e cabelos deram outro resultado: Ela era mãe sim.

Examinando os dados, descobriram que as amostras de sangue e saliva tinham cromossomas XY, enquanto as outras eram XX.

Normalmente uma criança, se for menina, herdará um cromossoma X da mãe (resultado da combinação dos dois X) e um X do pai.

Se for menino, herdará um X (combinado) da mãe, e um Y do pai.

No caso da mãe colombiana, descrito em uma apresentação no Simpósio Internacional de Identificação Humana, a criança herdou normalmente o X da mãe e o Y do pai.

Partes do gêmeo não nascido vivem na irmã, que é, tecnicamente, parte tio do próprio filho.

Quimerismo é bem mais fácil de ser identificado em animais, características como pelagem são bem afetadas, e o resultado é exótico e bonito.

São dois gatos pelo preço de um. (Crédito: Reprodução Internet)

Alguns cientistas estimam que quimerismo em humanos é bem mais comum, apenas ninguém testa por esse tipo de ocorrência, exceto em casos como o de Lydia ou da paciente colombiana. Em raros casos ele é evidente, e mesmo passa despercebido. É o caso da modelo americana Taylor Muhl, que por anos achou que tinha uma enorme marca de nascença, cobrindo metade da lateral do abdômen.

Taylor começou a estranhar quando percebeu que aquela área tinha alergias próprias, funcionava de forma diferente do resto de sua pele. Após passar por inúmeros médicos, ela descobriu que havia absorvido uma irmã gêmea, e aquele tecido era tudo que restou dela.

Taylor Muhl e sua irmã. (Crédito: Reprodução Internet)

Quimeras são exceções, e como geneticamente parecem ser neutras, sem trazer vantagens ou desvantagens, provavelmente continuarão existindo, apenas para complicar a vida de quem acha que genética é simples como cultivar ervilhas.

Gregor Mendel, aliás, foi extremamente sortudo. Considerado um dos Pais da Genética e criador das Leis da Hereditariedade, Mendel estudou cruzamento entre ervilhas, anotando características que eram determinadas por genes únicos em cromossomos específicos, sendo que na época nem genes, nem cromossomos haviam sido descobertos.

Diagrama da observação de Mendel, sobre a hereditariedade de múltiplas características em ervilhas, em três gerações de cultivares híbridos (Crédito: Reprodução/The University of Waitako)

Se ele escolhesse características determinadas por mais de um gene, nunca teria chegado naqueles diagramas bonitinhos que aprendemos no colégio e explicam como seus tios têm olhos castanhos e sua prima tem olhos azuis: Lente de contato.

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