Carlos Cardoso 5 anos atrás
A Guerra Fria deixou o mundo várias vezes à beira da destruição. As crianças que ficam com medinho dos testes de mísseis do Grande Líder na Melhor Coréia não têm idéia do que foi assistir O Dia Seguinte sabendo que era muito mais um documentário futuro do que um filme de ficção.
A idéia de mísseis balísticos intercontinentais despejando múltiplas ogivas multimegaton sobre as maiores cidades americanas/russas gerou várias soluções desesperadas, e talvez a maior delas seja o sistema de defesa nuclear que usava… armas nucleares.
É a mais extrema tentativa de combater fogo com fogo. Digamos assim: é muito mais fácil matar uma mosca com um mata-mosca de 1 metro quadrado do que com um do tamanho de uma mosca.
E esse era o problema: é muito complicado atingir um ICBM, é o equivalente a acertar uma bala com outra bala, mas as balas estão se movendo várias vezes mais rápido do que balas. Bala.
Russos e americanos perceberam que a solução mais prática era compensar a falta de precisão com uma explosão maior. Por isso até hoje em volta de Moscou e outras cidades russas temos baterias deste brinquedo aqui:
É o ABM-3 Gorgon, ele leva uma ogiva de 10 quilotons de encontro ao veículo de reentrada inimigo. É basicamente uma Hiroshima explodindo sobre a cidade, tentando evitar uma explosão bem maior.
A versão americana era o Sprint, um míssil que faria qualquer foguete convencional se sentir um segundo piloto da Ferrari.
O Sprint era o desespero do desespero, seria acionado caso os mísseis antibalísticos de longo alcance não tivessem conseguido destruir as ogivas russas. O inimigo seria rastreado pelo radar a uns 60 km de altitude, se movendo a 8 km/s. Toda a ação do Sprint duraria 15 segundos.
Com um teto de 30 km e distância máxima de 40 km, ele não tinha muita margem de manobra. O que compensava com velocidade. Em 5 segundos ele já estava voando a Mach 10. Sua aceleração era de 100 G, e o primeiro estágio era consumido em 1,2 segundo.
Atingindo mais de 12.250 km/h o Sprint esquentava tanto que usava uma cobertura especial termorresistente, e mesmo assim ficava branco com o calor. Veja o lançamento, e não, a segunda parte não está acelerada. É a velocidade normal dele.
Aqui outro teste:
O Sprint acabou sendo abandonado por causa disto:
O nome é MIRV — Multiple independently targetable reentry vehicle. Em vez de uma ogiva por míssil, chegaram a colocar dez, cada uma com capacidade de manobrar e atingir um alvo diferente. Um único míssil poderia atingir Rio e São Paulo.
E você precisaria de 10 Sprints para se defender de um único míssil, isso assumindo uma eficácia de 100%, o que é impossível, e só um desses chegando ao chão estraga o seu dia.
No final das contas o que salvou o mundo, fora o Magneto em Cuba, foi algo chamado MAD — Destruição Mútua Assegurada. É mais ou menos como quando você não briga no recreio pois sabe que o inspetor está vendo e os dois vão ser suspensos.
Com cada um dos lados tendo mísseis suficientes para destruir o outro dez vezes, qualquer ataque seria final e devastador para ambos os lados, e o bom-senso prevaleceu, mas por pouco.
Agora sorria e lembre-se que fora Coréia do Norte, Índia e Paquistão em breve vários outros países pequenos e instáveis terão acesso a armas nucleares, sejam próprias, sejam contrabandeadas.