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China deve aumentar restrições de acesso a games por jovens

Limite de 3 horas por semana "resolveu" problema de vício em games entre menores, mas governo da China quer endurecer ainda mais as regras

1 ano atrás

A China implementou nos últimos anos duras restrições ao consumo de conteúdos digitais a todos os seus cidadãos, focando nos jovens em primeiro lugar, no que classificou apps de redes sociais e jogos online como "ópio espiritual". A bordoada, para forçar todo mundo a se realinhar com a visão do premiê Xi Jinping de todos pelo Estado, desceu com força nas cabeças de estúdios, de grandes companhias tech, e do público.

Uma das regras mais pesadas, que restringe o acesso a jogos online por menores de idade a apenas 3 horas por semana, foi devastadora para diversos estúdios, que perderam rios de dinheiro desde a implementação em 2021, mas para o governo, a medida não só foi benéfica e será mantida, como mais restrições deverão ser implementadas.

Para o governo chinês, o combate ao vício digital por menores é uma batalha constante, e mais restrições deverão ser aplicadas (Crédito: Shutterstock)

Para o governo chinês, o combate ao vício digital por menores é uma batalha constante, e mais restrições deverão ser aplicadas (Crédito: Shutterstock)

O cerco de Pequim em torno das big techs locais começou a se fechar em 2021, quando o Partido Comunista da China, do qual o presidente Xi é também secretário-geral, começou a aplicar processos e multas pesadas a companhias que, embora sejam responsáveis por trazer muito capital ao país, teriam se desalinhado com a filosofia do governo, em que todos, sem exceção, devem trabalhar em prol da nação.

Declarações soltas de executivos, como do então CEO do Alibaba Group Jack Ma em 2020, criticando a regulação como nociva ao mercado e à inovação, foi entendida pelo governo como uma declaração de que os bilionários do setor executivo, que fizeram fortunas com a política da Grande Abertura de Deng Xiaoping, passaram a se achar intocáveis.

A onda de processos, multas e restrições que se seguiu, foi um recado claro de que ninguém está acima do Estado e do ursi- digo, do premiê Xi, não importando quanta riqueza suas companhias gerem ao país; Pequim estava determinada a forçar todo mundo a voltar a seguir a cartilha do Partido, independente do enorme montante de capital que seria — e realmente foi — perdido.

Simultaneamente, o uso exagerado de redes sociais e jogos online pela população chinesa, em especial por crianças e adolescentes, também não é tolerado por Pequim. Conforme manda o Partido, todos os cidadãos adultos devem trabalhar pelo Estado em primeiro lugar, enquanto os menores têm a obrigação de estudar muito, a fim de, no futuro, se tornarem indivíduos produtivos. Os pais também devem garantir que seus filhos se mantenham na linha, sob riscos de verem sua pontuação no sistema de crédito social chinês cair.

Os adultos que abusam em jogos e redes sociais podem ser compulsivamente submetidos a reeducação ideológica, já que estes não possuem restrições de acesso, mas crianças e adolescentes é outra história. Uma série de apps de redes sociais hoje contam com ferramentas de identificação, para garantir que menores não loguem fora dos horários permitidos, compras in-app são bloqueadas ou limitadas, e o tempo de acesso também é restrito.

A paulada maior foi desferida contra os jogos online: desde 2021, menores de idade são permitidos jogar conectados por limite de 3 horas por semana, apenas nas sextas-feiras, sábados, domingos e feriados, e em uma janela de tempo específica, das 20:00 às 21:00. Isso afetou empresas locais e estrangeiras igualmente, da Epic Games desligando a versão local de Fortnite, que sequer tinha microtransações, à Microsoft removendo o LinkedIn da China.

Já o Yahoo! encerrou completamente suas operações no País do Meio.

A versão chinesa de Fortnite foi desligada em 2021 (Crédito: Reprodução/Epic Games/Tencent)

A versão chinesa de Fortnite foi desligada em 2021 (Crédito: Reprodução/Epic Games/Tencent)

As consequências foram óbvias: mais de 75% do público de menores de idade seguiram as recomendações do governo em 2022, e o dinheiro que estes gastavam minguou exponencialmente. Companhias como a Tencent, que não só distribui jogos próprios, como é uma licenciadora preferencial para desenvolvedoras externas distribuírem seus jogos (a Lei local proíbe estúdios estrangeiros de publicarem seus games diretamente), viram o faturamento encolher de forma significativa, mas não há outra alternativa: é obedecer, ou obedecer.

Do ponto de vista do governo, as mudanças atingiram seu propósito. Ao Ran, secretário-geral da Associação para a Distribuição de Áudio, Vídeo e Conteúdo Digital da China, disse durante uma conferência realizada nesta segunda-feira (13) em Guangzhou (Cantão), que os adolescentes estão desenvolvendo fazendo melhor uso de autocontrole acerca de suas obrigações, ao se limitarem às 3 horas semanais de jogos online determinadas pelo governo.

Ran também disse que os jovens estão mais conscientes dos impactos negativos do excesso de games e conteúdos digitais em sua vida, mas mesmo assim, as restrições impostas são um "compromisso de longa duração". Elas não só serão mantidas, como o governo estuda endurecê-las ainda mais. Como, ninguém sabe.

Vale lembrar que o consumo de jogos não necessariamente reduziu, visto que a medida afeta apenas os que dependem do jogador estar online; assim, experiências offline não entram na equação. Segundo a companhia de análise Niko Partners, o número de jogadores menores de idade caiu de 122 milhões em 2020 para 83 milhões em 2022, uma redução de 36%, mas isso só diz respeito às experiências conectadas o tempo todo.

É possível que a próxima rodada de restrições a jogos mire nos títulos que não dependem de uma conexão online constante para funcionarem, especialmente títulos para PC e consoles; recentemente, o governo chinês voltou a liberar licenças para a publicação de jogos no país, e não mais considera a mídia uma droga, mas "uma mídia de grande significância para o mercado industrial e a inovação tecnológica" da China.

Fonte: South China Morning Post

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