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Darth Vader: é hora do vilão de Star Wars ter sua própria série?

Obi-Wan Kenobi mostrou ser possível tirar histórias do ar, e Boba Fett, que vilões podem ser protagonistas. Isso se aplicaria a Darth Vader?

2 anos atrás

Darth Vader não é apenas o personagem que todo mundo lembra em primeiro lugar quando pensa em Star Wars. Ele é reconhecido como o maior vilão ficcional de todos os tempos, em todas as mídias, e um dos personagens mais conhecidos e cultuados da cultura pop.

Vimos como Anakin Skywalker se tornou Darth Vader. Vimos sua morte e redenção. O que ele fez nesse meio-tempo, ninguém viu (Crédito: Divulgação/Lucasfilm/Disney)

Vimos como Anakin Skywalker se tornou Darth Vader. Vimos sua morte e redenção. O que ele fez nesse meio-tempo, ninguém viu (Crédito: Divulgação/Lucasfilm/Disney)

Explorado como o principal antagonista da franquia, cronologicamente de A Vingança dos Sith até O Retorno de Jedi, com aparições em obras diversas entre os dois períodos, Vader nunca teve uma posição de protagonismo em nenhuma obra para cinema ou TV, o que acaba reforçando a aura mítica em torno do Lorde Sombrio dos Sith.

Isso pode mudar no futuro, mas os fãs gostariam? E é necessário?

Darth Vader como protagonista?

Primeiro, vamos analisar o personagem. Embora Darth Vader seja indiscutivelmente O vilão de Star Wars, mais até mesmo que o imperador Palpatine, ele não preenche todas as caixinhas da categoria, diferente de seu mestre, que todo mundo entende desde o início como estando além da redenção, e que merece se dar mal, sempre.

Quando apresentado ao público em A Ameaça Fantasma, Anakin Skywalker não era nada além de uma criança talentosa e cheia de potencial, jovial como qualquer um de sua idade, mas um escravo. Profundamente ligado à sua mãe, ele passou sua juventude se sentindo culpado por ter a chance de sair de Tatooine e se tornar um Jedi, e deixar Shmi para trás.

Essa culpa se transformou em revolta e puro ódio em O Ataque dos Clones, quando ele massacra uma tribo inteira de tuskens, em retribuição pela morte da mãe. A partir dali, Anakin se tornou movido pelo medo e angústia de perder aqueles com quem se importava, no caso, a senadora da República Padmé Amidala.

Como o maior vilão de Star Wars, Darth Vader é tratado como o brinquedo no pedestal, tal qual o Superman pela Warner (Crédito: Reprodução/Lucasfilm/Disney)

Como o maior vilão de Star Wars, Darth Vader é tratado como o brinquedo no pedestal, tal qual o Superman pela Warner (Crédito: Reprodução/Lucasfilm/Disney)

Esse medo o faz pender para o Lado Sombrio da Força, que ele viu como a única opção para salvar sua esposa da morte, apenas para realizar, com suas próprias mãos, aquilo que ele mais temia. Sua desfiguração, por outro lado, concluiu sua transformação em algo "mais máquina do que homem, distorcido e mau", nas palavras de Obi-Wan Kenobi.

Anakin se tornou um monstro, por culpa de seus erros e de outros ao seu redor, ao ser considerado o Escolhido pela Força, no que de fato, ele equilibrou a balança dos Lados Iluminado e Sombrio, duas vezes. Quando Qui-Gon Jinn o encontrou em Tatooine, haviam dezenas de Jedi e pouquíssimos Sith; após a Ordem 66 e o Expurgo, os números de ambos passaram a ser contados em apenas uma mão.

Vader passou quase duas décadas como uma massa de ódio e poder encarnado, impondo a ordem do Império com crueldade extrema, enquanto culpava tudo e todos por seu infortúnio, se agarrando a pensamentos de vingança contra os Jedi e Palpatine, que todos sabem, ele ambicionou substituir como imperador.

