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A Marinha da Suíça e o porta-aviões para formigas

A Marinha dos EUA usou de todos os truques para vencer os japoneses, incluindo construir o menor porta-aviões do mundo

2 anos atrás

Perto do final da Guerra, a Marinha dos EUA tinha uma batata quente nas mãos. Estava claro que o Japão não planejava se render, e o fanatismo das tropas e da população civil tornaria uma invasão algo muito custoso, em termos de vidas.

Isso é um porta-aviões. Juro. (Crédito: US Navy)

Durante o planejamento inicial da invasão, o Departamento de Defesa produziu tantos Corações Púrpura, a condecoração para soldados feridos em combate, que há medalhas em estoque até hoje, mesmo com todas as guerras que os americanos se meteram desde 1945.

A estimativa inicial é que só entre as forças armadas dos EUA, em uma invasão do Japão as baixas chegariam a um milhão de homens, e poderiam ser mais ainda, quando as forças invasoras encontrassem as Unidades Especiais de Ataque da Marinha Japonesa.

Mini-submarino classe Kairyu (Crédito: Nick-D / Wikimedia Commons)

Esperando os americanos os japoneses tinham 420 mini-submarinos suicidas tipo Kaiten, basicamente um torpedo com um compartimento para piloto, 200 mini-submarinos tipo Kairyu, que levavam dois torpedos e mais uma carga explosiva para missões suicidas, e nada menos que 6197 lanchas classe Shinyo, de alta velocidade e levando 270 kg de explosivos, também em missões suicidas.

E nem vamos falar dos Kamikazis.

OK, vamos falar dos Kamikazis. Eles eram o maior problema da Marinha americana, o efeito psicológico era terrível, mesmo os EUA só tendo perdido menos de 50 navios com esses ataques, e nenhum maior que um Porta-Aviões de Escolta (no caso, perderam 3). A estatística erra que 8.5% dos navios atingidos por kamikazes afundaram.

Avião-foguete kamikazi Ohka 11, lançado de um bombardeiro, atingia o alvo a quase 1000 km/h. levando 1,2 toneladas de explosivos. Foram construídos 852. (Crédito: Sanjay Acharya / Wikimedia Commons)

Os japoneses perderam 3800 pilotos em missões kamikaze, os americanos perderam 4800 marinheiros, com outros tantos feridos. A queda na moral dos marinheiros era bem maior que os efeitos práticos dos ataques, mas em caso de uma invasão o Japão já tinha reservados 9000 aviões para ataques suicidas.

Os americanos não gostavam da idéia de entrar na Baía de Tóquio sob uma chuva de Zeros, então começaram a pensar em estratégias para enganar os japas. Nisso, surtiu a Operação Marinha Suíça, nome escolhido de zoeira, pois a Suíça não tem mar.

O racional era simples: Usar chamarizes para atrair os kamikazes e fazer com que eles se suicidem no alvo errado. Hoje isso é feito eletronicamente, há chamarizes que criam uma assinatura de radar suculenta para mísseis anti-navio. Submarinos usam chamarizes simples, que emitem bolhas e atraem torpedos menos inteligentes, ou robôs que navegam por rotas pré-definidas, transmitindo gravações de sons de motores, enganando a maioria dos torpedos e operadores de sonar.

Em 1945 a coisa era bem mais visual, o piloto usava o olhômetro para identificar o alvo.

O pessoal da Marinha então começou a trabalhar; acharam um caça-ferro (nomenclatura naval brasileira para navios caça-submarinos), o PC-449, um barco construído em 1940, com deslocamento de 85 toneladas, e 33,5 metros de comprimento.

Como dá pra perceber, não era exatamente um transatlântico. (Crédito: US Navy)

O deck superior foi todo desmontado. No lugar instalaram um convés de compensado, com uma ponte falsa, aviões em miniatura, bonequinhos, tudo. O PC-449 se transformou em um porta-aviões de mentira, em miniatura.

Visto sem algo para comparar a escala, ele se parecia com um porta-aviões de escolta. Durante a Segunda Guerra, dos 151 porta-aviões que os EUA construíram, 120 eram de escolta, uma classe menor, com 9000 toneladas de deslocamento, ao contrário dos porta-aviões “de verdade”, como o USS Enterprise, que deslocava 25000 toneladas.

Os porta-aviões de escolta eram ágeis, manobráveis, ótimos para acompanhar comboios, mas sofriam muito mais com ataques kamikaze.

Note os dois sujeitos na popa (Crédito: US Navy)

A idéia era construir uma frota de barcos como o PC-449, os japoneses veriam do alto um porta-aviões, desceriam em seu ataque mortal, e só tarde demais descobririam que algo estava errado.

O próprio tamanho do PC-449 seria sua grande proteção, o japonês dificilmente conseguiria atingir um alvo tão pequeno.

Como o PC-449 e seus 33 metros sumiriam do lado de navios de verdade, e ele estava tomando o lugar de um porta-aviões de escolta de 8 mil toneladas e 156 metros de comprimento, o plano era criar toda uma frota em miniatura, construindo cruzadores, encouraçados, destróieres e submarinos, nos mesmos moldes, pegando barcos pequenos e maquiando o convés superior.

De longe parece até de verdade (Crédito: US Navy)

Durante os testes o PC-449 se mostrou ruim de manobrar, com muito peso no convés, mas felizmente (não para todo mundo) os ataques a Hiroshima e Nagasaki, junto com a invasão da Manchúria pelos soviéticos em 9 de agosto de 1945 tornaram a situação insustentável, e o Japão acabou se rendendo.

A Marinha nunca soube se a estratégia teria dado certo, mas melhor que isso, os 27 tripulantes do PC-449 nunca tiveram que descobrir se a mira dos japoneses era ruim mesmo.

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