Shadow Gambit e a fantástica tripulação amaldiçoada

Com tantos jogos lançados semanalmente, tendemos a voltar nossa atenção principalmente àqueles de grande porte. Isso infelizmente acaba fazendo com que algumas pérolas passem desapercebia pelo nosso radar e até algumas semanas, foi exatamente o que estava acontecendo comigo, com uma joia que encontrei quase que por acaso se chamando Shadow Gambit: The Cursed Crew.

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Desenvolvido pela Mimimi Games, talvez você não conheça o estúdio alemão, mas aos poucos a empresa fundada por Dominik Abé e Johannes Roth está se consolidando no mercado graças a produção do que eles gostam de chamar de “jogo de estratégia furtiva”. Parece confuso? Pois podemos usar alguns exemplos para explicar.

Em 2016, foram eles os responsáveis pelo lançamento do Shadow Tactics: Blades of the Shogun, jogo que conquistou muitos admiradores e misturava justamente estratégia com furtividade. Quatro anos depois foi a vez de eles aperfeiçoarem a fórmula com o divertidíssimo Desperados III.

O estúdio ainda produziria o Shadow Tactics: Blades of the Shogun - Aiko's Choice e caso você não tenha jogado nenhum deles, saiba que todos se basearam numa série que fez bastante sucesso entre os anos 90 e 2000, a Commandos.

Ou seja, estamos falando de jogos de estratégia onde os combates acontecem em tempo real, embora possamos acionar a pausa quando quisermos para planejar nossas ações. Porém, o mais importante aqui está no incentivo a não sermos detectados pelos inimigos, com cada personagem que controlamos contando com habilidades únicas.

E o Shadow Gambit: The Cursed Crew funciona exatamente desta maneira. Num primeiro momento, a nossa única força de ataque será uma pirata amaldiçoada chamada Afia Manicato. Embora seja capaz de parar o tempo e se teletransportar de um lugar para o outro, sua principal habilidade será mesmo comandar uma trupe de desajustados e decidir para onde deve rumar o navio Red Marley.

Servindo como nossa base flutuante de operações, a embarcação é habitada por um espírito e será nele que nos preparemos para as próximas missões ou passaremos um tempo com uma tripulação fantasma. São figuras como Suleidy, uma médica e pesquisadora que pode usar as plantas para se esconder; Toya of Iga, um esqueleto japonês que ficará responsável pela alimentação da equipe e é extremamente ágil no campo de batalha; ou a minha favorita, Teresa la Ciega, uma atiradora de elite espanhola que, além de poder detectar navios inimigos que estiverem bem longe, ainda será muito útil para abater ameaças distantes durante as missões.

Assim como acontecia na série Commandos (ou nas produções anteriores da Mimimi Games), em Shadow Gambit: The Cursed Crew será fundamental sabermos montar uma equipe equilibrada, mas principalmente, conseguir aproveitar cada habilidade dos integrantes. Isso fará com que um confronto possa ser encarado de inúmeras maneiras, com a criatividade do jogador sendo levada em conta e quando bem-sucedida, as investidas nos dando uma ótima sensação de recompensa.

Vale ressaltar que tudo acontecerá em tempo real, então teremos que mover vários personagens ao mesmo tempo, sendo aí que entra a parte estratégica. Imagine, por exemplo, deixar Afia escondida num arbusto, perto de dois inimigos. O problema é que a protagonista não conseguirá matar ambos ao mesmo tempo. Então, a distância, Teresa pode estar esperando para fazer um disparo fatal, mas as ações precisam ser coordenadas para que as heroínas não sejam detectadas.

Felizmente poderemos contar com a ajuda do Red Marley para isso, já que ele usará magia para manipular o tempo, recurso conhecido como Shadow Mode. Desta forma poderemos pausar a ação e definir quais ações os personagens realizarão assim que o tempo voltar a correr. Novamente, elaborar uma estratégia e vê-la sendo executada como queríamos é algo fantástico, além de abrir muito espaço para tentarmos de outras formas.

Com a precisão e o sincronismo sendo algo muito importante em Shadow Gambit: The Cursed Crew, falhar será algo comum. Por isso o jogo estará sempre nos lembrando de “criar memórias”, uma maneira bonitinha (e imersiva) de tratar o quick save. Desta forma poderemos retornar para antes dos erros acontecerem, o que consequentemente torna a experiência menos frustrante.

Mas preciso admitir, mesmo tendo jogado os títulos de estratégia furtiva da Mimimi Games anteriormente e gostado de suas jogabilidades, não foi isso o que chamou minha atenção na aventura de Afia Manicato e sua amaldiçoada tripulação. No início, o que me interessou nele foi a sua ambientação e claro, sua bela parte visual.

Se passando numa realidade alternativa da Época Dourada da Pirataria, a campanha nos levará ao Caribe Perdido, onde as forças da inquisição atormentam os espíritos locais e estão sempre procurando piratas. Assim precisaremos visitar diversas ilhas do fictício arquipélago, tendo que enfrentar inimigos com virtudes e fraquezas distintas.

De acordo com os desenvolvedores, eles optaram por esta ambientação fantástica e rodeada por magia, pois achavam que ela combinaria perfeitamente com o estilo de jogo que queriam criar, além de lhes dar mais liberdade. Outro aspecto importante foi a implementação do Red Marley, fazendo com que o recurso de manipulação tempo oferecido por ele se encaixasse na narrativa.

No entanto, o que primeiro me atraiu no jogo foi mesmo a sua belíssima direção artística. Não tenho medo de dizer que este foi um dos títulos mais bonitos que vi em 2023, com os seus personagens transpirando carisma e os cenários estando repletos de detalhes. Visitar essa versão alternativa do Caribe é estar constantemente se deparando com belas imagens.

O que me entristece um pouco é pensar que, devido seu estilo, pode ser que muitas pessoas não deem uma chance ao Shadow Gambit: The Cursed Crew, erroneamente achando se tratar apenas de mais um jogo genérico de estratégia ou um rostinho bonito na multidão. Porém, acredito que a Mimimi Games está com uma ótima franquia nas mãos e como o estúdio é o único responsável por ela, torço para que a liberdade criativa e o retorno financeiro lhes permitam dar vida a muitas continuações.