Posteriormente, ele cumpriu a profecia ao jogar Palpatine no poço da segunda Estrela da Morte, e se redimiu após a morte, se tornando um espectro da Força. Seu papel como o verdadeiro Escolhido é reafirmado em A Ascensão Skywalker, quando Anakin diz a Rey para "restaurar o equilíbrio, como eu fiz".

Todo mundo conhece Darth Vader, e sabe o que ele fez enquanto atuou como o martelo do Império Galático, mas só de ouvir falar, ninguém viu. Há apenas vislumbres em outras obras, como Rogue One, Star Wars: Rebels, games, e mais recentemente, a série do Obi-Wan Kenobi.

Séries e games, como Star Wars Jedi: Fallen Order, retratam Vader como Moby Dick: uma força da natureza imparável e destrutiva (Crédito: Reprodução/Respawn Entertainment/Electronic Arts/Lucasfilm/Disney)

Séries e games, como Star Wars Jedi: Fallen Order, retratam Vader como Moby Dick: uma força da natureza imparável e destrutiva (Crédito: Reprodução/Respawn Entertainment/Electronic Arts/Lucasfilm/Disney)

Isso é explicado pelo fato de Vader ser uma figura poderosa para a franquia Star Wars, a maior delas, mesmo sendo um vilão. O público identifica e se relaciona com seu medo e raiva contida, que o levaram a tomar decisões ruins na vida, apenas para tudo explodir na sua cara (literalmente).

De certa forma, a Lucasfilm evita usar Darth Vader extensivamente em suas obras, preferindo contar outras histórias (a galáxia é bem grande, afinal) e não diluir sua imagem, de modo a não comprometer o poder do personagem na mídia. Uma série televisiva própria(estou usando TV porque é mais fácil, eu sei que o Disney+ é streaming e você pode assistir no seu celular ou tablet, mas eu concordo com Kevin Feige)? Beira a heresia.

Esse comportamento é semelhante ao tratamento dado pela Warner por anos à Trindade da DC, impedindo a todo custo que Superman, Batman e Mulher-Maravilha aparecessem em obras na TV. Hoje o azulão tem série própria, mas o morcego ainda é off-limits.

HQs da Marvel mostram o caminho

Por outro lado, Darth Vader já tem sua série própria, nos quadrinhos canônicos da Marvel Comics. Darth Vader teve 2 volumes publicados entre 2015 e 2019, e a série mais recente, Star Wars: Darth Vader, está em curso desde 2020.

Darth Vader Vol. 1 e SW: DV cobrem acontecimentos ocorridos nas lacunas de tempo entre os filmes da trilogia clássica, assim como os gibis da série Star Wars. Já Darth Vader Vol. 2 (conhecida como Star Wars: Darth Vader — Dark Lord of the Sith) ilustra o que aconteceu imediatamente após A Vingança dos Sith.

"Tudo pelo qual estou cercado é medo. E homens mortos." Esta frase, dita em Star Wars: A Queda de Vader (fora de catálogo), se tornou célebre (Crédito: Reprodução/Marvel Comics/Disney)

"Tudo pelo qual estou cercado é medo. E homens mortos." Esta frase, dita em Star Wars: A Queda de Vader (fora de catálogo), se tornou célebre (Crédito: Reprodução/Marvel Comics/Disney)

Isso inclui como ele construiu seu icônico sabre de luz, e referências oficiais de como o imperador foi o responsável por sua concepção miraculosa, tornando os Palpatine e os Skywalker, incluindo Rey, uma única família.

A maioria dessas publicações estão em catálogo, e algumas foram publicadas no Brasil pela Panini.

As HQs da Marvel preenchem uma série de situações e tampam alguns buracos, bem como introduziram uma série de novos e carismáticos personagens, alguns deles tendo migrado para a telinha. Krrsantan, por exemplo, o wookie de pelagem escura visto em O Livro de Boba Fett, surgiu pela primeira vez em Star Wars #15, one-shot publicada em 2016 passada durante o exílio de Obi-Wan em Tatooine.

