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Como a Argentina alavancou as vendas do Let's Build a Zoo

Após ver o Let's Build a Zoo sendo vendido por US$ 1,50 na eShop da Argentina, editora descobre que o preço ajudou o jogo a se destacar em outras regiões

1 ano e meio atrás

Conseguir fazer com que um jogo independente se destaque entre tantas ofertas é um dos maiores desafios que um estúdio pode encarar. Uma opção é oferecer sua criação aos assinantes do Xbox Games Pass e embora os criadores do Let's Build a Zoo tenham feito assim, o que levou o título a chamar a atenção de muita gente foi a atual situação econômica da Argentina — e um empurrãozinho dado pela loja virtual da Nintendo.

Let's Build a Zoo

Crédito: Divulgação/Springloaded

Conforme explicado pelo diretor da No More Robots, a inusitada fama alcançada pelo Let's Build a Zoo teve início em 22 de setembro, dia em que a editora iniciou a pré-venda do jogo no eShop. Com o gerenciador de zoológicos parecendo encaixar perfeitamente no estilo de jogo que os donos de um Nintendo Switch adoram, a expectativa de Mike Rose estava nas alturas.

Com o título disponível na loja, restava e eles esperar e quando no dia seguinte o executivo viu que o número de aquisições na pré-venda estava absurdamente alto, ele nem pôde acreditar. O sonho de emplacar um grande sucesso antes mesmo do Let's Build a Zoo ter sido lançado estava se tornando realidade, mas havia um grande problema naquelas vendas.

Após verificar o relatório proporcionado pelo eShop, Rose se deu conta de que 85% das aquisições haviam sido feitas na Argentina.  Mas se você estiver se perguntando por que isso seria um ponto negativo, o próprio executivo tratou de explicar o motivo da sua preocupação:

“Há dois grandes problemas com isso.

  1. Elas [as vendas] obviamente não vieram da Argentina. Claramente as pessoas estavam fazendo a coisa da troca de região, configurando a região de seus eShops para a Argentina para ter o preço mais baixo possível.
  2. O ‘preço mais baixo’ foi de aproximadamente US$ 1,50, devido à taxa de câmbio.”

De maneira resumida, essa malandragem (se é que podemos chamar assim) é bastante facilitada por sites como o eShop Prices, onde os preços praticados em cada região são listados. Depois, basta troca o país da nossa conta para aquele em que o desconto for maior, realizar a aquisição do jogo e aproveitá-los sem termos que criar contas novas. Tudo muito simples, rápido e sem que a Nintendo pareça se opor à prática.

Porém, se para nós consumidores essa pode ser considerada uma ótima vantagem do Switch, pois serve como uma maneira legítima de adquirir jogos por preços bem mais acessíveis, para os desenvolvedores o recurso pode representar um enorme prejuízo.

Segundo Mike Rose, cerca de mil pessoas haviam adquirido o Let's Build a Zoo nas primeiras 24 horas, o que não seria tão ruim por se tratar de um jogo de pequeno porte. Porém, cada cópia havia rendido à editora menos de US$ 1 e como ele não queria subir o preço na loja Argentina e “estragar vendas legítimas”, ficou sem saber como proceder.

Crédito: Divulgação/Springloaded

Só para termos ideia do tamanho do prejuízo que eles estavam prestes a amargar, nos Estados Unidos o título estava sendo vendido por US$ 19,99, mas então o pessoal da editora notou algo inesperado. Já no segundo dia após o início da pré-venda o Let's Build a Zoo começou a subir na lista de títulos mais vendidos na eShop US, ficando entre os 100 primeiros e aqui entra algo curioso sobre como a Nintendo trata sua loja.  

Como a fabricante considera todo o continente americano como parte da eShop US, as altas vendas na Argentina fizeram com que o jogo escalasse muitas posições na lista de mais vendidos. Além disso, a lista considera apenas a quantidade de cópias vendidas e não o faturamento gerado, logo, o fato de um título se sair bem no país hermano automaticamente faz com que ele se destaque na região americana da loja virtual.

Com isso, aquele jogo que havia surgido do nada passou a figurar entre os mais vendidos do eShop, ganhando destaque na aba “Great Deals” do eShop. Segundo Rose, eles entraram no radar de um número muito maior de jogadores norte-americanos, “atraindo mais atenção do que jamais conseguiriam se não estivessem tão altos na lista.”

Para tornar tudo ainda melhor, a equipe responsável pelo eShop na Europa notou o sucesso que o Let's Build a Zoo estava fazendo por essas bandas e passou a destacar o jogo também por lá e na Austrália. Então, com uma semana após o lançamento, a criação da Springloaded já aparecia entre os jogos mais vendidos em quase todas as regiões da loja. Detalhe: as pessoas estavam comprando o jogo com o DLC, fazendo com que a média das vendas ficasse acima dos US$ 20!

Diante de um desempenho que acabou se tornando tão positivo, era de se esperar que a No More Robots já estivesse se preparando para explorar essa brecha deixada pela Nintendo, certo? Pois a resposta é sim e não. Segundo Mike Rose, aqueles que cuidam de plataformas como o Switch, o Xbox e o Steam precisam resolver quanto antes essa facilidade na troca de regiões. No enquanto, ele admite que enquanto isso não acontecer, editoras e desenvolvedoras deverão descobrir como melhor aproveitar a situação.

Lets Build a Zoo

Crédito: Divulgação/Springloaded

Eu não serei hipócrita a ponto de dizer que não aproveito essa facilidade oferecida pelo Switch para economizar alguns trocados e, no fundo, até gostaria que todas as lojas nos permitissem fazer isso. Porém, é inegável que alguns preços praticados no eShop da Argentina beiram o absurdo, com os jogos saindo quase de graça por lá.

Ainda hoje o Let's Build a Zoo está custando muito mais barato na Argentina, com ele saindo por apenas R$ 12,09, o que significa um terço do valor no segundo país mais barato, a Colômbia (e não se trata de uma promoção). Quer outro exemplo? No momento em que escrevia esse artigo, o elogiado Sifu podia ser adquirido por meros R$ 2,50, sendo que o valor mais baixo já registrado para o jogo no PC foi de R$ 52,99 e no PlayStation foi de R$ 150,43.

Navegando pelo eShop Prices é possível encontrar muitas dessas grandes discrepâncias nos preços e sinceramente, não saberia dizer até que ponto isso é uma falha do eShop, algo imposto pela Nintendo ou uma estratégia das editoras para tentar alcançar o mesmo resultado relatado pelo diretor da No More Robots.

Da minha parte, acho que agora me sentirei um pouco menos culpado ao realizar uma compra numa região em que o jogo está mais barato. Mesmo sabendo que o desenvolvedor não receberá tanto quanto receberia se eu adquirisse o jogo no Brasil, ao menos sei que a aquisição poderá ajudar a fazer com que outras pessoas também se interessem pelo título em questão.

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