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Brimstone, um míssil que é basicamente a Ex-Esposa

Brimstone é um míssil britânico que está sendo usado na Ucrânia. Ele já passou das armas inteligentes, é arma CDF!

2 anos atrás

Brimstone é mais uma das armas que o Ocidente está mandando para a Ucrânia, e já passou do campo das armas inteligentes, ele está em uma categoria própria, para tristeza de Vladmir Putin.

Sea Spear, versão naval do Brimstone (Crédito: MBDA)

Existem vários tipos de armas que desenvolvemos para matar os coleguinhas. Artilharia, ou o chamado fogo indireto depende de habilidade e matemática, uma flecha lançada para o alto, uma bala de canhão seguirão uma trajetória parabólica definida por uma equação de segundo grau, sim, aquela que você tinha certeza que não servia para nada.

Claro, há uma penca de outros fatores envolvidos, se você colocar um canhão em determinado ângulo e disparar cinco vezes, os cinco projéteis cairão em lugares diferentes, em um padrão de dispersão aparentemente aleatório.

Um Brimstone em um Tornado da RAF (Crédito: RAF)

Para atingir alvos com precisão você precisa considerar umidade do ar, temperatura ambiente, temperatura do cano do canhão, quantos tiros ele já deu em sua vida, idade e quantidade de propelente, rotação da Terra e mais dezenas de outros fatores, por isso o ENIAC, o primeiro computador digital de uso geral foi desenvolvido para calcular tabelas de tiro, mastigando esses números e produzindo guias para cada cenário.

Assim como foguetes e bombas aéreas, esse tipo de munição é “burra”, ela não controla sua trajetória, depende de cálculos para ser lançada, e erros vão se acumulando, tornando-a menos precisa.

A necessidade de fazer cabum com mais precisão criou a geração de munições guiadas. Bombas e mísseis podiam ser direcionados por lasers, que marcavam o alvo. Claro, isso exigia que um avião, helicóptero ou um peão de Operações Especiais estivesse na vizinhança, apontando o laser até a bomba cair.

Alvos em movimento podiam ser um problema, a capacidade de manobra das bombas era limitada.

Uma alternativa foram as bombas guiadas por GPS, usualmente empregadas para destruir prédios, depósitos de combustível e outras estruturas que em geral não se movem. Essas bombas independem de controle externo, mísseis de cruzeiro usam os mesmos princípios. Já podem ser consideradas armas inteligentes, mas e o Brimstone?

O Brimstone pode ser descrito com as palavras de Justin Hammer, em Iron Man 2:

Com a diferença que o Brimstone funciona (Crédito: Marvel / Disney)

Estes são os Cubanos, Baby. Estes são os Cohibas, os Montecristos. Este é um veículo de de morte cinética com uma explosão secundária de ciclotrimetilenetrinitamina DX. É capaz de explodir o bunker sob o bunker que você acabou de explodir. Se fosse mais inteligente, escreveria um livro. Um livro que faria Ulisses parecer ter sido escrito em giz de cera. E ele leria para você. Esta é a minha Torre Eiffel. Este é a minha Terceira de Rachmaninoff. Minha Pietá. É completamente elegante. É incrivelmente lindo. E é capaz de reduzir a população de qualquer estrutura permanente a zero. Eu o chamo de Ex-Esposa.

Os ucranianos estão usando vários sistemas anti-tanque contra os russos, incluindo munição de artilharia guiada por laser e GPS. Sim, você dispara de um canhão, e chegando na proximidade o projétil se alinha com o alvo, mas o Brimstone é superior até ao Javelin.

O Javelin é um míssil de curto alcance, que exige que o operador identifique o alvo, o que o deixa vulnerável. Já de um drone ou helicóptero, a doutrina da OTAN é usar mísseis como o Hellfire, guiado por laser. Isso tem a desvantagem de exigir que o helicóptero fique parado até o míssil atingir o alvo, e também limita a quantidade de mísseis simultâneos.

O Brimstone foi pensado para não ter nenhuma dessas limitações.

Ele pode ser lançado do ar, de aviões ou helicópteros, de terra ou do mar.

Ele tem um alcance de até 60 km, se lançado de um avião, 40 km de helicóptero ou de terra. Mas alcance não é sua única vantagem. Ele pode usar um designador laser, para alvos específicos, caso seja desejado priorizar um veículo em particular, como um blindado de comando, mas a beleza do Brimstone é que você não precisa designar um alvo pra ele.

O bicho é esperto o suficiente para ser lançado na direção-geral de uma formação de blindados inimigos. Ele usa um radar de onda milimétrica de 94GHz para escanear o terreno à sua frente, atrás de alvos.

Comparando os resultados com uma biblioteca interna, ele diferencia um tanque de um fusca (e ataca o fusca, morte aos fuscas), um blindado de um HUMVEE. Seu cérebro eletrônico prioriza os veículos pesados, e os ataca com uma ogiva de carga moldada de 6,3 kg, mas ao contrário da do Javelin, ela é pensada para enfrentar a blindagem reativa dos tanques russos.

Normalmente a blindagem reativa é uma carga explosiva que detona, desviando a onda de pressão da carga moldada. No caso do Brimstone, ele tem uma carga primária de 100g de explosivo que aciona a blindagem reativa. Pentelhonésimos de segundos depois, a carga secundária é acionada, e um fluxo de Cobre vaporizado abre caminho por dezenas de cm de blindagem, transformando o interior do tanque em uma AirFryer do Inferno.

OK, até aqui o Brimstone é um bom míssil, mas isso é só o começo.

Ele foi projetado para enfrentar hordas de tanques russos, o Brimstone é lançado em salvas, o próprio míssil vem com um lançador triplo. Assim que decola, ele começa a se comunicar com os outros mísseis do cardume, ou seja lá qual for o coletivo de mísseis.

Os Brimstones começam a trocar dados dos radares individuais, dos alvos detectados e da prioridade de cada um. Os mísseis então decidem quem vai atingir qual alvo, para que nenhum deles seja alvejado por mais mísseis que o necessário. Caso o míssil não encontre um alvo, ele se autodestrói, para evitar danos colaterais e não dar chance ao inimigo de colocar as mãos em seu hardware top-secret.

Às vezes falha. Brimstone defeituoso achado por forças russas na Ucrânia (Crédito: reprodução Internet)

Isso funciona com até 24 mísseis Brimstone simultaneamente.

O Brimstone começou como um requerimento em 1982 para substituir uma bomba de fragmentação, depois virou um upgrade no Hellfire, e acabou se tornando um projeto totalmente novo. Em 1996 a GEC-Marconi ganhou a concorrência, e em 1999 foram disparados os três primeiros Brimstones simultaneamente.

Em 2019 foi lançado o Brimstone 3, a variante mais moderna, adaptada para ser lançada de veículos terrestres. Em 2022, depois do governo britânico decidir suprir a Ucrânia com Brimstones, foi desenvolvido em tempo recorde uma estrutura para lançamento sem a necessidade de um veículo especializado.

https://youtu.be/zb0916_QEYU

Brimstone sendo testado na Ucrânia com o novo lançador terrestre.

É, basicamente, um caminhão civil, igual a milhares de outros, mas que carrega vários mísseis Brimstone, podendo estar pronto para lançar em meros minutos.

Combine isso as informações de alvos passadas por drones, e é game over, Ivan, game over.

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