Ronaldo Gogoni 14 semanas atrás
Pesquisadores da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, desenvolveram um novo modelo de câmera-pílula, que se difere de outros modelos por ser "navegável", podendo ser controlada magneticamente.
O dispositivo é um passo além para a realização de exames de endoscopia menos invasivos, e, ao mesmo tempo, que não dependam do próprio organismo do paciente para conduzir a câmera pelo trato gastrointestinal.
A NaviCam não é diferente de uma pílula, e não é a primeira câmera do tipo, mas esta pode ser conduzida magneticamente (Crédito: AnX Robotica Corp./George Washington University)
A endoscopia é um dos procedimentos diagnósticos mais invasivos e incômodos para o paciente que existe. Ele consiste na inserção de um longo tubo flexível, com uma câmera na ponta, garganta adentro do paciente, para visualizar o estômago, esôfago e duodeno. A colonoscopia, por sua vez, é voltada à análise dos intestinos grosso e delgado.
Ambos procedimentos demandam anestesia do paciente, mas são invasivos e causam diversas reações ao examinado. Com o tempo surgiu uma opção menos agressiva, a cápsula endoscópica. Trata-se de uma câmera em formato de pílula que deve ser ingerida, e uma vez no organismo, provê imagens do interior do paciente quase que da mesma forma que o tubo.
Só que a cápsula endoscópica possui uma desvantagem em relação à endoscopia tradicional, o controle fino. O tubo é manipulado livremente pelo médico, que aponta a câmera para o que ele deseja ver. Já a pílula depende dos movimentos peristálticos para navegar do esôfago ao estômago, e por não ser móvel, o sensor vai captar o que quer que esteja apontando.
Foi considerando essa desvantagem que os pesquisadores da Universidade George Washington, em parceria com a AnX Robotica, uma empresa de equipamentos médicos, desenvolveram a NaviCam, um modelo de cápsula endoscópica de 27 mm, equipada com uma câmera de 640 x 480 pixels, e o mais importante, navegável.
Feed da NaviCam exibe sinais de gastrite em estômago de voluntário (Crédito: Meltzer Et Al/IGIE/10.1016/J.Igie.2023.04.007)
Uma vez ingerida, o paciente deve permanecer deitado em uma mesa especial, enquanto o médico responsável por realizar o exame, usa um console e dois joysticks para conduzir a cápsula, mediante um campo magnético induzido pelo equipamento externo.
A NaviCam é capaz de ser mover em todas as direções, o que é descrito no artigo (cuidado, PDF) como "movimentação 5D", linear em 3D e rotacional em 2D. A câmera, que possui campo de visão de 160º, permite transmitir um feed contínuo ao console, mostrando exatamente o que o médico quer ver, sem ter a necessidade de virar e remexer um tubo incômodo dentro do paciente.
Nos testes conduzidos, a NaviCam entregou dados com 95% de precisão, enquanto os pacientes foram submetidos à endoscopia tradicional depois, por questões lógicas (é um experimento, afinal). Claro, 80% deles preferem a pílula ao tubo, o que acho um número até baixo.
O experimento mais recente é similar à pílula navegável desenvolvida por uma parceria entre o MIT e o CalTech, apresentada no início de 2023, porém, este não tinha câmera, diferente da solução da AnX Robotica, que praticamente nasceu pronta.
Idealmente, a NaviCam pode levar à adoção de um método de endoscopia que envolve menores tempos de espera e recuperação, redução de custos com manutenção, e consequentemente, uma conta a pagar mais comportada para o paciente, ao menos nos EUA.
Já no Brasil, cápsulas endoscópicas tradicionais são usadas de forma limitada na rede particular de saúde (o exame não é coberto pelo SUS), e o custo é bem alto, entre R$ 3 mil e R$ 6 mil.
JOHNSON, R., WEBBER, C., THOMPSON, T.J. et al. Magnetically controlled capsule for assessment of the gastric mucosa in symptomatic patients: a prospective, single-arm, single-center, comparative study. iGIE: Innovation, Investigation and Insights, 9 páginas, 1.º de junho de 2023. Disponível aqui.
Fonte: ExtremeTech