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Em defesa do sagrado direito de ser surpreendido

Quando será que as pessoas aprenderão que ao dar spoiler elas estão nos tirando o direito a sermos surpreendidos, algo que só pode acontecer uma vez?

5 anos atrás

É sempre a mesma história: basta um aguardado arrasa-quarteirões chegar ao cinema, um grande jogo ser lançado ou o novo episódio de uma série popular ser disponibilizado para nas horas seguintes as redes sociais estarem entupidas de spoilers. O caso mais recente foi o do Game of Thrones e se você ainda não assistiu o seu fim e conseguiu evitar que alguém estragasse a sua experiência, pode se considerar um sortudo.

Com uma grande quantidade de pessoas parecendo ter algum tipo de fetiche por espalhar pela internet detalhes daquilo que acabou de assistir, fugir desses comentários é algo quase impossível. Alguns se valem de filtros para bloquear palavras indesejadas, outros até procuram evitar as redes (meu caso), mas aquilo que todos deveriam fazer, que é ter um pingo de empatia, aparentemente não faz parte do manual de bons costumes de alguns.

Eu até consigo entender a ânsia dos fãs em compartilhar seus momentos preferidos (ou odiados) com os outros, compreendo a empolgação em debater eventos que os marcaram, mas será mesmo que em prol da sua satisfação pessoal eles precisam prejudicar a experiência daqueles que ainda não tiveram contato com a obra?

O que essas pessoas não percebem é que ao soltar um spoiler elas não estão apenas contando um segredinho, algo inofensivo, mas sim tirando dos outros uma coisa que nunca poderá ser recuperada, que é a oportunidade de sermos surpreendidos. É bem simples: durante toda a vida só teremos uma oportunidade de não estarmos preparados para uma reviravolta, uma única chance de uma história nos surpreender de maneira inesquecível.

Sim! Quando se trata de chocar o espectador, isso nunca poderá ser repetido. Sabe a reviravolta no final do Sexto Sentido? Você pode ver o filme inúmeras vezes, pois a sensação nunca será como na primeira. E a revelação de quem é o tão temido Keyser Söze, em Os Supeitos? O encontro entre Luke Skywalker e seu pai? Sempre muito emocionante, mas nunca como quando descobrimos inicialmente.

Então, qual direito alguém tem de nos roubar essas experiências? Porque ela pode ter a oportunidade de viver algo único e os demais que se danem? Será que ao contar livremente o que acontecerá numa obra essas pessoas não se dão conta de que parte da sua empolgação vem justamente de não terem te contado aquilo antes?

Tudo bem, em muitos casos o autor do spoiler nem percebe o estrago que pode estar causando, mas como disse anteriormente, existe todo um grupo de seres abomináveis que adoram fazer isso. Imagine por exemplo sair de uma sala de cinema e gritar a plenos pulmões o final do filme para quem estiver na fila aguardando a próxima sessão? É claro que ao fazer isso o sujeito corre o risco de se deparar com algum vingador, mas ainda assim muitas pessoas seriam afetadas.

Os próprios estúdios vem tentando educar o seu público, pedindo para não divulgarmos detalhes de suas criações e com tanto esforços por parte deles para que os segredos em torno das gravações e dos roteiros sejam mantidos, nada mais natural do que isso. Ok, do lado deles pode haver um interesse financeiro por trás, mas de qualquer forma é algo que pode acabar ajudando aqueles que odeiam dar de cara com um spoiler. Eu só não sei se essa mudança de hábito acontecerá.

Enquanto isso, do outro lado desta guerra infinita... Eu sei que existe muita gente que não se incomoda em receber spoilers, que até buscam essas informações aqui ou ali e que essa é uma prática antiga. Basta lembrarmos dos jornais e revistas de fofocas que contavam com áreas dedicadas em trazer o que aconteceria nas novelas durante a semana, mas o que esse pessoal não pode é achar que por os spoilers não os incomodar, estão liberados a espalhá-los por aí.

O que quero dizer é que da mesma maneira que qualquer um tem o direito de procurar detalhes sobre um enredo mesmo antes de consumir a obra, eu gostaria de manter o meu direito a ser surpreendido. Será que é pedir demais? Estaria exigindo muito ao desejar que as pessoas pensassem um pouco antes de publicar uma imagem reveladora no Facebook ou se revoltasse no Twitter porque um determinado personagem não assumiu o Trono de Ferro?

O pior de tudo é ver os argumentos de quem divulga spoilers irresponsavelmente. No geral eles acham que temos a obrigação de termos visto o filme ou série junto com eles, que a responsabilidade em evitar a situação é nossa ou simplesmente que tudo não passa de mimimi. Ou seja, talvez tudo não passe do que eu mencionei antes, a maldita falta de empatia e para isso só conheço um tipo de filtro: deixar de seguir e/ou bloquear.

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