Meio Bit » Arquivo » Hardware » HP Inkology — Uma aula de impressora e tintas com o Doc Brown

HP Inkology — Uma aula de impressora e tintas com o Doc Brown

HP Inkology — Uma aula de impressora e tintas com o Doc Brown — Um breve relato de um evento onde conhecemos mais sobre a tecnologia por trás das tintas e impressoras da HP. Em resumo, é nanotecnologia de ficção científica a preço de banana, mas uma banana em órbita, que custa US$ 10.000/kg. Para uns é justificado, para outros não mas todo mundo está trabalhando para reverter isso, inclusive a HP, que sabe que não adianta vender banana caro demais se com isso os macacos morrem de fome. (ok, não foi a melhor das minhas analogias)

10 anos atrás

docbrown

Disclaimer: Thom Brown não é um médico de verdade, só faz um na televisão.

Semana passada viajei a convite da HP para participar do Inkology 2014, um evento onde apresentam um lado de sua tecnologia que a maioria de nós, por implicância ou preguiça não dá muita atenção, a pesquisa e desenvolvimento por trás de algo “simples” como uma impressora.

Thom Brown, pesquisador e evangelista de tintas da HP viaja o mundo fazendo essas demonstrações, e é uma figuraça, além de ter liberação de segurança Level 9, o que significa que ele sabe o que aconteceu com o Agente Coulson no Taiti.

Quem tem menos de 20 anos não lembra, mas antigamente impressoras coloridas eram um luxo. Houve uma época em que basicamente não existiam no mercado doméstico, e o sonho de consumo de todo mundo era a Elgin Lady Nojenta. Ou a Epson LX-810, impressoras matriciais que serviam para texto e olhe lá. Um belo dia surgiram as jatos de tinta, uma das primeiras, no final dos Anos 80 foi a HP Deskjet 500, que custava uma baba e imprimia a 300 DPI. A versão colorida, a 500c, levava quatro minutos pra imprimir uma página.

Hoje eu tenho a HP mais vag-digo econômica e simples possível. Violei minha regra de não ter impressora pois precisei produzir um material, saí e comprei a mais barata do mercado, uma Deskjet 1000. Paguei a incrível quantia de R$ 120,00. Recebi um brinquedo que faz 16 páginas por minuto em preto-e-branco, 12 páginas por minuto em cor e resolução de 4800×1200 DPI. Imprimi uma foto, escolhida aleatoriamente, só de teste:

imagemaleatoria

Clique para engrandalhecer

Isso é uma foto feita com a impressora mais barata que consegui achar. Note, não estou dizendo que a Deskjet 1000 é maravilhosa, ela é uma impressora entry-level, que provavelmente está na média de sua categoria, resultados similares devem ser obtidos com outros modelos de outros fabricantes. O que impressiona (desculpem o trocadilho) é que o que custava uma fortuna e era inacessível anos atrás hoje é o absoluto padrão mínimo. Então, como essa mágica acontece?

A mágica acontece em um nível quase atômico. Forças como eletrostática e Van der Walls se fazem presente, estamos falando de manipulação de tinta em porções de picolitros. Cada cabeça de impressão tem milhares de pequenas biqueiras, com 1/3 da espessura de um cabelo humano. Cada biqueira dessas é individualmente controlada pelo firmware da impressora. Nelas uma reação infernalmente rápida e explosiva ocorre.

Figure5_6

Biqueira de uma jato de tinta. O orifício tem uns 30 micra. São precisos 1.000 micra pra chegar a 1 mm. Nota: não é uma da HP mas a tecnologia é semelhante.

Uma vez a cada 1/36.000 de segundo uma porção de tinta é sugada para dentro de uma câmara dentro do chip que é a cabeça de impressão. Eletrodos aquecem a tinta a 300 graus Celsius. Parte dela evapora, gerando uma expansão que propele a tinta remanescente a 50 km/h. Isso adiciona momentum suficiente para que a gota não seja afetada por correntes de ar, vibrações ou mesmo gravidade, enquanto percorre o longo caminho até o papel.

