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The Making of Karateka, o documentário que nós precisamos

Funcionando como um documentário interativo, The Making of Karateka contará os bastidores da criação do clássico de Jordan Mechner

35 semanas atrás

Pode até soar piegas, mas Jordan Mechner é uma lenda viva! Com suas criações tendo influenciado mais de uma geração de desenvolvedores, tudo começou em 1984 com um jogo que se tornou um verdadeiro clássico. Quase quatro décadas depois, está chegando a hora de conhecermos os bastidores daquela criação, num promissor documentário interativo chamado The Making of Karateka.

The Making of Karateka

Crédito: Divulgação/Digital Eclipse

Filho de um psicólogo e de uma programadora, Mechner nasceu em Nova York e no início da década de 80 entrou para a Universidade de Yale. Enquanto estava estudando, aquele jovem desenvolveu alguns jogos usando um Apple II, mas eles sempre eram rejeitados pelas editoras. Primeiro foi um clone do Asteroid, depois outra adaptação do clássico para fliperamas, que ele chamou de Deathbounce… Mas suas criações nunca eram aceitas.

Diante da frustração, ele dedicaria dois anos da sua vida a um projeto autoral, um jogo que chamaria Karateka e que seria fortemente inspirado pela cultura japonesa, dos mangás aos filmes de Akira Kurosawa, passando ainda pelo estilo de arte Ukiyo-e. Mechner também teria como fonte de inspiração os primeiros filmes animados da Disney, assim como os longas criados na época do cinema mudo.

No jogo assumiríamos o papel de um guerreiro sem nome, cuja missão seria invadir o castelo de um perigoso vilão que raptou a Princesa Mariko. Com uma legião de asseclas pelo caminho e muitos obstáculos a serem ultrapassados, alcançar o objetivo não seria nada fácil.

The Making of Karateka

Crédito: Divulgação/Digital Eclipse

Porém, não foram exatamente o enredo ou até mesmo a jogabilidade daquele título o que mais chamou a atenção. Conforme avançávamos pelo castelo era possível ver cenas não interativas que mostravam a situação da princesa, algo incomum para a época. Além disso, a aventura brilhava pela precisão nos movimentos durante a batalhas, algo que foi alcançado graças a técnica da rotoscopia.

“Para o Karateka em 1982 eu filmei em uma Super-8, carreguei o filme em uma Moviola e tracei os frames em um papel vegetal,” explicou Mechner. “O próximo passo seria de alguma forma levar os desenhos para o computador. Para isso eu usei um aparelho chamado VersaWriter, que basicamente eram dois potenciômetros conectados para fazer um pantógrafo ligado à porta de controle de jogos do Apple. Aquilo funcionou muito bem.”

Página da HQ Replay - Memoir of an Uprooted Family (Crédito: Reprodução/Jordan Mechner)

A criação de Jordan Mechner teve um impacto imenso na indústria, mostrando para muitas pessoas que os jogos podiam ter temáticas mais maduras e animações realistas. Depois ele voltaria a explorar a rotoscopia com o desenvolvimento do Prince of Persia, título que se mostraria até mais influente.

Ao todo, Mechner só criou seis jogos: Karateka, Prince of Persia, Prince of Persia 2: The Shadow and the Flame, The Last Express, Prince of Persia: The Sands of Time e um remake da sua primeira obra, lançado em 2012. Mesmo assim, muitos desenvolvedores admitem ter bebido da fonte criada por ele e se hoje os jogos costumam adotar uma abordagem mais cinematográfica, muito se deve às suas primeiras obras.

Pois a Digital Eclipse percebeu que tamanha importância precisava ser mais divulgada e assim deu início ao The Making of Karateka. Em condições normais, esse seria apenas um documentário onde ficaríamos por cerca de duas horas diante da TV, mas o estúdio teve uma ideia melhor: por que não permitir que o público interagisse com o material?

Trazendo vídeos, entrevistas, fotos, áudio e todo tipo de "artefato digital" (como o modo Rotoscope Theater), o documentário tentará mostrar Jordan Mechner não como a pessoa renomada de hoje, mas como o estudante que tentava a todo custo se tornar um game designer. Para isso eles vasculharam os diários que o jovem mantinha na universidade, assim como os documentos de design que produziu enquanto desenvolvia o jogo.

O Rotoscope Theater promete ser um destaque do documentário (Crédito: Divulgação/Digital Eclipse)

Um material como este tem um enorme potencial para emocionar os fãs de videogames, mas uma parte que tem tudo para ser um dos destaques de The Making of Karateka é a apresentação de Francis Mechner, pai de Jordan. Além de ter criado os sons para o jogo, foi o psicólogo quem sugeriu ao filho o uso da rotoscopia, quando este estava tendo dificuldade para criar as animações. Também foi ele que num determinado dia vestiu o quimono da esposa e correu pela floresta que ficava nos fundos da casa e quem já jogou Karateka provavelmente entenderá a importância desta ação.

Mas o The Making of Karateka não entregará interatividade apenas ao nos colocar para escolher cards informativos ou navegar por uma linha do tempo. Com este documentário também poderemos jogar a criação de Jordan Mechner, das versões que chegaram às lojas até os vários protótipos que o rapaz produziu durante os dois anos de desenvolvimento.

Nós também teremos acesso a uma remasterização do jogo, onde encontraremos novos gráficos, uma jogabilidade atualizada e nova trilha sonora. Talvez os mais puristas prefiram passar longe desta repaginada, mas por se tratar de um jogo criado há tanto tempo, acredito que essas melhorias deverão tornar o Karateka bem mais interessante ao novo público.

Outro recurso de deverá tornar mais legal a experiência de jogar o Karateka serão os comentários e para quem tiver curiosidade em ver o que antecedeu esse clássico, o pacote ainda trará o Deathbounce: Rebounded, remasterização e primeiro lançamento comercial do jogo que foi recusado pelo pessoal da Broderbund.   

“Se o The Making of Karateka fosse uma exibição interativa no Strong Museum of Play (de cuja coleção vieram muitos dos materiais de arquivo), seriam necessárias várias salas e uma tarde inteira para explorar,” defendeu Mechner. “Agora, quando eles lançarem o pacote completo, você poderá fazer o download, jogar e descobrir quando quiser.”

Com previsão de lançamento para até o final do nosso inverno, The Making of Karateka terá versões para PC, Nintendo Switch, PlayStation 4 e 5, assim como Xbox One e Xbox Series S|X. Também vale dizer que ele será apenas o primeiro título do que a Digital Eclipse batizou como Gold Master, uma série que revisitará alguns clássicos.

Eu nunca havia pensado nisso, mas como dito pelo pessoal da desenvolvedora, talvez “os videogames sejam o melhor meio para contar as histórias da história dos jogos.” Até por sempre ter achado que faltam documentários que revisitem o passado da mídia, essa é uma iniciativa que considero muito interessante e mesmo sem saber quais os próximos títulos que serão abordados por eles, já estou bastante empolgado e ansioso.

Eu só espero que o estúdio consiga localizar todo esse material para o nosso idioma, mas a julgar pela página do documentário no Steam, isso infelizmente não acontecerá. Tomara que seja apenas uma informação errada, algo que já vi acontecer por lá.

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