Meio Bit » Hardware » União Europeia tem um novo inimigo: as TVs 8K

União Europeia tem um novo inimigo: as TVs 8K

Novas regras da UE forçarão fabricantes de TVs a lançarem produtos que consomem menos energia, se quiserem continuar vendendo no bloco

1 ano e meio atrás

A TVs são o mais recente alvo de regulações pesadas da União Europeia. A partir de 1.º de março de 2023, todos os aparelhos vendidos nos países do bloco deverão cumprir as normas estabelecidas no novo Índice de Eficiência Energético (EEI), que determina o consumo máximo de energia pelos dispositivos.

LG QNED80: 8K e acima do limite de consumo da UE (Crédito: Divulgação/LG)

LG QNED80: 8K e acima do limite de consumo da UE (Crédito: Divulgação/LG)

Se considerarmos o mercado atual, nenhuma TV de resolução 8K hoje disponível, além das 4K com telas OLED, microLED, QLED, QNED e QD-LED, e a LCD LED com local dimming, poderão ser comercializadas na Europa a partir do próximo ano, o que está deixando os fabricantes fulos da vida.

E sim, essa medida VAI afetar o mercado global.

TVs terão que consumir menos energia

A mais recente categoria energética para consumo de energia por displays eletrônicos (TVs, monitores, qualquer coisa com uma tela) foi introduzida na União Europeia em 1.º de março de 2021, e implementou um regime de tolerância quase zero aos fabricantes. Na época, o EEI máximo para displays com resolução até Full HD (na prática, 1.980 x 1.080 ou 2.138.400 pixels) não poderia ultrapassar um índice máximo de 0,90, enquanto modelos até 4K estavam limitados a um valor de 1,10.

Estes números, segundo o site Digital Trends, foram definidos tendo como base modelos de TVs que a UE analisou, estes fabricados e vendidos no bloco entre 2012 e 2017. A metodologia e critérios usados pelos legisladores, para determinar os limites atuais do EEI, não foram revelados.

Segundo as regras de 2021, TVs e outras telas com resoluções superiores a 2160p não estavam sujeitas às restrições de consumo energético, mas isso vai mudar a partir de 2023, com a implementação de um limite ainda mais restritivo, que baixou os valores máximos também para as demais resoluções.

De 1.º de março em diante, nenhuma tela até Full HD vendida no Velho Mundo poderá ultrapassar um EEI máximo de 0,75, enquanto as acima desta resolução ficarão limitadas a 0,90, sem exceções desta vez.

Traduzindo o EEI máximo para consumo em watts, temos a seguinte tabela para TVs e monitores 4K, 8K, ou qualquer outra resolução entre essas duas, em diversas polegadas:

  • 40": 48 W;
  • 42": 53 W;
  • 48": 66 W;
  • 55": 84 W;
  • 65": 112 W;
  • 75": 141 W;
  • 77": 148 W;
  • 83": 164 W;
  • 85": 169 W;
  • 88": 178 W.

Por que os fabricantes estão preocupados agora? Quando o EEI de 2021 foi implementado, ele colocou todas as TVs de resolução 8K e 4K, com painéis OLED, QLED ou LED LCD com local dimming, na faixa vermelha da classificação energética, mas os modelos ainda se mantiveram dentro dos limites máximos aceitáveis pela União Europeia; assim, estes aparelhos e seus sucessores puderam continuar a ser vendidos no continente.

Com o novo EEI, as coisas mudam radicalmente: como o limite máximo é muito mais baixo, todos os televisores 8K, que não precisavam observar limites até então, estouram a barreira e por causa disso, não poderão mais ser vendidos nos países do bloco europeu, a partir de março de 2023. Da mesma forma, modelos 4K de diversas tecnologias de display também não cumprem com as novas regras.

TVs 4K, como a LG C1, também consomem energia acima do novo limite do EEI (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

TVs 4K, como a LG C1, também consomem energia acima do novo limite do EEI (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

OLED, HDR e 8K, os novos vilões

Tomemos como exemplo a LG C1, uma TV de 65" que resenhamos em 2021. Graças ao display 4K OLED com taxa de atualização de 120 Hz, seu consumo médio chega a 467 W, mais de 4 vezes acima do limite máximo da UE para um televisor de tamanho equivalente, apenas 112 W.

Em tempos pós-pandemia da COVID-19, o mundo entrou em uma fase de questionamento e reavaliação do consumo, devido à escassez gerada por cadeias de suprimento prejudicadas, recessão generalizada e outros fatores. A demanda energética também subiu, com mais pessoas permanecendo em casa, tanto para consumir conteúdo quanto para trabalhar (home office).

Como consequência, a União Europeia apresentou em 2021 um conjunto de medidas mais restritivas para aumentar a eficiência energética do bloco, que inclui cessar completamente as emissões de dióxido de carbono até 2050. Há também um esforço para desestimular a produção e venda de "dispositivos energeticamente ineficientes", e estimular a substituição dos em uso por modelos que consomem menos, incluindo TVs, monitores e outros displays.

O grande problema da nova restrição para telas, é que o modelo foi desenvolvido pensando em modelos até 4K, e ao invés de estabelecer um limite mais elevado para os modelos 8K, que possuem 4 vezes mais píxels que os modelos de 4K, e 16 vezes mais que uma TV Full HD.

No entanto, os legisladores europeus decidiram que os modelos 8K devem obedecer às mesmas regras para aparelhos de até 2160p. Telas OLED, bem como recursos de brilho como HDR10, local dimming e outros, e taxas de atualização mais altas, para atender o público gamer, também puxam o consumo para o alto.

Fabricantes reconhecem que haverão problemas para adequar suas linhas à nova realidade europeia; Marek Maciejewski, Diretor de Desenvolvimento de Produtos da TCL Europe, disse ao site FlatpanelsHD durante a IFA 2022, que caso as novas regras entrem em vigor do jeito que essão hoje, "adeus 8K", ao menos para a Europa.

Representantes da Samsung, por outro lado, afirmam ser possível adequar a tecnologia 8K à nova legislação, mas que isso "não será fácil", e obviamente, o custo adicional será repassado ao consumidor.

Mudanças afetarão mercado global de TVs

Considerando o comportamento padrão dos legisladores da União Europeia, rever as regras para acomodar modelos 8K em limites diferentes das TVs 4K não deverá acontecer, e as regras entrarão em vigor da maneira que foram apresentadas. Ignorar todo o mercado local também não é uma opção, logo, os fabricantes terão que rebolar e se adequarem.

Tais mudanças afetarão sem dúvida o mercado global, pois as empresas não manterão modelos distintos para regiões diferentes, assim, as próximas gerações de TVs deverão ser mais econômicas, o que será benéfico do ponto de vista do consumo e sustentabilidade.

Por outro lado, os planos para incentivar uma mais rápida adoção do 8K deverão ser freados, tanto do lado do hardware, com uma menor oferta até o consumo das telas se adequar às regras europeias, quanto do lado dos produtores de conteúdo.

E esta não é uma situação inédita, basta ver que a Apple perdeu a disputa com a UE sobre a adoção do USB-C no iPhone; no entanto, a companhia pode contornar a decisão, adotando o carregamento por indução.

Fonte: Digital Trends

Leia mais sobre: , .

relacionados


Comentários