Longo mesmo. É o equivalente a uma moeda caindo de um prédio de 30 andares e acertando uma área do tamanho de um balde. Essa precisão é necessária pois estamos trabalhando na área de subpixels. Cada um desses pontos é usado para formar pontos maiores, que por sua vez se traduzem em pixels. Boa parte da mistura de cores ocorre em nosso cérebro, por sermos incapazes de perceber dois pontos muito próximos com cores diferentes. Uma ampliação de uma impressão dessas fica assim:

subpixel

A boa e velha combinação amarelo, magenta, ciano e preto. Aí entram os problemas.

Você precisa que sua tinta seja fluída o bastante para migrar para a biqueira por capilaridade, mas que não seja diluída demais, ou a gravidade a puxará e ela acabará caindo sozinha. Ela precisa evaporar na proporção certa, do contrário não será expelida uma gota do tamanho correto, na velocidade correta, e corre o risco de ser desperdiçada, caso evapore demais.

Aí ela precisa se espalhar no papel na proporção certa, se combinar com os outros pigmentos e secar em frações de segundos. Isso em um espaço de tempo praticamente inexistente.

A maior parte da pesquisa da HP está nessa área, e faz sentido que esteja.

“Ah, mas a tinta é cara”

Sim, com certeza. Em 2006 1 L de tinta de impressora custava R$ 6 mil. Foi nessa época que abandonei a cor e migrei pras Lasers. Continuo achando a tinta muito cara, mas conversando com o Tom, percebi que isso é fruto não só do preço, que é caro mesmo, mas também de outro fator: as impressoras ficaram muito baratas.

Eu ainda não vi quanto sairá para repor os cartuchos da minha Deskjet 1000 (para você ter idéia do quão pouco uso) mas não duvido que saiam mais caro que a impressora. Se ela tivesse custado R$ 500,00 eu não acharia o cartucho tão caro. Imagine então quem compra uma Canon de inacreditáveis R$ 40,00 que achei no BoaDica.

Os fabricantes tentaram repetir no mundo das impressoras o modelo da Gilette, que vendia barato, e até dava o barbeador, mas cobrava pelas lâminas, mas acabaram se perdendo. Competindo entre si produziram hardware excelente, com preço cada vez mais competitivo, e empurraram para os insumos a obrigação de gerar lucro. No mundo corporativo até funciona, mas no mercado doméstico, não deu certo.

A HP repete o mantra de que cartuchos remanufaturados são imprevisíveis, que não podem garantir a qualidade com tinta Made in China, e que 1/3 dos cartuchos piratas sequer funcionam. Eu acredito e concordo com todos esses pontos, mas para o usuário final, não importa. A qualidade — excelente — das impressões de hoje, mesmo em equipamentos entry-level está muito além do que o usuário normal exige.

Quando a boleira da rua está imprimindo uma foto do Cléverson Carlos em papel de arroz, não se importa muito se a impressão sairá perfeita. Quando a pequena Keylane está imprimindo o trabalho de escola não vai ser uma linha amarela vertical, culpa de uma biqueira defeituosa em um cartucho reciclado 10 vezes que vai diminuir a nota dela.

Um escritório de design, gente que faz apresentações, fotos da Luciana Vendramini? POR FAVOR, essencial que sejam cartuchos originais, papel de qualidade e uma mesa firme — já vi gente chamando manutenção pois a impressora estava com defeito. Era a mesa bamba.

E mesmo esses, fica a dica do Thom Brown: modo rascunho. Sempre. Imprima em Draft, só use modo final para… produto final. Eu acrescento que sempre que possível faça draft e grayscale, economize suas cores.

