Carlos Cardoso 8 anos atrás
Hoje um desocupado chamado Doug Hughes pousou com um autogiro no jardim do Capitólio. Ele vinha planejando isso faz tempo, em 2013 chegou a ser entrevistado pelo FBI depois que alguém avisou que ele planejava… pousar com um autogiro no jardim do Capitólio.
Doug, apesar de meio lelé da cuca, não é nenhum terrorista. Ele queria entregar cartas a congressistas pedindo reforma nas leis que regem o financiamento de campanhas. Ele conseguiu, se por conseguiu você entende ser preso e empurrar a mídia em horas de discussões sobre aumentar o armamento para proteger Washington de ameaças aéreas. Veja, é divertido:
http://www.youtube.com/watch?v=8R8xsRSZZpgDJ VAN — Florida mailman lands gyrocopter on U S Capitol lawn in political stunt Mashable
A façanha é uma versão homeopática do vôo de Mathias Rust, que em 1987 com 19 anos roubou um Cessna perto de Hamburgo, foi pra Islândia, depois Suécia, Finlândia e então invadiu o espaço aéreo soviético. Voou por milhares de quilômetros, pousou no centro de Moscou e só duas horas depois foi preso. O mais incrível: o pouso foi filmado por um turista.
DW (English) — Kremlin Caper: Mathias Rust's Landing on Red Square | People & Politics
A diferença é que os jornalistas da época, competentes, apuraram o modelo do avião. No mundo de estagiários do G1 de hoje, onde o importante é postar qualquer porcaria pra ganhar cliques e profissionais qualificados são caros demais, um monte de sites identificou a aeronave de Washington como um… helicóptero. Normal, em um mundo onde uma matéria sobre empresas americanas de aviação é ilustrada com um Airbus da Iberia.
“ah mas são parecidos”
São, então não há problema de chamar golfinho de peixe, né?
Autogiros foram criados bem antes dos helicópteros, e a única coisa em comum com eles é que não possuem hélices. Isso mesmo, aquilo no alto dos helicópteros são ROTORES, compostos de pás, por isso são chamados de aeronaves de asas rotativas.
O rotor é essencialmente uma asa, que ao girar gera sustentação, segundo o bom e velho Bernoulli. Isso gera um efeito de torque, onde por causa do maldito Newton o helicóptero gira no sentido oposto da hélice. Por isso há o rotor traseiro, contrabalançando o giro. Veja o que acontece quando você perde (literalmente) o rotor de cauda:
Click it ➜ Helicopter Loses Tail Rotor and Crashes
Se isso acontece perto do chão, você morre, mas se tiver altitude suficiente, o procedimento é colocar o aparelho em autorotação. Você “desengrena” o rotor, deixando-o girar livremente. isso mata a rotação induzida, pois não há mais torque aplicado. A inércia do rotor, junto com o fluxo de ar mantém a hélice girando, e você consegue descer em segurança.
Isso é treinado por todo piloto de helicóptero, como procedimento de emergência. Em um autogiro é o funcionamento normal.
Em um autogiro o rotor não está ligado ao motor. A hélice traseira (eu menti, autogiros têm hélice) ou dianteira, dependendo do modelo, fornece propulsão horizontal. O deslocamento do autogiro no ar faz o rotor girar, gerando sustentação e movimento vertical. Por isso autogiros não podem pairar. A não ser que peguem um belo vento de proa.
Mesmo assim devo dizer que podem ser bem divertidos:
Shawn Adams — Ultra light Autogyro / Gyrocopter
Agora você já sabe mais sobre autogiros do que estagiários de um monte de sites de notícias.
MeioBit também é cultura aeronáutica.