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Shadows of Doubt — True Detective

Servindo como um "simulador de detetives", Shadows of Doubt nos coloca para desvendar casos gerados aleatoriamente e onde nunca sabemos o que esperar

51 semanas atrás

Até por ser um apaixonado por RPGs, sempre fui fascinado por jogos que nos colocam para interpretar papéis, nos fazer assumir a identidade dos mais variados personagens. Por isso um jogo chamado Shadows of Doubt me interessou no momento em que o conheci e a seguir contarei um pouco sobre como tem sido viver como um detetive.

Shadows of Doubt

Crédito: Divulgação/ColePowered Games

“A hiperindustrialização tomou conta do planeta. O antigo império Bourbon caiu, dando espaço para os Estados Unidos do Atlântico e para a primeira megacorporação presidente na história: Starch Kola. Com o aumento do nível do mar, as cidades se tornaram ilhas poluídas. Os trabalhadores sonham em escapar para os Prados, um bairro exclusivo para aposentados, para poucos. Corporações rivais se digladiam pelo poder, policiadas pela Patrulha particular da Starch Kola. Alguns dizem que a justiça agora só existe nas sombras...”

Suffragette City, terça-feira, 3 de janeiro de 1979

Passa da meia-noite quando acordo subitamente. Faz muito frio e as fortes trovoadas me fazem perceber que a cidade está chorando novamente. Não adianta continuar deitado, é melhor me levantar, encontrar algo para ocupar a minha mente e conforme me dirijo à cozinha, ouço o telefone tocar.

Àquela hora, nada de bom poderia estar me esperando do outro lado da linha e quando atendo, ouço apenas sussurros, palavras desconexas que não fazem sentido. Poderia ser apenas um sonho, mas então escuto movimentos do lado de fora do apartamento e quando chego perto da porta, um misterioso bilhete está jogado no chão. Nele posso ler uma simples frase... “Encontre Carla Navarro.”

Há muitos anos levo a vida como posso, sofrendo para conseguir o dinheiro para o aluguel e para me alimentar. Como faço isso? Trabalhando como detetive particular, fruto da experiência que adquiri após anos como policial. Mas se a mensagem que deixaram para mim é um trabalho, é um péssimo jeito de fazer negócios...

Sem fazer a menor ideia de quem poderia ser aquela mulher, corro para a lista telefônica e a folheio até a letra N. Lá está! C. Navarro, moradora do apartamento 303, do Head Center. Com essa informação em mãos, está na hora de me dirigir para o endereço, mas antes me certifico de coletar alguns grampos de cabelos e clipes de papel, pois nunca se sabe quais cadeados poderei encontrar pelo caminho. Outro item que poderá ser extremamente útil é o meu surrado leitor de impressões digitais.

Por fim, também aproveito para ler meus V-mails no microcontabilizador velho que está no quarto, mas não encontro nada ali que valha a atenção. Após reunir alguns detalhes sobre a tal Sra. (ou seria Srta.?) Navarro em meu quadro de informações, está na hora de partir, de encarar todas as agruras que a cidade tem para esfregar na minha cara.

Quem matou Carla Navarro?

Mesmo sabendo que existem lugares muito piores no mundo, eu odeio Suffragette City e a odeio ainda mais quando está chovendo. Ser “obrigado” a sair de casa numa noite como essa é algo que me faz perceber como são melancólicas suas ruas, com seus prédios no estilo noir e moradores — quase sempre mal-educados — caminhando com passos apressados. A sensação é de que ninguém gostaria de estar ali.

Crédito: Divulgação/ColePowered Games

No entanto, o trabalho sujo precisa ser feito por alguém e entre devaneios e sob muitos pingos de chuva, finalmente chego ao Head Center. Sua entrada fica num beco localizado ao lado de uma Sync Clinic, onde eu poderia muito bem aproveitar para fazer um implante, mas para isso eu precisaria de um Sync Disks, artigo raríssimo hoje em dia.

Enfim, do saguão do prédio trato de subir as escadas correndo, afinal são apenas três andares e após passar tanto tempo me alimentando com gordurosas asas de frango regadas a whisky barato, qualquer forma de exercício pode ser benéfica. Pensando bem, por que continuar adiando o inevitável?