Agora a HP e provavelmente a concorrência estão saindo do mercado low end. O foco serão equipamentos melhores, mais rápidos, com mais recursos, eliminando a idéia de impressoras descartáveis. Um exemplo é a OfficeJet, que resenhamos aqui. Thom levou uma cabeça de impressão da danada para a gente dar uma olhada:

cabecao

São 42.240 biqueiras, pegando toda a largura do papel. Ela não se move, tal qual uma laser, só o papel se mexe. Isso dá muito mais precisão, evita desgaste e rapá, como a bichinha é rápida, veja:

Há uma enorme tecnologia por trás das impressoras modernas, as especificações e requisitos das tintas são incrivelmente complexos, e um dos motivos dos genéricos serem baratos é que não arcam com o custo de pesquisa e desenvolvimento, mas mesmo que pudessem cortar o preço de seus cartuchos em 90%, nenhum fabricante o faria. Não é questão de ganância, é sobrevivência. Eles baratearam as impressoras, se baratearem a tinta, vão viver de quê?

Eu prevejo, e já está acontecendo com a OfficeJet, que tem custo de impressão PB de R$ 0,05 por página, que chegaremos a um meio-termo, onde impressoras não serão brindes em caixa de sucrilho e tinta não custará R$ 8.450,00/L, ou R$ 16,00 por um cartucho com 2 mL.

Até lá, ficam as dicas:

1 - Cartuchos originais quando você precisar de qualidade. O genérico é roleta-russa e você paga pelo está levando. Vai usar pra bobagem? Beleza. Transparências pra apresentação pro Supremo Líder na Melhor Coréia? Não se arrisque.

2 - Modo rascunho e preto-e-branco sempre que puder.

3 - Não compre impressoras muito baratas, o preço dos insumos não compensa. (faça o que eu digo, não faça o que eu faço)

4 - Não se prenda a um número isolado. A OfficeJet parece (e é) bem razoável a um custo de R$ 0,05 por página, mas se formos colocar em R$/Litro, ela fica em R$ 3.184,00. Bem melhor que o cartucho de R$ 8.450,00/Litro da DeskJet Advantage 2515 mas ainda assusta.

5 - Calcule sua necessidade em páginas/mês, quantas dependem de cor. Se o número for pequeno, considere uma laser como impressora principal e uma jato de tinta como impressora para finalização. Há ótimas HPs Laserjets no mercado, e o custo de toner compensa.

6 - Se comprar uma laser, calcule não só o custo do toner mas o custo do kit óptico, o segredo que ninguém fala mas que custa uma baba e tem que ser trocado eventualmente também. Quem tem carro, a palavra-chave é “catalizador”.

Conclusão

A HP já superou a grande crise inexistente do “escritório sem papel”, uma bobagem dos Anos 80 onde uns iludidos achavam que no futuro tudo seria eletrônico. Agora ela enfrenta uma crise onde seu produto tem qualidade demais e os clientes não estão mais interessados em pagar por ele. Isso já aconteceu antes, com um avião chamado Concorde. Ele era inegavelmente superior, mais rápido e mais bonito, mas as pessoas estavam satisfeitas com o 747. O Concorde morreu por ser caro, independente de ser bom. Precisava ser muito bom.

As pessoas viajavam entre NY e Paris em 8 horas. O Concorde fazia o mesmo percurso em 3,5 horas. Se ele fizesse em 15 minutos, teria fila até hoje. O benefício precisa compensar, e no dia em que um relatório de 100 páginas PRECISAR sair naquele segundo, uma impressora de 55 ppm valerá cada um dos R$ 0,05 por página.

O Thom Brown pode ser achado em seu canal no YouTube e no Twitter. O evento foi no Lab Club, na Rua Augusta, 523, São Paulo, onde fomos muito bem recebidos pelo Gustavo, um dos sócios, que me preparou o melhor gin-tônica que tomei na vida, foi super-simpático e solícito, coisa rara na noite. Espero sinceramente que mais eventos sejam feitos lá.

Leia mais sobre: , , , .

relacionados


Comentários