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Operação Tracer: Um dos mais insanos planos da 2.ª Guerra

A 2.ª Guerra Mundial gerou muitas idéias desesperadas. A Operação Tracer é uma das mais perturbadoras, digna de um filme de terror

34 semanas atrás

Em 1940 a Guerra não estava indo muito bem para os britânicos. Depois de Dunquerque, a moral estava no chão, e o grande medo era que os alemães invadissem as ilhas britânicas ou seus territórios; o desespero fez com que um plano insano fosse bolado.

Gibraltar é tipo o Pão de Açúcar dos gringos, com graves restrições orçamentárias (Crédito: lutz via Pixabay)

Um dos pontos mais estratégicos para o Império Britânico era Gibraltar, um território na pontinha da Espanha. São só 5 km de comprimento, mas permitem que os ingleses controlem todo o tráfego naval que entra e sai do Mediterrâneo.

Mesmo os canhões da época cobriam tranquilamente os 14 km do estreito de Gibraltar, então navios nazistas tinham problemas para passar por ali. E isso irritava Hitler, que exigiu planos para tomar o território.

Os britânicos sabiam disso, e em uma época em que a Rússia ainda era aliada de Hitler (o pacto de não-agressão incluía vender milhares de toneladas de matéria-prima e suprimentos para a Alemanha), e os Estados Unidos ainda ajudavam apenas com suprimentos, a Inglaterra estava sozinha.

O Contra-Almirante John Henry Godfrey, da Inteligência Naval, teve uma idéia insana, que acabou sendo levada a sério pelo resto do Almirantado: Instalar um posto de observação secreto em Gibraltar, que continuaria funcionando mesmo depois dos nazistas tomarem o lugar.

14 km separam África da Europa, ou ao menos da Espanha (Crédito: Google Earth)

O plano era construir um mini-complexo de observação dentro do rochedo, de onde toda a movimentação naval no Estreito de Gibraltar seria monitorada.

Entre o planejamento e o início da construção, já era 1942, e o sigilo era absoluto. Operários eram trazidos da Inglaterra, trabalhavam por um tempo e eram enviados de volta, sem saber onde estavam trabalhando.

Eles construíram uma sala principal de 1600 m2, com 14 m x 4,8 m x 2,4 m, com espaço para suprimentos, sala de rádio, banheiro de um tanque de água de 45 mil litros.

Os especialistas planejando a missão determinaram que a equipe ideal teria três telegrafistas, dois médicos e um oficial. Os telegrafistas eram responsáveis por içar a antena clandestina e usar uma bicicleta acoplada a um gerador, para carregar as baterias que alimentavam o rádio, as luzes e um sistema de ventilação.

As observações seriam feitas por duas frestas na rocha, com trinta centímetros de altura, e repassadas regularmente para Londres.

Uma das frestas de observação (Crédito: Moshi Anahory)

O mais sinistro no plano é que para que não fossem descobertos, os seis homens seriam enterrados vivos. A Operação Tracer previa que em caso de invasão iminente, um muro seria erguido selando os militares dentro do compartimento, e o resto da caverna seria demolido.

O tanque de 45 mil litros já dava uma ideia, mas o plano previa que eles tivessem suprimentos - comida, remédios, etc. - para SETE longos anos de guerra.

Os seis homens passariam por cirurgias para remover apêndices e amígdalas, e seriam examinados para detectar qualquer problema de saúde que pudesse surgir nos anos seguintes. Os médicos teriam equipamentos para realizar pequenas cirurgias, e em caso de morte, havia material para embalsamar o presunto e enterrá-lo no piso de tijolos, que era coberto com piso de cortiça para evitar barulho.

A sala principal, ainda com o piso de cortiça (Crédito: Moshi Anahory)

O projeto era altamente complexo, com manuais de operação, estudos psicológicos para escolher a equipe ideal, planos de criar operações semelhantes em outros lugares, mas com 1943 chegando e Rommel sendo derrotado no Norte da África, Gibraltar deixou de ser um ponto vulnerável, não era mais possível que os nazistas tomassem o local.

Foi dada a ordem para distribuir os suprimentos da Operação Tracer para outras unidades, o túnel foi selado e a coisa toda abandonada e esquecida.

Exceto pela população local, que, claro, sabia de tudo, e por décadas depois da Guerra, a lenda de que havia um posto secreto britânico na montanha foi passada de geração para geração. Ninguém mais levava muito a sério a história, até que em 1997 um pessoal do Grupo de Espeleologia de Gibraltar estava explorando umas cavernas, quando sentiram um vento estranho. Descobriram umas folhas de metal corrugado, removeram e acharam uma parede de tijolos.

Forçaram entrada, e descobriram a sala principal da Operação Tracer. Dá para ouvir a história toda na voz dos exploradores, neste mini-documentário:

Mais tarde veteranos confirmaram que era a sala secreta mesmo, que felizmente nunca chegou a ser usada. Manter seis pessoas trancadas em um salão por anos é basicamente a trama de um filme de terror de baixo orçamento, nenhum daqueles homens sairia de lá vivo, ou inteiro.

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