HoloLens 2, "morto" em 2023, é enterrado pela Microsoft
HoloLens 2 não terá sucessor, e suporte será mantido até o fim de 2027; foco da Microsoft se volta ao IVAS, a versão militar
Ronaldo Gogoni 02/10/2024 às 10:34
O HoloLens 2, o headset de Realidade Aumentada/Mista da Microsoft, está oficialmente morto. De acordo com informações apuradas pelo site UploadVR, a gigante de Redmond deverá vender o equipamento até o fim dos estoques, e o suporte oficial, que inclui atualizações de segurança, será encerrado na virada de 2027 para 2028.
A companhia não pretende introduzir um sucessor do dispositivo, que nunca mostrou ao que veio: ele tinha um preço alto demais para afugentar intencionalmente o usuário final e a ala gamer, e desinteressante (e ainda caro) para empresas e developers developers developers. O IVAS, a variação militar, continuará em desenvolvimento, mas também não está livre de problemas.
O HoloLens se revelou um elefante branco: caro demais para o povão, desinteressante para a indústria, inadequado para uso militar (Crédito: Divulgação/Microsoft)
HoloLens foi mal aproveitado
Introduzida em 2015, a primeira versão do HoloLens foi o resultado de anos de pesquisa em Realidade Virtual e Mista, em que o brasileiro Alex Kipman era o líder de projeto. O Kinect, o sensor acessório dos consoles Xbox, foi uma versão derivada e mais modesta, lançada antes como uma espécie de "teste de águas" entre usuários e desenvolvedores.
O problema, a Microsoft meteu os pés pelas mãos. Não só o Kinect era odiado pelos gamers, como a versão do Xbox, US$ 100 mais barata que a voltada para PC, foi adotada em massa por pesquisadores, que ficaram muito felizes por terem à mão um sensor avançado de captura de movimentos, que custava apenas US$ 149.
O trauma foi tão severo, que o HoloLens foi introduzido como um dispositivo voltado apenas para devs e empresas, sob uma etiqueta de preço de assustadores US$ 3 mil; a segunda verão, US$ 500 mais cara, se livrou do público que a Microsoft não queria, ao perder todo o suporte a games; apenas responsáveis por projetos que Redmond julgasse válidos seriam autorizados a comprar o gadget.
Do lado corporativo, a versão Commercial Suite também custa US$ 3,5 mil, e dispensa a avaliação prévia de projetos, mas de novo, apenas devs e empresas podem comprá-lo. A intenção da Microsoft era tornar o HoloLens 2 uma ferramenta para uso no chão de fábrica, em linhas de montagem, manutenção de equipamentos, etc.
Bem, não deu certo. Primeiro, empresas e desenvolvedores acharam o preço alto demais, e segundo, a exclusão dos estúdios de games e entusiastas privou o HoloLens 2 de atingir massa crítica. A solução foi diversificar, adaptando o hardware para outros usos, e pouco clientes têm bolsos mais fundos do que as Forças Armadas, assim, o headset foi adaptado em uma versão militar.
O IVAS (Integrated Visual Augmentation System, ou Sistema Integrado de Aumento Visual em português), desenvolvido em parceria com o Exército e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD), fornece visão noturna e térmica, além de informações contextuais via Realidade Aumentada a um soldado em terra. O contrato de US$ 480 milhões foi duramente criticado, inclusive dentro da Microsoft.
Satya Nadella, CEO da Microsoft, defendeu o projeto, dizendo que a empresa não impediria que suas tecnologias fossem usadas por "instituições que nós (o povo) elegemos em democracias, para proteger a liberdade de que gostamos". Infelizmente para todos os envolvidos, o IVAS apresentou problemas próprios.
O IVAS, desenvolvido para o Exército dos EUA, tem sua própria (e grande) cota de problemas (Crédito: Divulgação/US Army/DoD)
Soldados selecionados nos testes submeteram várias críticas ao headset, como ele ser pesado e desconfortável, limitar a visão periférica, causar náuseas, e emitir luzes que fariam dos usuários alvos fáceis em situações de confronto. Como se não bastasse, uma auditoria apontou que o alto comando do Exército estava disposto a ignorar todas as reclamações, e adotar o IVAS de qualquer jeito.
A essa altura, nem a Microsoft estava tão empolgada com o gadget. Alex Kipman saiu da empresa, após várias acusações de assédio sexual, e pouco tempo depois, o Congresso dos EUA barrou 90% de uma verba adicional, que o Exército usaria para comprar mais unidades do IVAS, enquanto melhorias não fossem implementadas.
Em 2023, a Microsoft demitiu quase todo o time de Realidade Virtual e Mita, o kit de desenvolvimento MKRT3 foi cancelado e posteriormente teve seu código aberto, para que a comunidade o toque por conta própria; de modo geral, o desenvolvimento ativo do HoloLens acabou ali, ele se tornou um zumbi, um cadáver que esqueceram de enterrar.
Em junho de 2024, houve mais uma rodada de demissões nas divisões de RV/RA, após acordos estabelecidos com o Meta, e agora, a Microsoft anunciou que o HoloLens 2 está sendo efetivamente descontinuado, com o fim da produção de novas unidades, e o suporte e atualizações send mantidos até o fim de 2027. Depois disso, c'est fini.
O HoloLens 2 não será sucedido por uma nova versão, e será vendido até os estoques acabaram, mas o preço de US$ 3,5 mil NÃO será revisto, tampouco a restrição de compra apenas por desenvolvedores e empresas. Mesmo agora, Redmond não quer consumidores finais e/ou gamers pondo a mão em seu finado hardware de ponta.
Windows Mixed Reality, o software que dava suporte a headsets de companhias como Samsung, Acer, Dell, Lenovo, HP e cia? Descontinuado em 2023, em favor da parceria com o Meta e sua linha Quest, compatível com Office e Xbox Game Pass.
Daqui por diante, o foco das divisões de RV e RA da Microsoft (ou melhor, o pouco de gente que restou) será exclusivamente o IVAS, que ainda precisa ser bastante refinado para ser minimamente útil como um equipamento de tropas em terra, o que deve demorar.
Fonte: UploadVR
