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Operação Praying Mantis: A guerra de 8h entre EUA e Irã

Não é de hoje que o Irã se mete a fazer graça, mas poucas vezes foi tão mal-planejado quando resolveu enfrentar os EUA no Golfo Pérsico

30/01/2024 às 20:16

Quem acompanha geopolítica sabe que o Irã anda se engraçando no Oriente Médio, armando terroristas Houthi, que por sua vez atacam navios no Mar Vermelho. É possível que isso não acabe bem, há precedentes e o resultado não foi nada bom pro Irã.

Ronald Reagan, explicando os fatos da vida para o Irã (Crédito: Stable Diffusion)

Era 1988, oito anos do começo da guerra Irã-Iraque. Irã sob sanções, Iraque exportando petróleo. O Irã atacava constantemente petroleiros no Golfo Pérsico, primeiro com bandeira do Iraque, depois partiram para ataques indiscriminados, muitas vezes usando lanchas e guerrilheiros com RPGs. Os vídeos são impressionantes:

Para lidar com isso foi formada uma coalizão, liderada pelos EUA, onde navios de guerra escoltavam petroleiros. Isso dissuadiu um pouco as forças iranianas, que passaram a trocar ataques diretos por minas. Vários navios foram atingidos, milhões de dólares de prejuízo, mas em 14 de abril de 1988 as minas do Irã olharam para onde não deviam e atingiram o destróier USS Samuel B. Roberts (FFG-58).

O Samuel Roberts era quase zero km, havia sido comissionado em 1986, ainda tinha aquele cheiro de destróier novo, os assentos ainda com plástico, o capitão nem tinha tirado o plastiquinho dos espelhos.

Durante uma missão de rotina, o USS Samuel Roberts percebeu objetos estranhos no mar. Rapidamente identificaram como minas magnéticas. Tentaram sair do campo minado dando ré, mas a sorte do Samuel Roberts acabou rapidamente. Uma mina detonou embaixo do navio, na altura da engenharia. A explosão foi brutal, a quilha do navio foi destruída. O Samuel Roberts só estava inteiro por causa da superestrutura, assim como a Galáctica em seu último salto, o Roberts quebrou a coluna, não iria a lugar nenhum.

Samuel B. Roberts sendo transportado para o estaleiro nos EUA (Crédito: US Navy)

As duas turbinas a gás também foram arrancadas de seus reparos, um rombo de 5 metros no fundo do navio deixava entrar milhares de litros de água por segundo. Era o fim do USS Samuel B. Roberts.

Exceto que a tripulação era campeã da Marinha em controle de danos, vencendo repetidamente competições. O comandante mantinha todo mundo tinindo. Cada marinheiro sabia o que fazer em qualquer situação. Todos, oficiais e alistados, praças e suboficiais, correram para conter os danos.

Compartimentos estanques foram ativados, bombas esvaziavam compartimentos inundados, placas eram soldadas para tapar os vazamentos. Cabos de aço foram presos, mantendo a estrutura do navio mais ou menos rígida.

A parte de baixo do casco do Samuel B. Roberts (Crédito: US Navy)

Durante os primeiros cinco minutos o navio ficou sem energia, mas rapidamente os geradores de emergência foram acionados, e o Roberts manteve capacidade de combate. O USS San Jose, um navio de suprimentos próximo, enviou helicópteros com bombeiros e equipamento de combate a incêndio. Por cinco horas ninguém admitiu a possibilidade de perder o navio, e ao final, o Samuel B. Roberts estava estabilizado, flutuando e pronto para ser rebocado para um porto aliado.

Milagrosamente, ninguém morreu. Dez marinheiros ficaram feridos e foram transferidos  para o San Jose, mas no dia seguinte 6 retornaram, os outros 4 foram enviados para a Alemanha, para tratar queimaduras.

Equipes de forças especiais recuperaram algumas minas do campo onde o Roberts foi atingido. O número de série batia com o de minas apreendidas em lotes com destino ao irã. Era a prova que faltava, e em Washington Ronald Reagan estava com sangue nos olhos. Ele queria vingança, e a vingança, para tristeza do Seu Madruga, veio.

Quatro dias depois, em 18 de abril de 1988, o USS Enterprise chegou no Golfo de Omã, vários grupos de ataque compostos de múltiplos navios foram despachados para o Golfo Pérsico.

E quando o Big E é chamado, a coisa é séria (Crédito: US Navy)

O objetivo principal era atacar as corvetas Sahand e Sabalan, bem como destruir plataformas de petróleo usadas como base para ataque a navios aliados.

Às 08:00 o comandante do Grupo de Ação de Superfície Bravo, composto pelo transporte de tropas USS Trenton, pelo Destróier de Mísseis Lynde McCormick e pelo Destróier USS Merrill Dá um ultimato à plataforma de petróleo iraniana Sassan: “Vocês têm cinco minutos para evacuar a plataforma, depois vamos abrir fogo”.

