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Steel Assault e os Dias de um Futuro Esquecido

Inspirado em diversos jogos que fizeram sucesso nas décadas de 80 e 90, Steel Assault traz um alto nível de dificuldade e uma jogabilidade estilo arcade

2 anos atrás

Distribuição digital, partidas através da internet, conquistas, uma maior oferta de jogos com localização no nosso idioma... Hoje vivemos uma época sensacional para quem gosta de videogames, mas de todas as tendências que tomaram a indústria, aquela que mais me agrada é a ascensão dos indies. Graças a isso vimos o nascimento de muitos jogos que provavelmente não teriam espaço nos grandes estúdios e entre eles podemos citar o Steel Assault.

Steel Assault

Crédito: Divulgação/Zenovia Interactive

Nascido do desejo de Sri Kankanahalli e Daniel Garcia de criarem um jogo, o projeto saiu das pranchetas em 2015, quando a dupla recorreu a outra facilidade dos dias atuais: o financiamento coletivo. Então, após uma campanha em que pediam apenas US$ 8 mil, eles atingiram o objetivo e se debruçaram no desenvolvimento.

Planejado como um jogo com uma estética 8 bits, Steel Assault seria um jogo de plataforma inspirado e, títulos que fizeram sucesso nas décadas de 80 e 90, principalmente naqueles lançados para fliperamas. Isso significava um alto nível de dificuldade, além de uma ação frenética e uma jogabilidade que exigiria muito reflexo.

Porém, conforme novos artistas foram entrando para a equipe e com alguns deles tendo experiência na criação de jogos para o Game Boy Advance e Nintendo DS, o projeto naturalmente começou a ganhar outra aparência. O estúdio até se refere ao jogo como tendo um “estilo retrô 16 bits”, mas a semelhança seria muito mais com as das criações para os portáteis da Nintendo.

Mas independentemente da influência visual que o Steel Assault recebeu, esta mudança de estilo resultou em dois problemas: o primeiro foi o adiamento no seu lançamento, que estava previsto inicialmente para acontecer em 2016; já o segundo pode ser considerado ainda mais importante, pois afeta diretamente a experiência.

Isso porque ao se valer da boa e velha pixelart, graficamente o jogo nos entrega um alto nível de detalhes, com os personagens e cenários sendo bastante coloridos, fazendo com que seja fácil ficarmos perdidos entre tantas coisas sendo mostradas ao mesmo tempo. Isso se torna ainda pior em algumas partes, devido a não haver uma clara diferenciação entre o que faz parte do fundo do cenário e o que são plataformas onde podemos pisar.

Mesmo assim, tenho que elogiar o belo trabalho feito na direção artística. Mesmo contando com apenas cinco fases, elas são bem variadas e conseguem passar uma boa ideia de como seria estar num futuro pós-apocalíptico. Destaque também para os chefes, que ocupam boa parte da tela e que como nos antigos arcades, conseguem causar medo pela sua imponência.

Crédito: Divulgação/Zenovia Interactive

Um chicote elétrico e uma tirolesa

Embora tenha buscado inspiração em diversos jogos de plataforma antigos, como Metal Slug, Strider, Alien Soldier e Gunstar Heroes, as maiores influências ao Steel Assault claramente foram as séries Castlevania e Contra. Da primeira veio a forma de ataque do protagonista, que utiliza uma espécie de chicote elétrico que pode ser desferido em oito direções. Já a franquia que nos colocava para enfrentar uma ameaça alienígena se faz presente nos muitos tiros que voarão pela tela, assim como nos inimigos que avançarão de maneira suicida em nossa direção.

Nos permitindo ainda executar um pulo duplo, um deslizamento que nos tornará temporariamente invencíveis ou nos abaixar para desviar dos ataques, tudo isso poderia fazer com que o jogo não passasse de uma repetição do que temos visto no gênero ao longo dos anos, mas aí ele nos apresenta a uma interessante novidade, que é a tirolesa.

Também podendo ser disparado vertical, horizontal ou diagonalmente, esse gancho será de extrema ajuda para alcançarmos lugares aparentemente inacessíveis, escaparmos de ataques ou evitarmos certas armadilhas. Já contra chefes ele será parte fundamental do confronto, tornando-se praticamente impossível vencê-los sem o uso adequado da ferramenta.

Adicionando uma pitada extra de estratégia à jogabilidade, a utilização da tirolesa parecerá um tanto complicada e até desajustada no início, mas assim que a dominarmos percebermos como algo tão simples pode tornar a experiência mais divertida. O único problema é que teremos que pensar rápido antes de a dispararmos, tendo que cuidar ainda com a necessidade de ela atingir dois pontos de contato para ficar presa.

