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John Carmack e as dúvidas sobre a criação de um metaverso

Ao falar sobre a criação da empresa Meta, um dos nomes mais importantes do Facebook mostrou ceticismo em relação ao futuro do metaverso

2 anos atrás

A ideia da criação de um ambiente virtual compartilhado, onde teríamos diversos mundos interconectados, é antiga. Muitas vezes apontado como o substituto natural da internet, o conceito recebeu diversos nomes ao longo do tempo, mas aquele que ganhou mais força foi o metaverso.

Crédito: Reprodução/Freepik/Rawpixel

Com o termo tendo sido cunhado pelo escritor Neal Stephenson no livro Snow Crash, de 1992, talvez o jeito mais simples de explicar como funciona um metaverso seja usando outra obra de ficção, o Jogador Nº 1. Após conhecer o livro escrito por Ernest Cline ou o filme dirigido por Steven Spielberg, muitas pessoas ficaram fascinadas pela possibilidade de frequentarmos um mundo virtual onde poderíamos escapar, mesmo que temporariamente, dos problemas que enfrentamos na realidade.

Mas tal proposta poderia ser trazida para as nossas vidas? Pois enquanto aquilo vivido por Wade Watts ainda parece muito longe de ser alcançado, várias empresas já tem investido na criação de um metaverso e uma que ganhou as manchetes nos últimos dias foi o Facebook.

Com o objetivo de construir um espaço onde a realidade aumentada, mundos virtuais e a internet conversem entre si, na última quinta-feira (28) Mark Zuckerberg confirmou a criação da Meta, empresa que ficará responsável por fundir a “realidade física virtualmente aprimorada e um espaço virtual fisicamente persistente.

metaverso

Crédito: Reprodução/Freepik/Rawpixel

Ao menos na teoria, a ideia é permitir que o usuário receba todo tipo de informações enquanto estiver vivendo a sua vida normal. Imagine por exemplo você estar passeando em um shopping e, graças a um par de óculos especiais, receber um alerta dizendo que um produto que lhe interessa está em promoção numa determinada loja. Que tal ser incentivado a assistir um filme que está em cartaz, sabendo a quantidade de pessoas presentes na sala e podendo comprar o ingresso sem precisar entrar na fila?

Para quem fica incomodado com a “intromissão” de serviços como o Facebook no seu cotidiano, algo como o metaverso pode soar assustadoramente muito pior. Porém, não ache que são apenas estas pessoas que estão reticentes quanto aos planos de Zuckerberg e a Meta.

John Carmack falando sobre RV na GDC 2015 (Crédito: Reprodução/GDC/Wikimedia Commons)

Dormindo com o inimigo(?)

Podendo ser considerado parte fundamental desta nova etapa dos serviços ligados ao Facebook, John Carmack já tinha demonstrado seu descontentamento com a realidade virtual, mas continua atuando como consultor de tecnologia da Oculus e por isso sua opinião era uma das mais esperadas nesta criação da nova empresa.

Pois ela foi dada ao canal UploadVR e apesar do comentário feito pelo lendário programador ter iniciado de maneira cautelosa, com ele afirmando se importar e acreditar no metaverso, o que veio a seguir não deve ter agradado o alto escalão da Meta.

Tenho argumentado ativamente contra todos os esforços para um metaverso que tentamos desenvolver internamente na companhia, desde antes da época pré-aquisição [da Oculus].

Quero que ele exista, mas tenho boas razões para acreditar que construir o metaverso não é a melhor maneira de acabar com o metaverso. [Ele é] uma armadilha para os astronautas de arquitetura... uma classe de programadores e designers que querem olhar apenas para as coisas de níveis bem altos.

Mas aqui estamos, o Mark Zuckerberg decidiu que agora é a hora de construir o metaverso, então rodas enormes estão girando, recursos estão fluindo e os esforços definitivamente serão feitos.

Carmack então disse que a partir de agora o objetivo é garantir que todo o trabalho que será realizado resulte em algo positivo. Para ele, a preocupação está nas milhares de pessoas dedicadas ao projeto e nos anos que serão gastos acabem não contribuindo para a maneira como usamos os dispositivos hoje em dia.

Para o consultor, seria fundamental que a edição de 2022 do Connect já fosse realizada no metaverso, com ele podendo andar por milhares de espectadores enquanto dá sua palestra em um espaço virtual. Esta seria uma demonstração de que a visão de Zuckerberg é possível, mas o problema é que por enquanto a tecnologia para isso não existe.

Para reforçar sua opinião, ele citou como o exemplo o atual estágio do Workrooms, um serviço de reuniões em realidade virtual e que mesmo com apenas 16 participantes já começa a apresentar travamentos. Uma saída poderia ser recorrer ao processamento na nuvem, mas de acordo com Carmack, o custo envolvido para isso seria imenso e muitas pessoas sem acesso a uma boa internet seriam impedidas de participar.

Crédito: Reprodução/Unplash/Vinicius Amano

Ou seja, pelo jeito ainda levará um bom tempo até que tenhamos acesso a algo minimamente parecido com aquilo que a Meta pretende entregar. Mesmo porque, além da própria tecnologia existe ainda a questão financeira e pode ser que por muitos anos este tipo de interação acabe ficando restrito a um pequeno grupo de abastados.

Sim, uma hora esse tipo de dispositivo deverá se tornar mais acessível, mas basta olharmos para o Oculus Rift para percebemos como esta não é uma tarefa simples. Lá se vão nove anos desde o lançamento daquele HMD e não dá para dizermos que eles se tornaram tão populares quanto prometiam — mesmo tendo a força de um Facebook o impulsionando.

Por fim, o sujeito que também é conhecido pela sua paixão por foguetes ainda citou aquele que tem sido um dos maiores motivos de críticas ao Facebook, que é deixar tanto controle nas mãos de apenas um empresa:

O caminho mais óbvio para o metaverso é que você tenha um aplicativo universal, algo como o Roblox [...] O problema é que se você toma uma decisão ruim no nível central, ninguém pode corrigir isso. Você pode eliminar todas as possibilidades — coisas que podem ser superimportantes. Eu simplesmente não acredito em uma companhia que acabe tomando todas as decisões corretas para isso.

Fonte: PCMag

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