Mas a minha hora ainda não chegou e diante do apartamento de Carla Navarro me encontro num dilema. Invadir o local seria um crime, mas como ninguém atendeu as minhas batidas, não tenho muitas opções. Por sorte a mulher deixou uma chave embaixo do tapete, mas para não arriscar ser pego, o melhor é desativar as câmeras que se encontram nos corredores. Para isso me dirijo a uma central de segurança presa a parede e com a ajuda das gazuas que montei em casa, consigo abrir o cadeado e me livrar dos olhos eletrônicos que me acompanhavam.

De volta ao apartamento 303, logo após passar pela porta me certifico de trancá-la, afinal não quero ser incomodado e o que encontro na sala de estar é uma mistura de cena de filme de terror com um macabro parque de diversões para um detetive. No centro vejo o cadáver de uma mulher de meia-idade, o corpo contorcido, com o rosto virado para o chão. Após uma breve verificação, percebo que há uma entrada de bala em sua cabeça, provavelmente uma 8mm ou 9x32. A morte deve ter sido rápida, tendo ocorrido entre 23h30 e 0h45.

O quadro de investigação do Shadows of Doubt (Crédito: Reprodução/Dori Prata/Meio Bit)

Enquanto ouço a TV ao fundo, que permaneceu ligada em algum filme antigo, me dou conta de que não posso permanecer ali por muito tempo e começo a investigar melhor a cena do crime. Num quadro ao lado da porta posso ver a seguinte anotação: “Vá para o Iguana Screws & Nails, bata na porta e dê a senha: Honey C.” Já numa cômoda encontro um V-mail falando sobre um pedido no nome da Sra. Navarro (confirmado, ela é ou era casada!) para a realização de um seguro de vida. Ambas as informações são bastante suspeitas.

Já em outro móvel acho uma identificação de trabalho no nome de Carla Navarro, uma administradora de RH na Coral Clerical e cuja foto bate com o corpo que está jogado atrás de mim. Usando o meu leitor, ali encontro uma digital do tipo B, correspondente a da vítima e outra do tipo A. Logo, não resta dúvida de que mais alguém esteve ali.

Nessas situações, uma boa ideia costuma ser discar para o famoso serviço 541-0000, para assim saber qual foi o último número discado daquele telefone. Obtenho como resposta o 217-3611 e após verificar a agenda que está ao lado, descubro que ele pertence a alguém chamada Celia, moradora do Ryan Building, 802. É melhor lhe fazer uma visita, mas antes tive uma ideia que pode não dar em nada ou ser bastante reveladora: vasculhar o lixo da Carla.

Por sorte, lá encontro um recebo do restaurante Apple Tree Falcon Dining e como ele foi emitido às 22h45 da noite anterior, pode ter sido um dos últimos lugares em que a vítima esteve. Mas antes de decidir para onde seguir, preciso me preocupar com o barulho vindo do corredor. Alguém está tentando entrar no apartamento, provavelmente agentes da Patrulha, mas eu não posso ser encontrado. Como vi um duto de ar no banheiro, será por lá que escaparei.

“Brinque com fósforos, e você se queima”

Foi por pouco, mas já fora do prédio me dirijo à prefeitura para coletar o Formulário de Resolução de Caso de Homicídio e após garantir a papelada, não demoro para decidir qual será meu próximo passo. Entre os vários lugares que poderia visitar, o restaurante em que Carla Navarro esteve fica em frente ao principal prédio do município, então me certifico de falar com a atendente, uma mulher chamada Amy Kelly.

Após uma rápida conversa com a simpática Amy, ela me diz que viu Carla perto do Head Center (como assim?), mas as informações param por aí. Seria importante ter acesso ao sistema interno de TV, mas como ela obviamente não me deixará vasculhar o microcontabilizador do estabelecimento, eu precisaria ser criativo.