Outra personagem que fez sucesso foi Chelli Lona Aphra, uma arqueóloga recrutada por Darth Vader para fazer trabalhos sujos diversos em seu nome, e que posteriormente se tornou uma contrabandista e caçadora de recompensas, durante a fase final do Império.

A Doutora Aphra fez tanto sucesso entre os leitores das HQs de Darth Vader, que ela acabou ganhando um gibi próprio já em 2016; o segundo volume, publicado atualmente, começou em 2020. E ninguém duvida que ela dará o óbvio salto para o Disney+ ou mesmo para a tela grande em algum momento.

Em algum momento, Doutora Aphra vai aparecer no cinema e/ou TV. É inevitável (Crédito: Reprodução/Marvel Comics/Disney)

Em algum momento, Doutora Aphra vai aparecer no cinema e/ou TV. É inevitável (Crédito: Reprodução/Marvel Comics/Disney)

Os quadrinhos podem servir como uma linha-guia para novas histórias protagonizadas por Darth Vader, ainda mais se lembrarmos que o roteirista Charles Soule, responsável por várias HQs de Star Wars, incluindo Star Wars: Darth Vader — Dark Lord of the Sith, também conhecido como o homem que matou Wolverine, é hoje consultor criativo da Lucasfilm.

Sobre mostrar o que não é necessário

Quando o Disney+ anunciou que Obi-Wan Kenobi se passaria durante o período em que o Jedi esteve isolado em Tatooine, de olho em Luke à distância, eu fui dos que não acreditou na obra, por pensar que nada poderia ser tirado dali.

Eu achava mais frutífero explorar o período em que ele foi o Padawan de Qui-Gon Jinn, para contar como ele conheceu seu único e eterno crush, a duquesa Satine Kryze de Mandalore, cuja irmã Bo-Katan pulou de Clone Wars e Rebels para The Mandalorian, ainda interpretada por Katee "Starbuck" Sackhoff.

Como todo mundo, eu mordi a língua. Obi-Wan não só foi um show ótimo, como nos deu a mini-Leia Vivien Lyra Blair, a coisa mais fofa da galáxia. E Moses Ingram estava terrivelmente sensacional como Reva, a Terceira Irmã dos Inquisidores.

O Livro de Boba Fett mostrou que um vilão tradicional pode carregar uma série nas costas, embora para isso ele tenha sido transformado em um anti-herói, na mesma linha do Adão Negro ou  do Namor, o Príncipe Submarino.

Isso é algo que não funciona com Darth Vader. Ele é um vilão, é mau, sádico e impiedoso. É a personificação da crueldade do Estado, o aríete de um governo ditatorial contra todos que agem ou pensam diferente da norma estabelecida. Mais importante, nós sabemos que ele só terá seu momento de redenção em O Retorno de Jedi, e morrerá imediatamente depois disso.

Para uma série centrada em Vader para o Disney+, é preciso decidir como abordá-lo e estabelecer o que ele pode e não pode fazer, o que é possível, dadas as séries mais recentes de Star Wars. O problema é decidir se isso é necessário, pois é igualmente importante pensar sobre o que não deve ser mostrado.

Um bom autor sabe quando terminar sua história, e o espectador/leitor fica livre para preencher as lacunas. O primeiro Matrix é perfeito se você o tratar como um filme fechado nele mesmo, mas por exigência do público (e pressão da Warner), Reloaded e Revolutions foram criados para dar respostas óbvias, e como resultado, muita gente não gostou. Já Matrix Resurrections é outra história.

A aura de poder de Darth Vader está estabelecida sobre que se sabe sobre ele, mesmo que isso nunca tenha sido mostrado. Ele é o bicho-papão da galáxia, poderoso e temido exatamente porque as pessoas criam histórias sobre ele em suas cabeças. O poder do mito vem daí, do que acham saber, e não do que viram.

Pode ser que um dia Darth Vader tenha de fato uma série própria no Disney+, ou talvez a Lucasfilm decida que ele não precisa de uma, com as HQs sendo mais que suficientes. De qualquer forma, uma coisa é certa: se ela for lançada, muita gente vai reclamar, independente da qualidade do material.

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