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UE: satélites IRIS² vão demorar, e custarão o dobro do previsto

Planos para satélites IRIS² da UE, que concorrerão com StarLink, são paralisados; custos e rusgas entre França e Alemanha seriam motivos

02/05/2024 às 10:00

A União Europeia (UE) está determinada a não depender de empresas externas ao bloco para absolutamente nada, e é fato que seus legisladores têm uma pinimba permanente com a SpaceX de Elon Musk.

As locais, como a Arianespace, não possuem nada que se compare a seus foguetes reutilizáveis, e a divisão StarLink, de internet via satélites de órbita baixa (LEO), tem poucos concorrentes, mas nenhum no mesmo nível.

Constelação de satélites IRIS² seria a resposta da UE à StarLink (Crédito: EUSPA/ESA)

Constelação de satélites IRIS² seria a resposta da UE à StarLink (Crédito: EUSPA/ESA)

Exatamente para confrontar a StarLink, a UE apresentou em 2022 um pacote de soberania em satélites de internet, para concorrer com Musk em todos os 27 países-membros, usando tecnologia local e com financiamento estatal. Porém, o plano bateu com a cara na Realidade, no que não só os custos serão maiores que o projetado, como França e Alemanha, os dois principais países no projeto, não estão se entendendo.

IRIS² da UE vai demorar

A proposta para uma constelação de satélites própira da UE, batizada de IRIS² (Infrastructure for Resilience, Interconnectivity, and Security by Satellite, ou Infraestrutura para Resiliência, Interconectividade e Segurança via Satélite, em português), foi originalmente apresentada em fevereiro de 2022, suportada por um financiamento de 6 € bilhões (~R$ 32,99 bilhões, cotação de 02/05/2024), sendo 3,6 € bilhões (~R$ 19,79 bilhões) vindo da iniciativa privada.

Na época, o único lance dado para garantir o desenvolvimento dos satélites, foi dado por um consórcio formado pela Airbus Defense and Space, e Thales Alenia Space. Elas ficariam a cargo de construir, lançar e operar os módulos, no que o governo da UE ofereceria subsídios e a possibilidade de explorá-los comercialmente.

Se tudo corresse bem, as primeiras unidades, "algumas centenas" segundo o plano original, seriam lançadas em 2027, inicialmente para atender apenas europeus, mas que poderiam ser estendidos a mais países, assim como o sistema de geolocalização GALILEO foi,  mas as boas notícias acabam aqui.

No dia 9 de abril de 2024, o comissário da UE para o Mercado Interno, Thierry Breton, anunciou que os planos para a concessão de um contrato para o consórcio Airbus/Thales foram paralisados por tempo indeterminado, se limitando a dizer que "um comitê independente" estaria avaliando o acordo, e que o Conselho Europeu está "conduzindo os trabalhos com muita seriedade".

Breton não se deu ao trabalho de elaborar o que aconteceu para a UE ter dado um passo para trás agora, mas um artigo do site alemão Handelsblatt trouxe algumas informações relevantes.

O primeiro grande problema que a UE encontrou foi, sem muita surpresa, o custo. A projeção inicial de 6 € bilhões teria sido muito conservadora, e uma avaliação mais cuidadosa dos desafios a serem enfrentados fez com que o valor simplesmente dobrasse, para 12 € bilhões (~R$ 65,96 bilhões).

Fato: a UE não quer contar com a StarLink, mas não está se ajudando também (Crédito: Divulgação/SpaceX)

Fato: a UE não quer contar com a StarLink, mas não está se ajudando também (Crédito: Divulgação/SpaceX)

Outro problema que apareceu, teria sido um desentendimento entre legisladores da Alemanha e da França, no que o ministro alemão de Assuntos Econômicos e Ações para o Clima, Robert Habeck, teria escrito para Breton, que é francês, para que o comissário "não tome decisões precipitadas", no que sob sua ótica, todo o plano deveria ser resetado.

Segundo Habeck, é importante que a UE conte com um sistema de internet via satélites LEO próprio, não só para não depender da StarLink, mas também para não ficar atrás de recentes desenvolvimentos tecnológicos de países como China e Rússia, no que estes poderiam criar dificuldades para o bloco, especialmente os russos, como uma extensão das animosidades desde o início da invasão à Ucrânia.

Porém, companhias como a Airbus e a Arianespace, que ficaria a cargo dos lançamentos, não estariam acostumadas a participar de parcerias público-privadas, ou seja, a tirar dinheiro do próprio bolso. Elas são habituadas a serem agraciadas com contratos em que o bloco (ou seja, o contribuinte) paga por tudo, e um contrato em que os custos seriam divididos não é lá tão atraente.

Ao mesmo tempo, a Arianespace não possui nada remotamente similar aos foguetes reutilizáveis da SpaceX, a viabilidade do IRIS², em termos de custo, depende de uma tecnologia que os europeus ainda não desenvolveram, sem contar o investimento pífio da UE no setor aeroespacial. E de novo, embora tenha sido obrigada a engolir Elon Musk em algumas situações, optar por suas soluções para lançar seus satélites LEO de internet não é uma opção.

Esse estranhamento entre políticos franceses e alemães não é de hoje, o próprio Ariane 6 é desenvolvido por ambos países, o primeiro estágio é francês, mas o segundo é alemão. Outro ponto de conflito é de que o contrato deveria agraciar companhias pequenas, ao invés de ser fechado com gigantes do setor, e a aparente vitória do consórcio Airbus/Thales não teria sido bem-visto na Alemanha.

Mesmo com todas as dificuldades, os europeus têm a capacidade de construir satélites de qualidade, vide o GALILEO; cabe a UE resolver os problemas quanto ao contrato e quem vai pagar a conta, os mais "simples" de serem lidados.

Quanto a colocar a constelação em órbita, caso a Arianespace continue se atrapalhando para implementar o design reutilizável em seus foguetes, os legisladores da UE não terão muitas opções, a não ser contar, de novo, com Elon Musk.

Fonte: Ars Technica

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