Ronaldo Gogoni 4 anos atrás
Blazing Chrome é o terceiro game da JoyMasher, desenvolvedora brasileira especializada em títulos retrô que prestam homenagens a clássicos do passado. Enquanto Oniken era uma referência expandida a Ninja Gaiden (com uma pitada do quase desconhecido Kabuki: Quantum Fighter) e Odallus: The Dark Call pagava tributos à Castlevania e Ghosts 'n Goblins, este bebe da fonte da franquia Contra, um dos clássicos do gênero Run 'n Gun.
No entanto Blazing Chrome possui identidade própria, o que faz dele um dos melhores games do gênero em muito tempo, superando até os da própria Konami.
A história de Blazing Chrome segue velhos clichês: a humanidade está à beira da extinção, após a Terra ter sido dominada pelas máquinas. Você joga com os membros da resistência, que terão que gastar muito chumbo para despachar para o inferno hordas de robôs assassinos e monstros mutantes (se é baseado em Contra, é claro que há "aliens"), a fim de libertar o planeta da opressão.
Inicialmente apenas dois personagens são selecionáveis, a soldado Mavra e o robô reprogramado Doyle, em que ambos usam a jogabilidade clássica dos Run 'n Gun: correr, atirar e pegar novas armas. Com o tempo você libera mais dois, a soldado Suhaila e o ninja Raijin, que possuem um estilo de ataque de curto alcance, usando respectivamente um braço mecânico e uma espada, com acesso a itens de fortalecimento no lugar de armas.
Você começa o jogo escolhendo um personagem e uma fase dentre as quatro inicialmente disponíveis (o jogo tem seis ao todo), cada uma com um nível de dificuldade, o que já difere o jogo de um Contra típico: embora difícil a beça, ele não é sádico e não busca castigar o jogador... muito.
A JoyMasher costuma inserir suas próprias decisões de design em seus jogos, e em Blazing Chrome não é diferente. O jogo remete diretamente ao raro Contra: Hard Corps, título da Konami lançado em 1994 para Mega Drive e que só foi resgatado recentemente na coletânea Contra Anniversary Collection, mas diferente deste e outros games da desenvolvedora japonesa, não há um número limitado de continuações e se você morrer todas as vidas, volta para o último checkpoint.
Há outros elementos interessantes. Os personagens podem usar rolamentos para se mover rapidamente e Mavra e Doyle possuem uma espada laser de curtíssimo alcance, ótima para matar inimigos próximos ou causar dano adicional nos chefes.
Não vá pensando, entretanto que por pegar "leve" na punição que Blazing Chrome é fácil. Pelo contrário, o desafio é insano tal qual os títulos aos quais presta homenagem, há um sem número de armadilhas de cenário com inimigos estrategicamente posicionados após um salto difícil, capangas aparecendo em hordas a cada passo dado e os chefes, bem... boa parte deles não depende apenas de força bruta, é preciso botar a cabeça para funcionar e usar bem as armas, ou se posicionar no lugar certo para não morrer.
Mavra e Doyle possuem quatro slots para armas, que podem ser trocados (se você morrer, perde a especial que estava usando) e todos os personagens podem atirar/golpear em oito direções; há um botão que deve ser segurado para travar o personagem no lugar e atirar nas diagonais parado, evitando assim que ele ande e acabe morrendo de graça, algor também herdado de Hard Corps. No fim a jogabilidade é ágil e dinâmica, como um título de Arcade criado para comer fichas do jogador.
Na parte técnica, Blazing Chrome é um deleite nostálgico. A pixel art do jogo é bem próxima da vista em Contra III: The Alien Wars e você pode usar filtros adicionais, que adicionam as linhas de TVs antigas ou altere o formato da tela para deixa-la parecida com um monitor de Arcade, ou um que reduz os pixels e deixa os gráficos menos quadrados, aquele velho "smooth" dos emuladores.
Já o som é excelente, emulando limitações técnicas da época com vozes toscas e pouco definidas em alguns momentos, além de músicas que embora não sejam memóráveis, cosntroem muito bem o clima de um fim de semana em meados dos anos 90, quando passávamos uma tarde inteira se entupindo de salgadinhos e refrigerantes enquanto jogávamos tais games, morrendo mais do que avançando, claro.
Seu único ponto fraco é exatamente sua maior qualidade: Blazing Chrome é um jogo de nicho. Se você não for fã do gênero Run 'n Gun e de jogos como Contra, Metal Slug, Gunstar Heroes e similares, vai passar mais raiva do que se divertir graças à dificuldade alta. Mas se este não for o seu caso, vai fundo.
Blazing Chrome é sem dúvidas uma carta de amor à série Contra e ao gênero Run 'n Gun, mas caminha com as próprias pernas e traz ideias novas que desafiam algumas convenções do estilo. Mais do que uma sequência espiritual de Contra: Hard Corps, ele é o que os jogos da franquia deveriam ser se a Konami não tivesse perdido a mão ao longo dos anos.
Em comparação aos jogos recentes lançados pela própria desenvolvedora japonesa (contando com Hard Corps: Uprising, que era da Arc System Works), inclusive o futuro e duvidoso Contra: Rogue Corps, que à primeira vista não traz a bagagem de seus antecessores, Blazing Chrome é o melhor jogo do gênero em quase 25 anos.
Ou seja, onde os japoneses pisaram na bola, os brasileiros assumiram o manto e fizeram um excelente trabalho.