Dori Prata 1 ano atrás
Durante a primeira metade dos anos 2010, havia a impressão de que os jogos single-player estavam com os dias contados. Com boa parte das franquias trazendo algum elemento multiplayer, as empresas apostavam nas partidas online para aumentar o faturamento e entre elas estava a EA.
Porém, mesmo com essas porções sendo muitas vezes enfiadas goela abaixo do consumidor, o mercado se autorregulou e para muitas editoras, a expectativa de “dinheiro fácil” acabou se mostrando altos investimentos jogados fora. Com diversos multiplayer tendo fracassado, seria preciso buscar outros caminhos e um deles, acredite, seria voltar a apostar nas campanhas para um jogador.
A própria EA percebeu isso com o Star Wars Jedi: Fallen Order, jogo que surpreendeu muitas pessoas por contar com uma história interessante e uma jogabilidade viciante. O resultado? Um sucesso que acabaria influenciado a maneira como a companhia passaria a olhar para o single-player.
Ao menos foi isso o que indicou o CEO da editora durante um evento para investidores. Ao ser questionado sobre como jogos assim se encaixam na política da empresa, Andrew Wilson deu a seguinte resposta:
“Os nossos jogadores, no geral, possuem essas motivações principais — inspiração, fuga, conexão social, competição, autoaperfeiçoamento, criação — essas coisas que nos unem como jogadores. E a criação de mundos, a construção de personagens e a narração de histórias são realmente importantes para a realização de algumas dessas motivações.
Quando pensamos sobre o nosso portfólio e pensamos sobre construí-lo, nós realmente pensamos em dois vetores principais. Um, como podemos contar histórias incríveis? E dois, como podemos construir comunidades online incríveis? Então, como podemos juntar essas duas coisas?
Quando pensamos sobre os jogos single-player, pensamos que eles são uma parte muito, muito importante do portfólio que entregamos para cumprir essas motivações. [...] E procuramos complementar isso com a adição de jogos online, novos jogos multiplayer e novos jogos single-player.”
Mas se as palavras de Wilson não deixaram isso claro, o diretor financeiro da EA, Chris Suh, tratou de explicar que a empresa não abandonará os jogos como serviço — o que sinceramente, não surpreende. Segundo o executivo, hoje quase três quartos do faturamento da editora vêm desse tipo de jogo, algo que eles obviamente não estão dispostos a abrir mão.
Pode não ser muito, mas para uma empresa cujo antigo presidente achava não haver futuro para o single-player, é bom ver que hoje a EA enxerga o assunto de maneira diferente. E por se tratar de uma editora que já nos deu pérolas como Black & White, Dead Space, as séries Mass Effect e Dragon Age ou Unravel, só temos a ganhar.
Com grandes aquisições sendo realizadas na indústria nos últimos meses e com o rumor de que algumas gigantes estariam interessadas em passar a controlar a EA, obviamente os acionistas estariam curiosos sobre o assunto. Então, mesmo dizendo que não comenta especulações, o chefe da editora não descartou totalmente tal possibilidade.
“O nosso objetivo — e o meu objetivo como CEO desta companhia — é de sempre cuidar nas nossas pessoas, nossos jogadores e nossos acionistas,” declarou Andrew Wilson. “E se houver uma maneira de fazermos isso de forma diferente da que estamos fazendo hoje, eu, é claro, terei que estar aberto a isso. Mas lhe direi que hoje nos sentimos muito, muito confiantes e empolgados com o nosso futuro.”
Novamente, por mais que o CEO tenha sido um tanto elusivo, é possível ler nas entrelinhas da sua declaração. Mesmo com ele se orgulhando de dizer que a EA é atualmente a “maior desenvolvedora e editora independente de entretenimento interativo do mundo,” está claro que se a oferta for boa, eles serão vendidos.
A grande dificuldade aqui será encontrar uma companhia com os cofres cheios o suficiente para fechar aquela que poderá se tornar uma das maiores aquisições da história. Segundo relatos, a primeira investida teria partido da Comcast/NBCUniversal, mas tanto os valores envolvidos quanto a proposta de fusão não teriam agradado o pessoal da Electronic Arts.
Com isso sobram poucas opções, com Disney, Apple e Amazon sendo apontadas como supostas interessadas. Com valor de mercado estimado em US$ 36 bilhões, o fato é que se um dia alguma empresa quiser se tornar dona de uma das empresas mais antigas da indústria de games, será preciso desembolsar bastante dinheiro.
Assim como aconteceu com muitas empresas do ramo, a EA também foi afetada pela pandemia que começou em 2020. Com os funcionários trabalhando de casa, projetos tiveram seus lançamentos adiados e até a qualidade de alguns jogos teria sido prejudicada por causa dessa súbita mudança no ambiente de trabalho.
Mas segundo a diretora de operações Laura Miele, o talento das suas equipes permitiu que elas se adaptassem aos novos tempos, fazendo com que “chegassem a um lugar não só mais produtivo, mas altamente criativo.” Isso permitiu que houvesse progresso no ritmo e na maneira como esses profissionais criam processos relacionados a criação de jogos.
Contudo, mesmo com os funcionários voltando aos poucos a trabalhar localmente, a Electronic Arts tem incentivado a manutenção de “ambientes que sejam mais significativos e produtivos para eles e para a sua criatividade.” Isso inclui permitir que essas pessoas escolham onde estar e se elas rendem mais em casa, podem continuar contribuindo de lá.
“As pessoas escolhem trabalhar em companhias que possuem um forte valor e apego moral, assim como a compensação é realmente importante, mas as pessoas realmente querem uma conexão emocional e pessoal com o local onde estão,” defendeu Miele.
Para uma companhia que até outro dia figurava no topo das listas com as piores empresas norte-americanas, parece que eles aprenderam a lição e estão dispostos a mudar essa imagem. Porém, eu adoraria ouvir a opinião daqueles que estão do outro lado dessa história, saber se os executivos da EA realmente estão guiando a editora e seus estúdios de maneira tão diferente.
Fonte: Eurogamer, GamesIndustry e IGN