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5 histórias de guerra curtinhas mas fascinantes

Guerra não é divertida, nem faz ninguém grande, mas gera histórias fascinantes de homens e máquinas. Vamos conhecer algumas

42 semanas atrás

Guerra não faz ninguém grande, mas há momentos de heroísmo inegáveis, avanços tecnológicos, cenas de sorte e surpresa. Vamos conhecer rapidamente quatro exemplos desses momentos:

Guerra não faz ninguém grande (Crédito: Domínio Público)

1 – Sargento Durrant

No começo da Década de 1940 os submarinos alemães já tocavam terror nos comboios aliados atravessando o Atlântico, e a situação só tendia a piorar; encouraçados de mais de 40 mil toneladas como o Bismarck e o Tirpitz seriam basicamente invencíveis contra os pífios destróieres de escolta aliados. A solução era atacar esses navios com tudo, e principalmente negar aos alemães instalações para repará-los.

Na costa do Atlântico a única doca capaz de acomodar um navio daquele tamanho ficava na França ocupada, em St. Nazaire. Foi planejado um ataque suicida onde um navio carregado de explosivos seria lançado contra os portões da doca. Eu conto em detalhes aqui.

A base de submarinos de St. Nazaire existe até hoje. É simplesmente caro demais demolir tudo (Crédito: Wikimedia Commons / KaTeznik)

Junto, vários barcos de apoio, que recolheriam os comandos que desembarcariam para sabotar o resto das instalações inimigas. Com 100 toneladas, eram de madeira, mal-armadas e com combustível demais.

O ataque deu certo mas tudo deu errado, e vários desses barcos foram afundados por tiros de terra, ou por navios patrulha alemães. Um que ainda sobrevivia era o ML-306, que atirava em holofotes e tanques de combustível, até ser avistado pelo navio-patrulha Jaguar.

Rapidamente o ML-306 foi neutralizado pelo inimigo. Sem energia, em chamas, seus canhões silenciados, exceto por uma metralhadora Lewis, que continuava atirando. Nela, o Sargento Thomas Durrant, das Forças Especiais britânicas.

Ele atirava nas luzes, atirava nos ninhos de metralhadora, atirava no Jaguar, que repetidamente pedia para que ele se rendesse. Durrant lutou até desmaiar devido à perda de sangue de seus ferimentos.

Sargento Durrant, fazendo pose (Crédito: Domínio Público)

Recolhido com outros sobreviventes, Durrant foi levado para um hospital, mas dias depois, acabou falecendo. Sabendo disso, o Kapitänleutnant Friedrich-Karl Paul, comandante do Jaguar foi ao campo de prisioneiros onde estava “hospedado” o Tenente-Coronel Newman, comandante da operação inimiga em St Nazaire, e detalhou o combate entre o ML-306 e o Jaguar.

O alemão em seguida exaltou os feitos do Sargento Durrant, e recomendou que ele fosse agraciado com alguma alta condecoração. Newman repetiu tudo em sua correspondência para o Almirantado, e eventualmente o Sargento Durrant recebeu postumamente a Victoria’s Cross, a mais alta condecoração militar britânica.

2 – Ginger Lacey, o piloto imorrível

Sorte é legal, mas experiência também ajuda. E sorte do Tenente James Harry "Ginger" Lacey ter mais de 1000 horas de vôo como piloto e instrutor, antes da Guerra estourar. Ele entrou no jogo no Nível 99, o que salvou seu couro mais de uma vez.

Tirando submarinos e bombardeiros, a ocupação de piloto de caça era uma das mais perigosas. Durante a Batalha da Inglaterra a expectativa de vida de um piloto da RAF era de 4 semanas.

Em junho de 1940 o Tenente Lacey quase morreu ao fazer um pouso forçado e chegar perto de se afogar em um pântano. Em agosto ele violou a regra de manter o número de pousos igual ao de decolagens, ao ser atingido e ter que saltar de pára-quedas. No final do mesmo mês seu avião foi alvejado, ele perdeu motor e incrivelmente conseguiu planar até uma pista de pouso.

Lacey era com certeza um Top Gun, mas não um Tom Cruise (Crédito: RAF / Domínio Público)

Em setembro, o tempo ruim impediu que ele conseguisse enxergar o caminho para sua base, ele acabou tendo que saltar. De novo. Ainda em setembro, 17, ele foi abatido sobre Ashford, mais um salto de pára-quedas para o currículo.

Achando que a sorte de Lacey iria acabar eventualmente, o alto-comando o transferiu para ser instrutor, e mais tarde para o teatro oriental, aonde voou na Índia até o final da guerra.

Tenente Lacey terminou seu serviço militar com um bom número de aviões perdidos, mas no cômputo geral, se saiu muito bem, tendo derrubado 28 aviões inimigos, mais cinco prováveis e nove danificados.

Ginger Lacey continuou voando na aviação civil, se tornou empresário, falecendo em 1989 aos 72 anos, sem nunca mais ter pulado de um avião.

 

3 – Rheinbote – O míssil secreto de Hitler

Quase todos os documentários foram nas bombas voadoras V1 e V2, mas os nazistas tinham todo tipo de mísseis em desenvolvimento, dos foguetes antiaéreos portáteis Fliegerfaust, redescobertos pelo Battlefield V, a armas como o Rheinbote, o foguete V4 que é melhor que tudo que a Ucrânia tem atualmente, em termos de alcance.