Crédito: Reprodução/Dori Prata/Meio Bit

Entrar pela porta principal do escritório parece fora de cogitação, afinal ela é protegida por um teclado numérico e mesmo que tivesse a senha, eu não conseguiria passar desapercebido pela atendente. Porém, como sei que dutos de ar são comuns nessa cidade, faço uma varredura no prédio e encontro um perto do banheiro. Lá vou eu novamente me espremer por lugares pequenos e sujos, mas a aposta dá resultado e consigo chegar logo acima da mesa do escritório.

Após usar minhas gazuas (?) para desativar a câmera que monitora aquela sala, sei que precisarei ser rápido e por isso me certifico de procurar gravações feitas por volta das 22h45. Felizmente a investigação foi positiva, pois descubro que Carla Navarro esteve acompanhada de um homem ainda desconhecido. Quem será aquele cidadão? Será que ele está envolvido no assassinato?

Para começar a responder a essas perguntas preciso verificar a mesa em que eles estiveram sentados e lá encontro um papel amassado que fala sobre um grupo de apoio. À caneta é possível ler a seguinte inscrição: “Vá até Carla, você vai se sentir melhor. Diga que Omari Abanda enviou você.” Bingo, este deve ser o nome do sujeito que aparece na filmagem!

Crédito: Divulgação/ColePowered Games

Sabendo daquele nome, corro para o telefone público que está localizado ao lado da entrada do Apple Tree Falcon Dining e descubro que ele mora no apartamento 302 do Harjo Building. Aquela seria a minha próxima parada e ao chegar lá, prefiro acreditar que o homem ainda está vivo e mesmo com um certo receio, bato à sua porta.

O Sr. Abanda me informa que trabalha com Carla Navarro, se mostra surpreso com a informação de que ela morreu e ao citar o nome Celia, ele rapidamente muda de cor. Segundo o sujeito, Celia Narcisse é uma matadora de aluguel e mesmo desconhecendo o envolvimento de sua amiga com alguém daquele nível, ele me diz que teme pela sua vida, chegando a me dar 200 Crowns como incentivo a encontrar aquela mulher.

Após aquele encontro me dou conta de estar envolvido em algum muito maior do que apenas o assassinato de uma administradora de RH. Será que Omari está exagerando ao desconfiar de Nacisse? Será que outros crimes acontecerão? Será que conseguirei desvendar esse mistério? E acima de tudo, será que a minha própria vida está em perigo?

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Shadows of Doubt

Apenas um dia comum em Shadows of Doubt (Crédito: Divulgação/ColePowered Games)

O que você acabou de ler foi uma dramatização do que encontrei apenas na primeira hora da campanha “A calada da noite”, que serve como um tutorial para o Shadows of Doubt. No jogo teremos que desvendar casos de assassinatos, sendo que as vítimas, assassinos e a própria cidade serão gerados aleatoriamente, o que garante que uma investigação nunca seja igual a outra.

Embora a estrutura de campanha não mude muito, ela serve para nos preparar para algo muito maior, que é o modo livre. Nele um serial killer estará a solta onde moramos, cabendo ao jogador decidir como prosseguir para encontrá-lo e é aí que entra o ponto alto da criação da ColePowered Games.

Isso porque, além do fator replay bastante elevado, uma das principais características do Shadows of Doubt está na liberdade que ele nos proporciona. Ao explorar o mundo do jogo poderemos entrar, ou invadir qualquer apartamento, loja ou empresa, usando os mais variados métodos para conseguir isso.

Ainda se encontrando em estágio de Acesso Antecipado, Shadows of Doubt até pode contar com uma variedade de conteúdo um tanto limitada, mas a lista de atualizações prometida pelo desenvolvedor faz com que o futuro do jogo seja bastante promissor. Da inclusão de novas interações com os NPCs (incluindo eles mentirem), até a adição de novos prédios, estamos diante de um título muito interessante e que poderá até se tornar referência quando se trata da implementação de narrativas emergentes.

Por enquanto eu só lamento a maneira como o jogo está funcionando com controles, já que a interação com a interface não é das melhores. Outro ponto que também precisa melhorar é a otimização, mas nisso o criador, Cole Jefferies, já disse que está trabalhando.

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