Ronaldo Gogoni 13/08/2024 às 11:04
Enquanto a Apple tenta de toda forma convencer a União Europeia (UE) de que ela está no direito de recolher comissões sobre distribuição de apps e operações financeiras realizadas por fora da App Store, no resto do mundo, o Jardim Murado permanece bem fechado, e quem não seguir suas regras será convidado a sair de sua lojinha; agora foi a vez do Patreon sentir a pressão.
A plataforma que permite a criadores compartilharem suas obras com fãs, mediante planos de assinatura, foi alertada pela Apple a aderir ao sistema de pagamentos nativos da App Store, e não mais permitir que seus parceiros aceitem pagamentos por outros meios no iOS, a fim de que Cupertino possa retirar seus 30% de comissão sobre todas as operações financeiras; caso contrário, o app será banido do iPhone e iPad.
Sem opções, o Patreon aceitou os termos, e agora está alertando os criadores que iniciará um processo para migrar todas as assinaturas para o sistema nativo, e que eles têm duas opções: absorver eles mesmos as perdas, ou repassar a conta para o assinante que usa a App Store para pagar sua assinatura, que ficará mais cara nos gadgets da maçã.
Os termos da Apple foram bem claros, o Patreon não mais deve permitir que seus criadores usem opções de pagamento de terceiros através do app do iOS e iPadOS, e muito menos que eles desliguem por completo a opção de assinatura através deles; a partir de novembro de 2024, todos os novos criadores serão obrigados a implementar o sistema da App Store, e até novembro de 2025, todos os antigos também terão que dançar conforme a música.
O motivo é o mesmo de sempre, dinheiro. Ao não processar pagamentos, a Apple perde a chance de recolher os 30% de comissão obrigatórios, e isso não mais será tolerado. Ao Patreon, foi dada a opção de forçar todos os criadores a se adequarem, ou ter o app removido e desativado em quem já o instalou em seu iGadget, e isso a plataforma não poderia permitir.
O alerta dado aos criadores, via postagem em seu blog oficial, é bem claro: daqui a 16 meses, tempo que durará o longo processo de migração dos sistemas de pagamentos de todos os criadores, quem quiser compartilhar seus desenhos, vídeos, músicas, podcasts, e outros conteúdos, adultos ou não, terá que se resignar ao fato de que todas as operações financeiras processadas pela Apple renderão menos.
Nesse tópico, o Patreon ofereceu duas opções: a primeira e mais antipática, mas a menos agressiva para os assinantes, é a em que o criador absorva o prejuízo, mantendo assim os valores dos planos de assinatura inalterados. Já a segunda, similar a adotada por outros apps, passa a conta para o usuário:
A opção "recomendada", segundo o Patreon, é a imposição de uma "taxa sobre compras no app" realizadas no iPhone e iPad, em que o valor da assinatura receberia um acréscimo de 45%; no exemplo acima, o valor de US$ 14,50 pago por um consumidor iOS hipotético continuaria revertendo 30% do valor à Apple, mas o criador receberia US$ 10,15, mais próximo do valor normal da assinatura, US$ 10.
É importante lembrar que vários apps já fazem isso; a Twitch, por exemplo, cobra taxas adicionais de pagamentos realizados pelos usuários, quando estes assinam canais de criadores pelo iPhone; também não são raros outros tipos de aplicativos, e mesmo alguns games, que praticam preços diferenciados em suas microtransações, entre o iOS/iPadOS e o Android.
O Patreon lembra que por enquanto, nada muda para quem faz pagamentos pelo sistema móvel do Google, já que a gigante das buscas não força a plataforma a usar exclusivamente o sistema de cobrança da Play Store.
Vale lembrar que a Apple, mesmo tendo sofrido um revés no processo movido pela Epic Games, sendo proibida de forçar plataformas e desenvolvedores a usarem a App Store para processar compras no app de forma exclusiva, a ordem não está valendo ainda, pois a desenvolvedora de Fortnite levou o caso para a Suprema Corte dos Estados Unidos, de modo a forçar a maçã a reinstaurar o game em sua lojinha, e a não cobrar nada sobre suas vendas (sim, Tim Sweeney quer ser permitido bancar o Seu Madruga).
Do ponto de vista da Apple, é perfeitamente cabível forçar devs e plataformas a usarem o seu sistema de cobrança; no seu entendimento, um app ou game estar presente no iPhone é um privilégio, não um direito, como o CEO da Epic Games quer que seja, e defende a cobrança de 30% de comissão como uma forma de custear a manutenção de seus servidores, mas também para manter o prestígio de sua plataforma.
Já o Patreon não tem muitas opções, era ceder à pressão ou ser expulso da App Store, e perder uma enorme base instalada de usuários no processo, o que como uma empresa, cuja missão principal é dar lucro, não é uma delas.
Enquanto isso, os criadores podem receber menos ou repassar a conta, mas muitos já optaram pela terceira via: eles estão alertando seus assinantes, via e-mail e redes sociais, a não mais processarem pagamentos pela App Store, e os estão orientando a fazê-lo pelos seus links em navegadores, seja no iPhone e iPad, por um computador, ou mesmo pelo app do Android, já que por enquanto, o Google não deve "fazer a Apple".
Muito provavelmente, todos os criadores do Patreon optarão por implementar a cobrança da taxa adicional, dessa forma, os teimosos que insistirem em pagar pela App Store, porque é "mais fácil", terão que morrer em alguns tostões a mais. Avisados foram.
Fonte: Patreon, TechCrunch