O bicho tinha 4 estágios (Crédito: Domínio Público)

A idéia, no papel, era excelente. Um foguete de quatro estágios, com impressionantes 200Km de alcance, capaz de ser lançado de caminhões, e atingir alvos com precisão.

Infelizmente (para os alemães, o que é sempre bom) o Rheinbote tinha mais desvantagens do que vantagens. Usar combustível sólido era bom, evitava todo o trabalho e o perigo de lidar com Oxigênio líquido, mas o resto era uma porcaria.

Sua ogiva era mínima, 40kg, versus uma tonelada no foguete V2. Ela também não causava danos de fragmentação, se resumia a uma cratera de 1,5m no solo. Isso se ele atingisse chão duro, do contrário o V4 tinha a tendência de afundar no chão antes de explodir.

220 foram construídos, 200 foram lançados contra o porto da Antuérpia, mas ninguém percebeu.

 

4 – Quem não tem cão caça com Colt 1911

John Baggett era co-piloto de um bombardeiro B-24 Liberator, estacionado (ele, não o avião. Ok, os dois) em Pandaveswar, Índia. Seu esquadrão foi ordenado, em 31 de março de 1943, a executar uma missão para alvejar uma ponte em Burma, o país hoje conhecido como Birmânia.

Os japoneses não concordaram, e demonstraram sua insatisfação mandando um esquadrão de caças Ki-43 para interceptar os americanos. A briga era bem injusta, se isso existisse em guerra. Os B-24s nem tinham escoltas de caças, e suas metralhadoras não eram páreo para a agilidade dos aviões inimigos.

O esquadrão foi dizimado, com tripulantes pulando de pára-quedas, mas o drama não acabou ali. Quem se aprofunda um pouquinho só sabe que o Japão não era nada kawai na Segunda Guerra, caprichando em todo tipo de atrocidades, da Marcha da Morte à Unidade 731. Por isso nenhuma surpresa que os japas alvejassem os tripulantes inimigos em seus pára-quedas.

Baggettt, em tempos mais felizes (Crédito: Domínio Público)

Baggett viu vários colegas destroçados pelos canhões de 20mm dos Nakajima Ki-43 Hayabusa. Sem opção, ele resolveu se fingir de morto.

Um piloto inimigo começou a circular, passando em baixa velocidade com a carlinga aberta, para ter melhor visibilidade. Ele queria ver se Baggett estava realmente morto ou só fingindo.

Em uma dessas passagens, Baggett sacou sua pistola automática Colt 1911 calibre 45 e descarregou o carregador no piloto inimigo, que mergulhou em espiral.

Baggett não conseguiu acompanhar o avião depois disso, a situação era muito caótica, mas ele acabou chegando ao chão, e foi capturado. Dos 9 tripulantes de seus avião, 5 haviam morrido.

O campo de prisioneiros ele conheceu um tal Coronel Harry Melton, que havia ouvido sobre um piloto japonês que saltara de seu avião, e foi encontrado morto com uma bala na cabeça.

Ninguém ligou Baggett ao caso, o que seria basicamente impossível a menos que ele se gabasse.

Como Baggett fez boca de siri, não foi justiçado pelos japas, e terminou a guerra sendo libertado depois da rendição incondicional. Dos 80kg que tinha, Baggett havia perdido 40, mas sobreviveu para viver até 2006, quando faleceu aos 85 anos.

5 - Calma, calma

O USS Wisconsin (BB-64) é um encouraçado classe Iowa (a mesma do Força em Alerta). É um monstro de 58 mil toneladas. Ele foi comissionado em abril de 1944, no finzinho da 2a Guerra. Quatro anos depois foi para a reserva, chamado de volta ao serviço em 1951, com a Guerra da Coréia.

Uma de suas missões era prover suporte de artilharia para tropas em terra, e com isso acabou ficando próximo da costa. Próximo demais, ele ficou ao alcance de uma bateria costeira inimiga, que acabou acertando o Wisconsin com um projétil de 155mm.

Projétil de 155 mm (Crédito: US Marine Corps / Lance Cpl. Sean Searfus)

Um tiro desses não é brinquedo, estraga seu dia. Só que o Wisconsin foi feito para almoçar esse tipo de projétil. Sua couraça variava entre 500mm e 300mm dependendo da região. É preciso muito mais que uma biribinha dessas para furar meio-metro de puro aço.

Três marinheiros ficaram feridos sem gravidade, mas o Comandante e a tripulação acharam um desaforo. No melhor estilo Iron Man, "minha vez", eles identificaram a posição da bateria inimiga, e apontaram as três torres do Wisconsin.

Cada uma continha três canhões de 406mm. No total nove projéteis altamente explosivos, cada um pesando mais que um fusca, foram disparados contra os norte-coreanos.

Marinheiros preparam munição de 406 mm (Crédito: US Navy)

USS Iowa (BB-61) dando uns tirinhos (Crédito: US Navy)

Antes que os primeiros tiros atingissem o alvo, os canhões já haviam sido recarregados e disparavam novamente. O Wisconsin disparou de novo, e de novo. Um destróier de escolta que passava ao largo sinalizou via código-morse, "Temper, temper", que pode ser traduzido por "Calma, caras".

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