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Trials of Mana — Review

Com gráficos muito bonitos e um sistema de combate divertido, Trials of Mana é um remake que faz uma boa transição das duas para as três dimensões

4 anos atrás

Sem nunca ter jogado o original e com a recepção do remake do Secret of Mana não tendo sido das melhores, confesso não ter ficado muito empolgado ao saber que a Square Enix estava trabalhando na recriação do Trials of Mana. O meu temor era de que esta nova versão não passasse de um caça-níqueis com um visual modernizado, mas eu estava errado.

Trials of Mana

Iniciada na década de 90 e sendo uma tentativa da Square de explorar outro lado da franquia Final Fantasy, a série Seiken Densetsu logo começou a conquistar seguidores e os motivos para isso eram vários. De gráficos super-coloridos a uma jogabilidade que trocava os turnos por batalhas em tempo real, também não demorou para a empresa distanciá-la da sua principal franquia.

Por aqui, da trilogia inicial apenas os dois primeiros jogos receberam localizações e até por isso sempre houve uma enorme expectativa para que o terceiro capítulo recebesse o mesmo tratamento. O problema é que isso só foi acontecer em 2019, quando o Nintendo Switch ganhou o Collection of Mana e por sorte não demorou para que outras plataformas também o recebessem, mas neste caso como um remake.

Uma provação em trio

Em Trials of Mana acompanharemos três heróis numa enorme saga para salvar o mundo em que vivem e para quem está acostumado a jogar JRPGs onde o protagonista é fixo, as mudanças começam antes mesmo da aventura ter início. No jogo poderemos escolher entre seis personagens, cada um com seus próprio passados e motivações, o que alterará consideravelmente a linha que a história seguirá.

Funciona assim: embora tenhamos que escolher aquele que será o nosso personagem principal e outros dois que nos acompanharão, a estrutura do enredo foi dividida por duplas, com Duran e Angela tendo como arqui-inimigo o Dragon Lord, enquanto Hawkeye e Riesz lutarão contra Dark Majesty, e Kevin e Charlotte sendo perseguidos pelo Masked Mage.

Mesmo com uma narrativa um tanto branda, onde a história está repleta de clichês e estereótipo, é muito interessante ver a maneira como o enredo se desenvolve, com os personagens eventualmente cruzando seus caminhos e nos fazendo pensar o que aconteceria caso tivéssemos optado por outro protagonista. Também foi uma boa ideia os responsáveis pelo jogo nos deixarem escolher entre jogar ou não o início de campanha de cada herói que escolhemos para o nosso trio, o que ajuda a tornar suas motivações mais compreensíveis.

No entanto, invariavelmente teremos contato com uma fada que veio de Sanctuary of Mana na tentativa de encontrar alguém que possa lhe ajudar a salvar a Mana Tree, local que abriga a lendária Sword of Mana. Nossa missão então mudará de direção, com o trio precisando passar por uma série de desafios para encontrarmos espíritos elementais que nos ajudarão a chegar a árvore e assim podermos proteger o mundo do iminente ataque de oito monstros superpoderosos conhecidos como Benevodons.

3, 2, 1 … Ação!

Por deixar de lado as batalhas por turno, Trials of Mana é um jogo com muito mais ação do que nos acostumamos a ver nos RPGs japoneses lançados na época do original e ao migrar para o 3D, a equipe responsável por este remake tinha uma tarefa complicada nas mãos.

Saltar de duas para três dimensões costuma resultar em jogos com uma jogabilidade capenga, mas não foi isso o que aconteceu aqui. Os combates em Trials of Man acontecem de maneira bastante fluída, parecendo um típico jogo mais moderno e sem existir aquele efeito de transição (mapa/arena de combate/mapa) que era comum antigamente.

O jogo também manteve o disco de comandos do original, que quando acionado faz com que a ação seja interrompida e assim possamos escolher uma magia ou um item para ser utilizado. Outro ponto positivo está na possibilidade de assumirmos o controle de um dos personagens do trio a qualquer momento, bastando apertarmos um dos dois botões de gatilhos (L2 e R2). Desta forma podemos disparar os espaciais quando quisermos, mas confesso que senti falta de um menu para isso, assim como existe para acionar os Limites no Final Fantasy VII Remake.

O jogo ainda nos permite configurar a maneira como os dois personagens controlados pelo computador se comportarão durante as lutas, como por exemplo quais inimigos eles atacarão; se partirão para o ataque ou ficarão na defensiva; e com que frequência usarão itens, magias ou especiais. Por vezes fiquei desejando que um dos meus companheiros recuperasse o próprio sangue ou disparasse uma magia, momentos em que mais uma vez senti falta do sistema de menus do outro recente remake da Square Enix.

Agora, um ponto que não foi bem implementado no Trials of Mana é a câmera durante as batalhas. Sem que ela se mantenha fixa nas costas do protagonista, quase sempre estaremos lutando contra algo que nem está sendo mostrado e embora possamos virar a câmera usando o analógico direito ou travar a mira num inimigo, não resta dúvida de que este aspecto deveria ter sido melhor trabalhado.

