Carlos Cardoso 12 anos atrás
Se os profissionais de assessoria de imprensa da HP forem espertos faturam milhões de dólares em espaço de mídia trabalhando a notícia, afinal não é todo dia que um produto some das prateleiras e tem uma espera de seis semanas, e dadas as características do HP Slate 500, ninguém duvidaria da afirmação da HP que a demanda surpreendeu a empresa, superando todas as projeções.
O Slate 500 é um tablet multitouch rodando Windows 7, com 32/64GB de armazenamento, 2GB de RAM, tela de 8.9 polegadas, 1200x600 pixels, processador Atom Z540 a 1.86GHz, WIFI, USB, Bluetooth, duas câmeras (uma VGA frontal e uma de 3 Megapixels na traseira) e muito mais capacidade que um iPad. O Slate é o netbook parrudo sem teclado, rivalizando até com os Macbooks Air Mini, ou seja lá como Jobs tenha chamado os minimacbooks dele.
Claro, se a notícia fosse só isso não seria notícia. Tablets sempre foram produtos rejeitados, o Slate teria algo que o diferenciasse a ponto de gerar essa demanda toda?
Não. O Slate faz concessões demais à idiotice humana para ser um produto vencedor. Pra começar, ele admite que o Windows é um sistema instável e inapropriado para pads. Como? Digamos que o Slate 500 tem um BOTÃO CLTR+ALT+DEL para resetar o Windows. Eles têm tão pouco controle sobre o próprio hardware que não conseguem colocar um botão de power que soprepuje o sistema operacional em caso de necessidade. Outra? Veja esta barbaridade:
Isso que você está vendo é uma bandejinha que o Slate tem para... colar adesivos. Sim, meus caros. Aquelas etiquetas de FCC, serial do produto, serial do Windows, etc, etc. Algum sujeito sem mãe achou que a saída elegante para não poluir a traseira do equipamento seria... projetar uma peça móvel, ocupar espaço interno e aumentar o número de coisas que vão quebrar e custarão dinheiro para substituir.
Qual a solução da Apple pra esses números obrigatórios?
Isso mesmo, dentro do software. Settings / General / About / Regulatory. Acabou.
Custando US$800,00 e tendo sido redirecionado para o mercado corporativo, a demanda extraordinária do Slate surpreendeu, até porque havia sido lançado mês passado. Estará a HP mentindo?
Não, claro que não, a demanda realmente foi acima das expectativas, os números absolutos é que não são tão impressionantes. Segundo o Engadget, a HP projetou uma produção de 5000 unidades. Não 5000/mês, mas 5000 no total. Os pedidos foram na casa de 9000, o que fez com que a linha de produção tivesse que ser remontada, isso leva tempo.
Isso mesmo. 5000 unidades. Não exatamente um iPad-Killer, visto que este teve 500 mil unidades vendidas na primeira semana, se serve de consolo pros fanboys do Slate (há algum?) ele teve um desempenho bem melhor do que o JooJoo, aquele tablet que surgiu como Crunchpad e no primeiro mês vendeu incríveis 64 unidades.
Então é FAIL?
Não necessariamente. O mercado corporativo é diferente, não dá para comparar números com o mercado de consumidor final. Hoje há uma demanda por números absurda, seja seguidores no Twitter, sejam vendas brutas. A própria Microsoft entrou nessa onda, com gente da empresa se gabando que o Kinect venderá mais unidades que o iPad. Qual a lógica de comparar produtos de faixas de preços diferentes com finalidades totalmente diferentes?
Eu acredito que o Slate seja um excelente tablet para o mercado corporativo, onde essas decisões surreais como bandeja de etiquetas não são vistas como... decisões surreais. Rodando Windows 7 ele aceita todos os esquisitos softwares de VPN e autenticação que empresas gostam de usar, e o gerenciamento de memória é bem mais robusto, não há chances de uma planilha gigantesca derrubar o sistema, como aconteceria em um iPad.
O erro aqui é dos próprios usuários, que caçam novidades e Killers sem se preocupar com o público-alvo dos produtos, esquecendo que em termos de gadgets não existe isso de um modelo atende a todos.