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Ajinomoto: o tempero que mais combina com chips

Ajinomoto e tecnologia não costumam andar na mesma frase, mas neste momento com quase certeza você está usando um gadget, graças à essa empresa

1 ano atrás

Ajinomoto não é o primeiro nome que vem à mente quando falamos em chips de computador ou tecnologia. Na verdade, não é nem o décimo, mas essa improvável empresa é essencial para o funcionamento do mundo moderno.

Sem MSG, sem chips, fuyooo... (Crédito: Uncle Roger)

Quando falamos de Ajinomoto, a associação imediata é com MSG, HAYAAA!!! E isso por si só já gera controvérsia. MSG, sigla em inglês para glutamato monossódico, a forma salina do ácido glutâmico, um aminoácido presente em quase todos os seres vivos na Terra, inclusive VOCÊ! (exceto se for uma IA lendo, então perdão)

O MSG tem uma característica interessante: Ele ativa receptores do sabor Umami nos nossos receptores de sabor. Descrever Umami é complexo, não é um sabor simples como doce, salgado, azedo e amargo, Umami gera mais uma sensação de que a comida é saborosa. Ele é muito presente em alimentos como tomates e cogumelos, por isso esses molhos funcionam tão bem.

Ao trocar parte do sal de cozinha por MSG, estamos “trapaceando”, criando uma sensação de sabor bem mais rica que o normal, mas se no amor e na guerra vale tudo, na cozinha mais ainda.

O MSG foi formalmente descoberto em 1866 por um cientista alemão de nome  Karl Heinrich Ritthausen, mas só em 1906 Kikunae Ikeda, da Universidade de Tóquio, isolou o Ácido Glutâmico, mas o MSG já era utilizado na culinária oriental fazia tempo.

Receitas de centenas de anos usavam algas como base, e elas são ricas em Ácido Glutâmico, mas um tempero específico seria bem mais prático. De olho grande nesse mercado, o Professor Ikeda se uniu à Suzuki Pharmaceutical e abriram a Ajinomoto, em 1907.

Kikunae Ikeda, o pai do Ajinomoto (Crédito: Ajinomoto)

O oriente como um todo adorou o MSG, e hoje ele é componente fundamental da grande maioria das receitas. No ocidente sua adoção foi mais complicada, muita gente usa sem divulgar, outros usam as formas indiretas de ácido glutâmico. A culpa foi de uma campanha de desinformação, fake News e essencialmente racismo que apontou um monte de problemas de saúde causados pelo MSG.

A situação chegou a um ponto em que se você perguntar ao Google se MSG faz mal, receberá um monte de respostas de páginas (naturebas, claro) dizendo que sim, acusando-o de causar dores de cabeça, alterações de peso, diabete, alterações de memória e comportamento...

Na realidade, o MSG é listado pela Organização Mundial de Saúde entre os alimentos mais seguros. O FDA dos EUA, a ONU, a União Europeia, todos atestam pela segurança do MSG. Apesar disso, um monte de gente diz passar mal quando consome o produto.

Claro, nenhuma dessas pessoas passará mal se você não disser que a comida foi feita com MSG. Os milhares de estudos feitos demonstraram que os “sintomas” só aparecem nos casos em que a pessoa é informada que consumiu MSG, e em uma admirável demonstração do efeito Nocebo, se ela é informada que consumiu MSG, mas não há MSG na comida, ela passa mal também.

Mas e a Ajinomoto?

Sabendo que a patente iria expirar e que precisavam diversificar, os executivos começaram a pesquisar campos onde seu know-how de química orgânica poderia ser utilizado, como Jino, sua linha de cosméticos, suplementos para atletas, ração animal e outros.

O que pouca gente conhece é o ABF - Ajinomoto Build-Up Film, que começou com pesquisas da Ajinomoto, no final dos Anos 1970, mas só em 1989 algo específico surgiu, quando um fabricante de CPUs sugeriu à empresa que fabricassem um substrato para chips.

Eu sei, pandas são chineses. (Crédito: Ajinomoto)

Esse substrato é o material que envolve os componentes semicondutores, e precisa ter um monte de características específicas. Ele tem que ser isolante elétrico, simples de aplicar, precisa responder bem aos lasers usados na fotolitografia, também deve ser bom condutor térmico, mas excelente dissipador também, para não torrar os transístores.

Shigeo Nakamura e seu laboratório repleto de japoneses extremamente inteligentes, se me permite o pleonasmo, começaram a desenvolver compostos para atender as exigências. Eles levaram quatro meses.

Na época os substratos utilizados eram na forma de tinta, que demorava a secar. O ABF era um filme plástico de aplicação imediata.

O tal ABF começou a ser testado, e usado em pequena escala, mas ninguém queria arriscar uma linha de produção completa apostando em um substrato feito por uma firma de temperos. Por sorte, um fornecedor em comum introduziu (epa!) o ABF ao maior fabricante de CPUs do mercado. Eles gostaram do produto da Ajinomoto, e como era uma época complicada, com muitos avanços e todo mundo querendo sair na frente, valia arriscar.

O ABF aplicado em diversas camadas de um chip (Crédito: Reprodução Internet)

Não foi fácil chegar até lá, em uma das primeiras tentativas de apresentação do produto, os vendedores da Ajinomoto chegaram na sede do fabricante de chips que havia encomendado o ABF, mas o guarda na portaria insistia que eles deveriam falar com o pessoal da cozinha, não com executivos.

A previsão era que o ABF duraria dez anos, mas até hoje ele é utilizado pela imensa maioria dos fabricantes de chips, e a previsão é que seu uso aumente, com um mercado de mais de US$7 bilhões para 2028. A demanda é tão grande que fabricantes como AMD e Intel estão investindo em fábricas próprias de ABF, para suprir a própria demanda.

Nada mau pra uma empresa que a maioria das pessoas acha que só faz um sal esquisito.

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