Carlos Cardoso 2 anos atrás
M.O.D.O.K. é uma bem-vinda pausa no estilo narrativo da Marvel, que na TV tende a ser muito mais sério do que no cinema, aproximando-se perigosamente do estilo dark e sombrio da DC. M.O.D.O.K. não, M.O.D.O.K. é o exato oposto de tudo isso.
M.O.D.O.K. atacando New York. (Crédito: Hulu/Disney)
Apesar de toda a seriedade e realismo dos filmes do MCU, a realidade é que no mundo estamos acompanhando histórias de personagens de gibi, que podem sim ser dramáticos, sérios e profundos, mas originalmente eram histórias descartáveis de gente que usava a cueca por cima da calça. É importante não perder isso de vista, senão você vira um daqueles fãs chatos reclamando que o escudo do Capitão América era de Vibranium e Adamantium, ou que os poderes da Wanda não são consistentes.
Quando foi anunciado uma série do M.O.D.O.K. eu duvidei profundamente. Ele é um personagem impossível de ser usado no MCU, ou na TV. M.O.D.O.K. é ridículo, fruto de provavelmente um fim de semana inteiro em 1967 aonde Stan Lee e Jack Kirby fumaram uns 350Kg de cigarrinho de artista.
Primeira aparição de M.O.D.O.K. em Tales of Suspense 94, Outubro de 1967 (Crédito: Marvel Comics)
A própria sigla é ridícula, M.O.D.O.K. significa Mental Organism Designed Only for Killing, Organismo Mental Projetado Somente Para Matar. Ele é um sujeito que foi usado em um experimento e teve seu cérebro ampliado e melhorado, foi transformado em um Cyborg e precisa de uma cadeira levitadora especial para se locomover. Ele a chama de Doomsday Chair, M.O.D.O.K. adora esses nomes dramáticos.
Ele foi um dos principais vilões do Homem de Ferro, Capitão América e outros grupos, e se tornou Cientista Supremo da IMA – Ideias Mecânicas Avançadas, uma espécie de Hydra-Light formada por cientistas renegados que querem transformar a Terra em uma Utopia, com eles no comando.
Não pergunte. (Crédito: Marvel Comics)
A série do Hulu, que fora dos EUA passa no Disney Plus acompanha o dia-a-dia de M.O.D.O.K., mas não é uma clássica história de vilões versus heróis. M.O.D.O.K. tem problemas maiores a resolver: Sua família. A esposa, Jodie é uma escritora de auto-ajuda, e o casamento deles está balançando. O filho Lou é um adolescente normal preocupado em ser popular e como vai impressionar os convidados em seu Bar Mitzvá. Sim, M.O.D.O.K. é judeu.
Melissa, a filha mais velha tem 17 anos e a aparência do pai, mas estranhamente ninguém repara ou comenta.
A Família suburbana de M.O.D.O.K. (Crédito: Hulu / Disney)
M.O.D.O.K. tem que dividir seu tempo entre a família e a IMA, que está passando por dificuldades financeiras e acaba sendo vendida para o GRUMBL, uma dessas startups de internet descoladas com um CEO jovem brozão. O que M.O.D.O.K. não sabe é que há um plano maligno por trás, e o tal GRUMBL é só uma fachada para o terrível Vilão Secreto, Hexus, a Corporação Viva, uma entidade que pula de planeta e planeta consumindo recursos naturais e financeiros.
Também temos viagem no tempo, um plano para roubar o escudo do Capitão América e uma ridícula equipe de vilões de 5ª categoria, um M.O.D.O.K. universitário que se decepciona com o fracasso de seu futuro eu e decide eliminar a família de M.O.D.O.K., um portal criado para jogar o lixo da IMA e que abre em Asgard...
M.O.D.O.K. é uma série para adultos, o que é diferente de ser uma série adulta. Em alguns momentos ela é incrivelmente idiota, você chega a sentir vergonha de rir das piadas, em outras você pensa “Não acredito que fizeram isso”, com piadas bem dark. Em essência, é uma bobagem, que terá zero influência no MCU, nas séries sérias da Marvel ou na História da Animação. Só que é uma bobagem deliciosa.
Se você acha que já viu esse estilo antes, está correto. M.O.D.O.K. ousou ao fugir da animação tradicional e ser feita em stop motion, com bonecos, usando a mesma técnica consagrada por outra imensa bobagem deliciosa, o Robot Chicken, do Cartoon Network.
Claro, o orçamento é bem maior, o que significa bonecos de qualidade, com expressões faciais e sincronismo labial, ao contrário das bocas recortadas em papel do Robot Chicken de Seth Green, que aliás junto com Matthew Senreich, co-criador da referida série é produtor executivo de M.O.D.O.K.
Também há bastante CGI na pós-produção, dando um tom bem mais fluído na animação, mas sem perder o estilo Robot Chicken.
M.O.D.O.K. é interpretado por Patton Oswalt, que também divide os créditos de criação da série com Jordan Blum, e é produtor executivo, no elenco temos ainda Aimee Garcia, Bem Schwartz, Melissa Fumero e vários outros, incluindo nomes top como Jon Hamm, Nathan Fillion, Alan Tudyk e Whoopi Goldberg.
Oswalt não é estranho ao mundo Marvel, tendo feito o Agente Koenig em Agentes da S.H.I.E.L.D.
Olha, eles vão fundo. Os roteiristas parecem se orgulhar em fuçar gibis antigos atrás de personagens obscuros. Em um episódio aparece até o Tenpin, um vilão cujo superpoder é ser um bom malabarista e lançar pinos de boliche flamejantes nos inimigos. Tenpin foi criado em 1986, e apareceu desde então em SEIS gibis.
Eu me recuso a lembrar que os Ciegrimitas existem. (Crédito: Marvel / Hulu / Disney)
Por falar em personagens raros, temos uma participação do Ciegrimitas, uma espécie alienígena que é especializada em produzir bebidas alcoólicas, e conquista outros planejas induzindo todo mundo a festejar sem-parar. E não, eu não lembrava dos Ciegrimitas, ninguém lembrava.
Enquanto estavam produzindo a série, Jordan Blum e Patton Oswalt foram convidados para escrever uma minissérie, M.O.D.O.K. – Head Games, que seria a versão séria, canônica da família de M.O.D.O.K. É uma história bem legal, mas depois da série ficou estranho algo tão “sério”.
Tem a Gweenpool então não é tão sério assim (Crédito: Marvel Comics)
M.O.D.O.K. não é para crianças. É violento, tem palavrões, piadas adultas, sangue, desmembramentos e tensão familiar. Também não é para quem quer assistir profundas discussões sobre a condição humana. Uma boa métrica: Se você gostar dos dois vídeos abaixo, você vai amar M.O.D.O.K. Do contrário, passe longe.
4/5 Superadaptoides.