O maior exemplo disso acontece num estágio em que a tela se move verticalmente sozinha, com uma piscina de ácido aumentando conforme progredimos. Com diversas plataformas espalhadas pelo lugar, teremos que escolher sabiamente onde prender os ganchos, além de desviar dos ataques inimigos e nos preocuparmos em não cair no líquido mortal.

Aliás, ter que repetir alguns trechos do Steel Assault é algo que se tornará comum, já que o nível de dificuldade apresentado é bem alto. Além disso, o jogo se escora bastante na ideia de tentativa e erro, fazendo com que decorar alguns padrões (especialmente nos chefes) seja fundamental para termos sucesso.

O que ameniza um pouco a sensação de frustração é a oferta ilimitada de continues e os vários checkpoints espalhados pelas fases. Porém, caso você queira um verdadeiro desafio, poderá encarar o modo arcade, onde terá apenas uma vida para atravessar toda a campanha.

Steel Assault

Crédito: Divulgação/Zenovia Interactive

Curto e com pouco conteúdo

Assim como era comum em muitos jogos para fliperamas, Steel Assault nunca se preocupa muito em nos entregar uma história muito complexa. Aqui o enredo servirá apenas como uma desculpa para enfrentarmos os vários inimigos que se colocarão no nosso caminho e segundo ele, tudo começou no final da década de 2030, quando ataques nucleares dizimaram os Estados Unidos. Deste cenário surge Magnus Pierce, um inventor e roboticista que aproveita seu conhecimento para criar um exército de máquinas para assim controlar o país.

E foi para tentar derrubar o déspota que algumas pessoas criaram o Daybreak Resistance, grupo do qual faz parte o personagem que controlaremos, Taro Takahashi. Durante o jogo veremos o protagonista trocando mensagens com outras pessoas, mas nada que chegue a prender muito a nossa atenção. No fim, só desejaremos partir para testar nossas habilidades e derrotar o grande vilão.

Outro elemento que parece ter vindo direto dos arcades é o fato do jogo não ter uma grande duração. Mesmo se precisarmos repetir algumas partes por diversas vezes, é possível terminar sua campanha em cerca de uma hora. Para os dias atuais, esta pode ser considerada uma grande falha por alguns, mas devido a intensidade com que tudo acontece, acredito que o tempo é bem aproveitado.

Se considerarmos ainda os títulos em que o Steel Assault foi inspirado, veremos que eles também não nos ofereciam muito mais do que isso. O que nos dava uma sensação de que os jogos eram maiores era a necessidade de os jogarmos inúmeras vezes até conseguirmos decorar seus desafios, algo que aqui é bastante amenizado pelos continues infinitos e checkpoints.

Porém, o que mais incomoda é não termos muita motivação para encararmos a aventura mais de uma vez. A inclusão de partidas multiplayer poderia ser uma maneira de nos fazer querer voltar à campanha, mas a verdade é que uma vez terminado, restará tentar fazer tudo novamente, mas perdendo menos vidas ou no quase impossível Modo Arcade.

Crédito: Divulgação/Zenovia Interactive

Um presente ao passado

Mesmo não sendo um jogo revolucionário, o simples fato de o Steel Assault existir já deveria ser motivo para comemorações. Hoje é fácil olharmos para ele e o consideramos (erroneamente) apenas outra tentativa de explorar a nostalgia de um público mais velho, mas se não fosse pelo espaço que os estúdios independentes conquistaram, jogos assim dificilmente teriam voltado a ser criados.

É muito legal ter a oportunidade de jogar em casa — ou em qualquer outro lugar, no caso da versão para o Switch — algo que nos encantava nos fliperamas e que poderia esvaziar nossos bolsos rapidamente. Some a isso a qualidade visual possível graças as máquinas atuais e se quando eu era moleque alguém me dissesse que um dia os videogames chegariam ao estágio atual, eu provavelmente não acreditaria.

Sim, porque ao mesmo tempo em que fico fascinado com a qualidade visual que os jogos alcançaram nos últimos anos, também adoro ter a oportunidade de conhecer títulos baseados em clássicos que me divertiam muito quando eu era bem mais novo. Esta é uma maneira de revisitar o passado e tentar imaginar o sucesso como algo assim poderia ter feito numa época tão distante e diferente.

Isso seria assunto para outra hora, mas jogos como o Steel Assault me fazem pensar na dificuldade que costumamos ter em perceber quando a história está sendo escrita. Sim, os nostálgicos que me perdoem (e me considero um), mas por toda a facilidade e variedade disponível, cada vez mais me convenço de que a verdadeira era de ouro dos videogames é a que estamos vivendo atualmente.

Steel Assault — Ficha Técnica

Plataformas Disponíveis: PC e Nintendo Switch;

Desenvolvedora: Zenovia Interactive;

Distribuidora: Tribute Games Inc;

Data de lançamento: 28/9/21.

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