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Com Pentiment, Game Pass mostra como salvar um "jogo indie"

Segundo criador do Pentiment, se não fosse pelo Game Pass o jogo que se tornou uma das surpresas de 2022 talvez nunca tivesse saído do papel

1 ano atrás

Vistos por muitos como belos oásis numa indústria contaminada pela falta de inovação, os jogos independentes devem muito do seu sucesso à distribuição digital. Porém, de acordo com o criador de um jogo chamado Pentiment, aquilo que permitiu que sua ideia fosse executada atende por outro nome: Xbox Game Pass!

Pentiment

Crédito: Divulgação/Obsidian Entertainment

Apontado como uma das gratas surpresas de 2022, você pode (ainda) não ter ouvido falar no Pentiment, mas não se culpe por isso. Lançado para PC, Xbox One e Xbox Series S|X, o jogo chegou sem muita divulgação, podendo ser considerado não mais do que um projeto pessoal de Josh Sawyer.

Na indústria desde o ano 2000, o game designer pode não ter a fama de outras estrelas do ramo, mas isso não significa que sua carreira deva ser ignorada. Tendo participado da criação de jogos como Icewind Dale, Neverwinter Nights 2 e Alpha Protocol, ele ainda dirigiu o Fallout: New Vegas, além dos dois Pillars of Eternity.

Tamanha experiência deveria ter feito com que o desenvolvimento do Pentiment chamasse mais atenção, mas a verdade é que isso só aconteceu após o título ser disponibilizado. Podendo ser descrito como um adventure focado na narrativa, o jogo tem recebido muitos elogios pela singular direção artística, mas também por nos colocar para tomar diversas decisões que impactarão diretamente a história.

Nele seremos Andreas Maler, um artista que vive na Bavaria do século XVI e que precisará investigar o assassinato de uma figura local importante. Com sua história se estendendo por 25 anos, caberá ao jogador tentar descobrir quem é o culpado, enquanto aprendemos bastante sobre os costumes e cultura da época.

Crédito: Divulgação/Obsidian Entertainment

Inspirado em um jogo chamado Darklands, que foi lançado em 1992 pela Microprose, a primeira tentativa de criar o Pentiment aconteceu quando Sawyer e Feargus Urquhart ainda trabalhavam na Black Isle Studios, mas este acreditou que o título teria pouco apelo além dos apaixonados por história. Depois, com a dupla já na Obsidian Entertainment e tendo terminado o desenvolvimento do Pillars of Eternity II: Deadfire, o autor voltou a pensar naquele projeto.

Passando a visar algo com uma jogabilidade no estilo do que vimos no Night in the Woods e no Oxenfree, Josh Sawyer enfim recebeu o aval para iniciar o desenvolvimento. Porém, como o alto escalão do estúdio continuava vendo pouco apelo comercial no jogo, o orçamento seria baixo, com uma pequena equipe sendo formada, com a artista Hannah Kennedy estando nela.

E como o jogo giraria em torno de um sujeito que vive criando manuscritos medievais, Hanna teria um papel fundamental na criação do Pentiment, especialmente no início do desenvolvimento. Outro fator que contribuiria muito para o sucesso do jogo aconteceria em 2018, quando a Microsoft comprou a Obsidian. Foi graças ao apoio da Gigante de Redmond que o título recebeu diversos recursos de acessibilidade, como a opção de jogarmos com fontes que facilitaram a leitura ou mesmo a localização para várias línguas, algo fundamental para um jogo com tanto texto.

Contudo, segundo Josh Sawyer, nada disso teria acontecido se não fosse a facilidade de acesso proporcionada pelo Game Pass. A defesa ao serviço de assinatura oferecido pela Microsoft aconteceu durante a gravação do podcast Waypoint Radio, quando ele afirmou que “nunca poderia ter proposto fazer o Pentiment sem o Game Pass.”

Crédito: Divulgação/Obsidian Entertainment

O game designer também revelou que durante parte da criação a divisão Xbox só sabia vagamente no que ele estava trabalhando. Então, quando sua equipe fez uma apresentação aos executivos, o conceito já estava elaborado e a Microsoft se mostrou muito prestativa. Mesmo assim, ele admitiu que isso só aconteceu devido ao modelo do Game Pass, onde o importante não é o número de vendas de um jogo, mas a quantidade de assinantes do serviço.

E embora quantidade não seja sinônimo de qualidade, é evidente que quanto mais títulos o Game Pass tiver no seu catálogo, maiores são as chances de ele agradar (e conquistar) mais consumidores. Felizmente, a Microsoft percebe isso e viu na ideia de Sawyer uma ótima oportunidade para melhorar a lista de jogos oferecidos. E como sua disponibilização por lá não impede que as pessoas paguem por uma cópia do jogo, a empresa aparentemente só tem a ganhar.

No entanto, nem todos estão convencidos de que de esse modelo de negócios seja benéfico. Entre aqueles preocupados com o impacto que o Game Pass pode ter no futuro da indústria está Ed Fries, um dos criadores do Xbox. Para ele, oferecer títulos através de um serviço de assinatura poderá fazer com os games o mesmo que o Spotify teria feito com a indústria da música, ou seja, acabar com ela.

Quem também não tem uma visão muito otimista sobre o assunto, mais especificamente sobre oferecer lançamentos no Game Pass, é Strauss Zelnick, CEO da Take-Two. Para ele, o negócio de entretenimento interativo é muito diferente do entretenimento linear, com as pessoas consumindo muito menos jogos durante um mês do que fazem com filmes ou músicas e por isso não faz sentido oferecer desta maneira os títulos que estão chegando ao mercado.

Pentiment

Crédito: Divulgação/Obsidian Entertainment

Há ainda os desenvolvedores indies que, além de estarem preocupados com a compra da Activision por parte da Microsoft, temem que apenas estando no serviço de assinatura terão alguma chance de verem suas criações sendo consumidas. Afinal, por ter se tornado comum muitos consumidores questionarem se um jogo de pequeno porte estará disponível por lá, por que os compraríamos?

Por outro lado, mesmo alguns gigantes afirmam estar se beneficiando da vitrine que o Game Pass se tornou. Um bom exemplo disso é a Sega e sua série Yakuza, já que para o responsável pelo Ryu Ga Gotoku Studio, um dos motivos para a sua popularidade ter aumentado tanto no ocidente pode ter sido a inclusão em serviços como o da Microsoft.

No caso específico do Pentiment, talvez tudo não passe de um exagero de Josh Sawyer, uma tentativa de agradar seus empregadores. No entanto, o fato de termos acesso a um jogo assim já seria motivo suficiente para agradecermos ao Game Pass, senão por ele ter garantido a continuação do projeto, ao menos por podermos experimentá-lo, pois mesmo com o título sendo tão elogiado pela crítica, ele certamente não agradará boa parte do público.

Fonte: GamingBolt

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