Diante desse incentivo, quase todo mundo foge, em dois barcos. O Capitão amplia o prazo para 20 minutos, e ao final dá vários tiros de aviso. Um grupo de iranianos tenta atingir o grupo com canhões antiaéreos, mas são prontamente exterminados. O resto pede um cessar-fogo, e abandonam a instalação.

Os navios bombardeiam a Sassan por 40 minutos, depois mandam fuzileiros para instalar explosivos. A Sassan é totalmente destruída. Ao mesmo tempo, o Grupo de Ataque Charlie ataca a plataforma Sirri.

O que restou da plataforma Sassan (Crédito: US Navy)

Dessa vez os iranianos não se rendem, atacando os helicópteros com canhões de 20mm. A resposta é um total bombardeio com as armas pesadas do Cruzador de Mísseis USS Wainwright, da fragata de mísseis USS Simpson e da fragata USS Bagley.

O Grupo Bravo ruma norte, para destruir a plataforma Reckhash, quando detectam um sinal no radar, vindo em direção a eles, a uns 25 nós. Se preparam para atacar, mas o capitão manda suspender fogo, e pede uma identificação visual. Um helicóptero decola, e identifica rapidamente o alvo como um navio de guerra... soviético.

Chamando no rádio, o capitão americano pergunta ao soviético suas intenções. “Eu vim tirar fotos... para a História”. Sendo que por pouco o soviético não tinha virado história, e começado uma nova guerra.

Às 11:30 o Grupo Charlie detectou o Joshan, um barco de patrulha iraniano, vindo em sua direção. Alertados diversas vezes, os iranianos ignoraram os avisos. A última comunicação iraniana foi “Eu estou cumprindo minha missão”.

Às 12:13 o comandando do Grupo Charlie envia a mensagem “Pare seus motores, abandone o navio, eu vou afundar vocês”. Em resposta, os iranianos travaram seu radar de controle de tiro no USS Wainwright  e dispararam um míssil Harpoon.

USS Wainwright (Crédito: US Navy)

O Grupo Charlie respondeu com chaff e contramedidas eletrônicas, inutilizando o míssil inimigo. Ah sim, também responderam lançando CINCO mísseis contra o barco de 234 toneladas. O Joshan é polpificado, com os navios se aproximando para finalizar o inimigo com seus canhões.

Nisso os radares detectam três caças F4 Phantom iranianos. Dois mísseis antiaéreos SM-2 são lançados mirando os caças mais próximos. Um é destruído, outro danificado, mas consegue fugir. O terceiro caça viu a coisa ficar preta e se mandou antes de entrar em alcance.

O Irã por sua vez atacava com lanchas, classe Boghammar tudo que encontrava, inclusive plataformas de petróleo americanas.

Lanchas classe Boghammar (Crédito: sayyed shahab-o- din vajedi / Wikimedia commons)

O ataque à Reckhash é cancelado, a situação está se tornando séria demais para Washington, mas quando os Boghammars começaram seu ataque, um grupo de intruders A6 detecta os barcos, mas demora a atacar, a ordem sobe até Ronald Reagan, que autoriza. Um barco é destruído com bombas de fragmentação, mas o ataque aos boghammars no geral é mal-sucedido, apesar de ter feito o inimigo voltar pro porto.

Às 14:40 um A6 comandado por Bud Langston detecta um alvo, e desce para identificar o navio. Voando a menos de 30m de altitude, ele passa rasante sobre o alvo, é a fragata Sahand, e mais importante: Ela está atirando, e ninguém aitra em Bud Langston!

A Sahand lança vários mísseis SA2 soviéticos, que são uma bela bosta, e não conseguem travar no caça americano, que agora está fazendo a volta. As regras de engajamento são claras: Se atiram em você, você tem autorização para responder, e Bud Langston respondeu lançando um míssil Harpoon anti-navio, que atingiu a Sahand em cheio.

Sahand indo pra vala (Crédito: US Navy)

Não satisfeito, ele atinge a fragata iraniana de novo, dessa vez com uma bomba de 250kg, e depois outro Intruder lança duas de 500kg, uma perde o controle e cai na água, a outra atinge em cheio na ponte da Sahand, que queima até afundar.

A Sabalan, que estava no porto, parte para alto mar, apenas para atirar inutilmente em um grupo de Intruders, o que irritou os pilotos. Um deles, Tenente-Comandante James Angler, entrou em modo-Stuka, em um mergulho de 35 graus, lançou uma bomba guiada a laser de 250kg direto na chaminé da Sabalan, destruindo a Engenharia e inutilizando o navio.

Para sorte do Irã, o Pentágono decidiu que já era o suficiente, os ataques são cancelados e os americanos nem respondem quando os iranianos tentam lançar vários mísseis anti-navio silkworm, que ou erram, ou são devidamente inutilizados pelas contramedidas.

Ao final do dia, metade da marinha iraniana estava no fundo do mar. As únicas baixas americanas foram dois mortos em um acidente com um helicóptero.

Sem conseguir controlar as águas do Golfo, o Irã acabou aceitando ir para o tapete de negociações, e alguns meses depois a Guerra terminava, empatada.

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