Dori Prata 01/10/2024 às 10:20
Os 30 anos de comemoração do lançamento do primeiro PlayStation também está permitindo com que muitas pessoas olhem para algumas franquias que fizeram muito sucesso naquele videogame e uma delas é a Tekken. Criada por Seiichi Ishii, hoje ela está sob os cuidados de Katsuhiro Harada e do produtor Michael Murray, que falaram um pouco sobre a tão adorada série.
Embora tenha nascido nos fliperamas, em 1994, muito da popularidade de Tekken se deu quando o jogo chegou ao PlayStation, no ano seguinte. Aquela era a tentativa da Namco de desafiar o Virtua Fighter, da Sega, e de lá para cá, foram 11 capítulos, o que inclusive fez com que em 2015 a série entrasse para o Livro dos Records, por ser aquela mais longeva sem ter passado por um reboot.
Mas se atualmente os desenvolvedores podem aproveitar todo o poderio técnico entregue pelos computadores e consoles, Harada afirmou sentir falta da época em que o primeiro Tekken estreou. “Uma das maiores razões [para o saudosismo] é que os jogos são muito caros [para se produzir]. Isso significa gastar mais tempo nesses jogos, também. No passado era mais fácil ter uma ideia, iterá-la e colocá-la no jogo.”
Outro fator citado pelo game designer era a maneira como as partidas aconteciam com as pessoas num mesmo lugar, fosse em um fliperama, fosse em um console offline. “Agora há muito mais oportunidades para jogar em um PC ou outros consoles pela internet,” justificou, falando sobre como este cenário dificulta detectar problemas. “Isso significa que se alguém está jogando em um PC, tudo é diferente por causa dos componentes ou das configurações da internet entre os jogadores de diferentes países.”
Katsuhiro Harada também aproveitou para lamentar a atual situação dos jogos de luta 3D, já que das diversas franquias que surgiram na década de 90, como Battle Arena Toshinden, Soulcalibur, Dead or Alive ou até a Virtua Fighter, Tekken é a única que segue recebendo novos capítulos.
“É meio triste que sejamos o único jogo de luta 3D, porque o 3D e o 2D são tão drasticamente diferentes,” disse. “Antigamente havia mais jogos, mas após um tempo você parou de vê-los. Com os jogo de luta 2D, às vezes você vê mais desenvolvedores independentes os criando, mas isso não acontece com os jogos de luta 3D. Então, sim, quando você olha ao redor, é apenas o Tekken, o que é meio lamentável, certo?”
Para Murray, a maneira única como a franquia tem sido tratado ajuda a explicar sua relevância ter durado tanto tempo. Ao contrário do que vemos na indústria, muitas das decisões tomadas nas últimas duas décadas partiram principalmente dele e de Harada. Com a dupla em contato direto com a comunidade, eles puderam ver as críticas e sugestões em primeira mão, o que os permitiu realizar ajustes e passar a opinião dos jogadores para as equipes de desenvolvimento.
Outro ponto que ele considera importante é como a série tem conseguido “um bom equilíbrio entre tentar atender os fãs hardcore, enquanto tem história e conteúdo bônus para manter os fãs casuais ocupados.” Ou seja, mesmo acreditando que tentar agradar todo mundo pode não funcionar, eles conseguiram oferecer muito conteúdo em um mesmo pacote.
Quanto ao que está por vir, Katsuhiro Harada afirmou ser difícil imaginar como a série pode estar daqui a 20 ou 30 anos, já que é um período muito longo e que para ele e Michael Murray, o próximo jogo talvez seja o último, dada suas idades.
O produtor executivo até tentou tranquilizar os fãs, dizendo que boa parte da equipe envolvida na criação dos jogos está trabalhando com a série há duas décadas, o que envolve diretores e outros líderes. Mesmo assim, ele não escondeu seu receio.
“Estou honestamente bastante preocupado, porque há vários fatores na criação de um jogo,” ressaltou. “Então, obviamente há o conselho da empresa e o pessoal das finanças com seus objetivos e coisas assim para o jogo financeiramente e como ele se relaciona com a empresa.”
Harada então reconheceu a influência desses profissionais no desenvolvimento e por isso disse ser importante o lado criativo da equipe saber defender suas posições. “Tem que haver uma voz forte o suficiente [na equipe de desenvolvimento] para estar no mesmo nível dessas pessoas,” garantiu.
Esse embate entre os setores criativos e financeiros de um estúdio/editora é um problema relatado por muitos desenvolvedores e por isso entendo tamanha preocupação por parte do game designer. Como ele mesmo diz, se a parte criativa não conseguir fincar o pé e impor suas escolhas, algo que ele teve tamanho para fazer ao longo desses anos, o futuro de Tekken pode ser comprometido.
Mas a possibilidade de Katsuhiro Harada e Michael Murray deixarem seus cargos e perderem a influência sobre a franquia ainda parece distante. Até lá, eles pretendem continuar ouvindo as demandas do público, principalmente em competições como a EVO e enquanto isso acontecer, o futuro de Tekken parece garantido.
Talvez o sucesso da franquia também contribua para que outras empresas se arrisquem neste gênero, incluindo a própria Bandai Namco, que desde 2018 não nos dá um novo Soulcalibur. Porém, aquele que eu realmente gostaria de ver retornar o Virtua Fighter. Mesmo sendo um péssimo jogador, sempre gostei de ver pessoas habilidosas duelando nesta série, que infelizmente tem recebido apenas atualizações para o seu quinto capítulo.