Dori Prata 30/09/2024 às 10:10
No dia 3 de dezembro de 1994 a Sony lançava no Japão o seu primeiro console. Quase 30 anos depois, o PlayStation é lembrado como um dos videogames mais importantes da história, com suas vendas tendo superado a marca de 102 milhões de unidades. Porém, o sucesso daquele aparelho foi algo em que nem a própria fabricante acreditava.
Quem revelou essa descrença por parte da empresa foi Ken Kutaragi, ex-CEO da Sony Interactive Entertainment (SCE) e conhecido como o “Pai do PlayStation”. Engenheiro responsável pela criação daquele console, assim como do PlayStation 2, PlayStation 3 e PlayStation Portable, ele palestrou durante a Tokyo Game Show e falou um pouco sobre o processe de criação do videogame.
“Queríamos compartilhar nossa paixão e queríamos ouvir suas expectativas e o que não esperavam, queríamos ouvir deles,” contou Kutaragi. “Então visitamos dezenas de companhias, se não centenas, visitamos muitos criadores de jogos, foi uma ótima lembrança… eles não estavam nem um pouco interessados. Eles apenas disseram: ‘não façam isso. Houve várias empresas e nenhuma delas teve sucesso. Vocês vão fracassar.’ Isso foi o que eles disseram.”
Mas se a previsão feita pelas pessoas que a Sony ouviu pode parecer muito dura, ela tinha fundamento. Quando o PlayStation chegou ao mercado, empresas como Philips (CD-i) e Pioneer (LaserActive) já haviam sentido o gosto amargo do fracasso, com a Goldstar e a Panasonic (3DO) rumando para o mesmo caminho.
Por isso, "mesmo dentro da Sony, ninguém acreditava que teríamos sucesso," revelou Kutaragi em relação ao receio dos executivos da empresa que estava prestes a desafiar as duas companhias que controlavam o mercado na época, Nintendo e Sega.
Essa não foi a primeira vez que alguém falou sobre o ceticismo por parte dos funcionários da Sony. Ao contar sobre como foi trabalhar com alguém tão importante quanto Ken Kutaragi, o ex-vice-presidente de aquisições de produto da SCE, Shuji Utsumi, seguiu por um caminho parecido.
“Houve muito debate entre estabelecer a Sony Computer Entertainment ou trabalhar em estreita colaboração com as grandes companhias de games da época,” disse. “Mas o Ken estava dizendo que a Sony precisava fazer o PlayStation e me pediu para preparar um documento [para uma apresentação] explicando porque a Sony precisava estabelecer uma divisão para dar suporte a ela.”
Contudo, a desconfiança daquelas pessoas não se confirmou. Hoje o PlayStation aparece na sexta colocação da lista de videogames mais vendidos de todos os tempos, ficando atrás apenas do PlayStation 2 (155 milhões de unidades), Nintendo DS (154,02 milhões de unidades), Nintendo Switch (143,42 milhões de unidades), Game Boy e Game Boy Color (118,69 milhões de unidades) e do PlayStation 4 (117,2 milhões de unidades). Nota: alguns desses números são aproximados.
Além disso, foi no console de estreia da Sony que vimos o nascimento de diversas franquias que permanecem relevantes até hoje, quase três décadas após suas criações. São marcas poderosas como Gran Turismo, Silent Hill, Metal Gear Solid, Resident Evil, Legacy of Kain, Crash Bandicoot, Ridge Racer, Tekken, Tony Hawk's Pro Skater, Suikoden e muitas, muitas outras, sem falar naquelas que andam esquecidas.
Aliás, o sucesso daquele aparelho se deve justamente ao forte apoio que a Sony recebeu das desenvolvedoras, o que consequentemente fez com que mais consoles fossem vendidos e mais empresas quisessem produzir para ele. Ao todo, foram lançados mais de 4 mil títulos para o videogame e assim formou-se um círculo virtuoso, fazendo com que a marca PlayStation repetisse uma façanha alcançada alguns anos antes pelo NES, que foi chegar a se tornar sinônimo de videogame.
Hoje com 74 anos, Kutaragi dá aulas de informática na Kindai University e responde como CEO da Ascent Robotics, empresa dedicada à inteligência artificial e robótica. “Temos IA hoje, mas quem teria previsto isso há um ano/ Há dez anos?,” questionou.
Durante a palestra, Ken Kutaragi também lembrou o Ridge Racer, jogo que só se tornou possível devido sua colaboração com a Namco e que, na época do lançamento, o engenheiro entendeu que os videogames estavam se transformando nos “novos shows de rock.”
Agora, ele acredita que o futuro está na computação em tempo real. “O entretenimento muda com o tempo,” defendeu, enquanto mostrava uma imagem do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço. “Não é apenas sobre jogar. Ainda está no mundo da fantasia hoje, mas muitas indústrias podem ser integradas.”
No cenário ideal, o executivo acredita que a indústria de games poderá crescer algo entre dez e cem vezes o tamanho que possui atualmente. Talvez sua previsão seja um tanto exagerada, mas para quem já foi comparado a grandes lendas da computação, talvez seja prudente não duvidar de suas palavras.“Ele me lembra uma espécie de híbrido entre [Steve] Jobs e o meu irmão, [Steve] Woz, porque tinha, você sabe, uma grande perspicácia técnica, mas também uma tremenda visão de futuro,” disse um dos primeiros funcionários da divisão PlayStation nos Estados Unidos, Mark Wozniak.
Fonte: VG247