Infernax: Deux or Die — Como reinventar uma joia

Com tantos jogos sendo lançados semanalmente, é fácil deixarmos passar algumas pérolas e em 2022 em cometi esse erro com um metroidvania que foi bastante elogiado, o Infernax. Um ano depois, uma fantástica atualização revitalizou o jogo e isso me fez perceber como a criação do Berzerk Studio é simplesmente fantástica.

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Na verdade, encarar a aventura do Duque Alcedor agora não foi uma experiência totalmente inédita para mim. Disponibilizado no Game Pass já no dia do seu lançamento, eu até comecei a jogá-lo na época, mas algum outro jogo acabou ganhando prioridade e por isso não cheguei a avançar muito em sua história.

Nela assumiremos o papel de um cavaleiro que após retornar das Cruzadas descobre que a seu reino foi tomado por monstros. Munido de uma maça e um escudo, o guerreiro responde como a última esperança para os habitantes do lugar e enquanto avança aniquilando mortos-vivos, bandidos e todo tipo de seres repugnantes, ele ainda terá que tomar duras decisões.

Já no início Alcedor se deparará com um sujeito que parece possuído por uma força maléfica e ali ficará claro como o mundo de Infernax é violento. No caso de pouparmos o sujeito, ele será transformado num monstro horrendo, com o jogo nos colocando para enfrentar o primeiro de muitos chefes que cruzarão o nosso caminho. Já se optarmos por acabar com a vida da pessoa, o protagonista mostrará o efeito de uma maça se chocando contra um crânio, numa ilustração bastante chocante.

Pois essas escolhas afetarão a maneira como as pessoas passarão a nos enxergar, com os vários finais disponíveis dependendo diretamente do que realizamos durante a campanha. Além disso, o jogo também aproveita outros elementos típicos dos RPGs para nos oferecer alguma profundidade, como a obtenção de magias e o ganho de experiência.

Quem está acostumado com metroidvanias sabe que ir e voltar pelo mapa é algo corriqueiro e embora esse processo costume ser um pouco chato, no caso do Infernax os desenvolvedores utilizaram alguns recursos para tornar o backtracking mais interessante. Entre eles está a necessidade de enfrentarmos o maior número possível de inimigos para evoluirmos o nosso personagem e a realização de missões paralelas também contribui para não sentirmos que estamos realizando sempre a mesma coisa.

Nunca escondendo a sua inspiração na série Castlevania, especialmente no Castlevania II: Simon’s Quest, explorar o mundo criado pelos canadenses do Berzerk Studio acabou se mostrando uma experiência muito divertida e em alguns momentos bastante desafiadora. Eu só senti falta de mais itens que liberassem partes do mapa que parecem inacessíveis, mas para quem procura um metroidvania mais curto, encontrará nele uma ótima opção.

Já para quem adora encontrar segredos em jogos assim, será possível passar um bom tempo apenas tentando realizar todas as tarefas que os personagens nos pedem ou descobrir o que está escondido pelo mapa. Isso sem falar em encarar a história tomando decisões diferentes da primeira vez, o que poderá desbloquear diálogos e animações que nem imaginávamos existirem.

O brilhantismo de Deux or Die

Terminada a história principal, chegava a hora de conhecer o que os desenvolvedores preparam para a expansão Deux or Die e eu não poderia ter ficado mais surpreso com o que encontrei.

Disponibilizado gratuitamente para quem já possuía o jogo, o conteúdo prometia adicionar um modo para que duas pessoas pudessem jogar juntas, o que de fato aconteceu. Agora, graças a adição de um novo personagem chamado Cervul, podemos viajar pelo mundo de Infernax na companhia de um amigo ou encarar a aventura enquanto alternamos entre os dois personagens, com o segundo nos acompanhando automaticamente.

Contudo, o que mais chama a atenção nesta atualização é o fato de Cervul não se tratar de apenas um “Alcedor verde”. Com ele teremos uma jogabilidade bem diferente daquela oferecida pelo personagem principal, sendo que até as melhorias funcionarão de uma maneira um pouco diferente. Eu explico.

Enquanto o herói criado num primeiro momento se valia de ataques a curta distância e de magias para se proteger, dessa vez o foco estará no suporte, com os arremessos de machado e habilidades que poderão ser desbloqueadas para Cervul nos fazendo pensar e agir de outras formas.

Com escudeiro poderemos, por exemplo, recuperar a nossa energia ou de quem estiver junto conosco; poderemos disparar com uma besta (que precisa ser recarregada); invocar um baner que nos deixará mais rápidos e fortes; ou utilizar um escudo que poderá ser carregado ou “plantado” no chão.

Isso por só já seria motivo mais do que suficiente para jogar o Infernax novamente, mas lembra quando eu falei sobre o sistema de moralidade? Pois ele influenciará diretamente no comportamento de Cervul. Isso porque caso o personagem penda para o lado maléfico com as decisões que tomarmos, suas habilidades mudarão completamente.

Assim, os machados serão substituídos por potes inflamáveis, o escudo disparará um raio poderosíssimo e teremos acesso a adagas venenosas. O que você acha de poder invocar um demônio chamado Glex'tar e que disparará monstros explosivos nos inimigos? Ainda teremos acesso a uma estranha poção que recuperará completamente nossa energia, algo que poderá ajudar muito nas situações mais críticas.

Num primeiro momento, confesso ter ficado preocupado com a maneira como o jogo poderia se tornar muito mais fácil do que jogando sozinho, porém, o pessoal do Berzerk Studio tomou o cuidado de reequilibrar a dificuldade. Jogando com outra pessoa encontraremos muitos mais inimigos na tela e como os personagens possuem habilidades tão distintas, a colaboração será fundamental para termos sucesso.

Por outro lado, encarar mais inimigos fará com que o ganho de experiência seja mais abundante, o que consequentemente permitirá que os personagens se tornem mais poderosos em menos tempo. Logo, se num primeiro momento sofreremos para derrotar os monstros, não tardará até nos tornarmos verdadeiras máquinas de matar.

Outro ponto que lamento é a ausência de aleatoriedade ao voltar ao Infernax. Até por se tratar de um mapa relativamente pequeno, seria legal se as missões e áreas surgissem de maneira randômica, o que daria um ar de novidade à aventura e poderia tornar o jogo muito mais divertido. Eu entendo a complexidade de implementação de algo assim, mas é um recurso que aumentaria ainda mais o fator replay.

Contudo, isso não apaga a ótima impressão deixada pela Deux or Die, uma atualização que mesmo se fosse cobrada valeria a aquisição, pois fez com que um jogo que já era excelente, se tornasse ainda melhor. Mas acima de tudo, disponibilizar o conteúdo gratuitamente mostra o carinho que os desenvolvedores têm pelo jogo e a maneira respeitosa como trataram seus fãs.

Seja você um apaixonado por metroidvanias, um fã da geração 8-bit ou um simples admirador de bons jogos independentes, Infernax é um título obrigatório. E mesmo que já o tenha terminado, a adição de Cervul e do modo multiplayer fez com que o jogo passasse a merecer uma nova oportunidade.