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Professor alerta que exploração espacial criará sociedades totalitárias

Sociedades totalitárias aparecem em quase toda obra de ficção científica, e parece ter motivo. Um pesquisador acha que elas são inevitáveis

3 anos e meio atrás

Na ficção sociedades totalitárias são algo bem comum, fazem parte de todo pacote de distopia básica, ido do império à Latvéria. Em Star Trek metade das sociedades encontradas são fascistas, em Star Wars a benevolente República e seu iluminado Senado não davam a mínima se havia escravos em Tatooine.

Tecnicamente isso é apropriação cultural (Crédito: CBS)

Do ponto de vista da dramaturgia, quanto mais distópica e totalitária a sociedade mais fácil trabalhar drama e conflito. Se o pessoal da Enterprise toda semana chegasse em um planeta com um governo democrático tolerante e progressista, haveria pouco o que fazer.

Um planeta nazista é muito mais divertido.

Ao menos na ficção, mas segundo Daniel Deudney, professor de Ciências Políticas na Universidade John Hopkins, a perspectiva é que com a exploração espacial as futuras colônias humanas se tornarão sociedades totalitárias na vida real.

Em seu livro Dark Skies ele alerta para o excesso de otimismo na exploração espacial.

“Eu argumento que as conseqüências do que já aconteceu no espaço não muito menos positivas do que os entusiastas espaciais e muitos outros acreditam. Meu caso para essa conclusão mais sombria das atividades espaciais se centra nelas tornarem uma guerra nuclear mais provável.

Em suma, este livro defende que expansão em larga escapa das atividades humanas no espaço, no passado e no futuro, devem se juntar à crescente lista de ameaças catastróficas e essenciais à Humanidade e que o ambicioso expansionismo espacial deve ser explicitamente abandonado.”

Então vejamos: Ele acha que humanos são malvados e levaremos nossa maldade para o espaço, e quando as futuras colônias se tornarem poderosas o suficiente serão uma ameaça para a Terra e para si mesmas.

Star Wars pegou todas as partes cool do fascismo, dos grandes desfiles ao nome dos Stormtroopers (Crédito: Star Wars)

Primeiro de tudo, é uma visão medrosa, compartilhada com dinossauros, que também não tinham um programa espacial por medo de levar seus conflitos para o espaço, e todo mundo sabe no que deu: Hoje eles viraram artistas de televisão de cachorro.

Imagine se a Europa não colonizasse o Novo Mundo, para não trazer para cá seus conflitos. Hoje só teria índio no Brasil e acreditem, ninguém quer me ver de tanga.

Exploração está em nosso sangue. Somos descendentes dos curiosos, dos inquietos, dos impacientes que queriam saber o que havia além da próxima montanha. Nossos antepassados ignoraram os que avisavam que podia haver uma tribo perigosa mais adiante. Às vezes, havia. Outras vezes, chegavam no Crescente Fértil.

Em Expanse os marcianos são marrentos belicosos paranóicos mas não são uma sociedade totalitária. (Crédito: Amazon)

O argumento de Deudeny para justificar que as colônias virarão sociedades totalitárias não convence.

“O poder e controle investidos de habitats humanos em Marte ou próximo às luas de Júpiter tenderá ao despotismo e totalitarismo porque não haverá alternativas para vida fora daqueles ambientes altamente controlados.”

Ele parte do princípio de que toda colônia terá um chefe que se tornará um déspota.

Isso não faz sentido. Não estamos mais na Idade Média. O próprio modelo de colonização é totalmente diferente. Pra começar, não há (espero) nativos para catequizar e explorar, todo o trabalho terá que ser feito pelos próprios colonos. Ou não, algum tempo atrás o renomado jornalista Alex Jones denunciou que a NASA teria uma colônia em Marte aonde a mão de obra era composta de crianças terrestres sequestradas.

Em Stargate os Goa'Ulds eram déspotas monstruosos mas a cada três planetas que o SG-1 visita um fazia parte desses sociedades totalitárias. (Crédito: MGM)

As colônias originais tinham líderes com grandes poderes porque eles tinham grandes responsabilidades. Uma mensagem para a Matriz levava meses e meses. O sujeito tinha que ser prefeito general juiz xerife e diplomata. Hoje uma mensagem de Marte leva no máximo meia-hora para ser recebida.

Outro ponto: As pessoas escolhidas para as fases iniciais de uma colônia interplanetária serão o top do top, o 1% mais inteligente, capaz, criativos, excelentes em resolução de problemas. Esse tipo de gente não serve pra ser gado.

Inicialmente nossas colônias terão uma estrutura rígida com qualquer projeto de fronteira, nem a USS Enterprise nem uma plataforma de petróleo são uma democracia, mas a evolução natural é uma ampliação das burocracias representativas, não das sociedades totalitárias.

Principalmente, uma colônia não tem como se transformar em uma distopia se tivermos uma estrutura de telecomunicações. Com a imprensa e o resto do mundo em cima, é complicado brincar de hitlerzinho. Mesmo nos primórdios, quando a informação ainda seguia por carta e telégrafo, foi a imprensa que gerou a pressão popular que conseguiu encerrar as atividades genocidas no Congo do maldito Rei Leopoldo II da Bélgica.

Ou seja: Marte só vai irar uma dessas sociedades totalitárias se Elon Musk desligar o Starlink.

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