Eu também não gostei muito do sistema de progressão imposto pelo jogo, onde precisamos usar pontos ganhos ao subirmos de nível para treinar os personagens e assim ganharmos certas habilidades. O problema é que durante boa parte da campanha só poderemos utilizar duas dessas habilidades ao mesmo tempo, com mais espaços para alocação sendo desbloqueados apenas ao chegarmos ao nível 18. Será neste ponto também que teremos acesso a novas classes, mas o problema é que o próximo desbloqueio só acontecerá 20 níveis depois.

Ou seja, durante grande parte da aventura teremos que escolher entre as muitas habilidades disponíveis, o que passa uma sensação de que não estamos evoluindo. Isso também nos faz apenas ficar imaginando como serão as próximas classes e quais novos golpes/magias/habilidades elas desbloquearão.

E eu falei sobre a dificuldade? Bom, Trials of Man não pode ser considerado um jogo muito difícil, com os verdadeiros desafios surgindo apenas nas batalhas contra os chefes. Será neles que realmente seremos desafiados e isso é um problema sério, pois faz com que os demais confrontos logo se tornem repetitivos e pouco interessantes.

Um arco-íris de Mana

Já na parte visual não há muito o que reclamar deste remake. Com uma direção artística muito bonita e onde as cores são bastante saturadas, o mundo de Trials of Mana é lindo e cheio de cenários muito bem construídos. É muito legar ver como a equipe conseguiu levar para as três dimensões todo o colorido do original, algo que certamente deve ter dado bastante trabalho para a os responsáveis pela parte visual.

Também é bacana ver a maneira como a passagem de tempo altera os visuais, a diferença de arquitetura das cidades ou os diferentes ecossistemas que encontraremos pelo caminho. Alguns poderão estranhar o visual fofinho da maioria dos inimigos, o que de fato soa um pouco estranho hoje em dia, mas aceitando que este é o estilo da franquia, torna-se fácil admirar o trabalho feito na transposição de duas para três dimensões.

Contudo, é possível perceber uma queda na taxa de frames aqui ou ali, mas o que mais me incomodou foi ver o aparecimento súbito de objetos enquanto explorava. Não chega a ser algo gritante, mas o problema existe, assim como um ou outro objeto ser mostrado sem textura, para logo depois ela ser carregada. Eu não sei se essas falhas acontecem mesmo num PlayStation 4 Pro ou no PC, mas na versão normal do console consegui registrá-las e imagino que no Switch esteja ainda pior.

Mas quando se trata das músicas, acho que temos só elogios. A trilha sonora composta por Hiroki Kikuta é simplesmente espetacular, com as faixas se encaixando perfeitamente naquele mundo e fazendo do Trials of Mana algo memorável. O jogo ainda nos permite optar pela trilha original e por mais que ela continue muito boa, os puristas que me desculpem, mas ainda acho a versão atual superior.

A simplicidade dos anos 90

Mas se este remake merece elogios por manter muito do espírito do original e até traga algumas inovações muito bem vindas, como por exemplo a possibilidade de rolarmos durante as batalhas, a falta de ousadia por parte das pessoas envolvidas no projeto cobra seu preço.

Ok, é natural que jogos lançados a mais de duas décadas tivessem que lidar com limitações técnicas impostas pela época, mas eu realmente não consigo entender como um título atual pode nos entregar cidades repletas de personagens reaproveitados. Um exemplo são as lojas do presentes no Trials of Mana, sempre habitadas pelas mesmas pessoas que nos atenderão, o que além de prejudicar a imersão, ainda ajuda a tornar a experiência mais repetitiva.

O que dizer então das falas dos NPCs, que na maioria das vezes não possuem nada de interessante para nos dizer e muitas vezes só repetem as mesmas frases infinitamente? Tudo isso serve como um grande desincentivo à exploração, já que tirando um outro morador que pode nos dar alguma habilidade em determinadas ocasiões, não há motivo para puxarmos conversa.

Trials of Mana também não conta com missões paralelas, o que pode ser visto tanto pelo lado bom quanto pelo ruim. A desvantagem é que isso torna a campanha menor e deixa a sensação de ter sido desperdiçada a oportunidade de tornar o enredo mais rico. Por outro lado, a história acaba sendo muito mais dinâmica desta forma, já que a quase todo momento está acontecendo algo importante e não precisamos nos desviar do verdadeiro objetivo. Isso sem falar que se fosse para entupir o jogo com missões chatas e sem sentido, era melhor mesmo deixar como está está.

Um alto fator replay e um verdadeiro remake

Apesar de contar com alguns probleminhas, Trials of Mana é um jogo muito divertido e uma ótima maneira para as pessoas conhecerem a franquia. Além de uma campanha com boa duração, o jogo ainda nos incentiva a conhecer as outras duas vertentes da mesma história e por tudo isso poderá lhe manter preso por várias dezenas de horas.

É verdade que ter paciência para encarar as mesmas batalhas sem graça por inúmeras vezes não será muito fácil, mas aumentar o nível de dificuldade numa futura incursão deverá ajudar a contornar parte deste problema. O triste é pensar que o jogo poderia contar com suporte a multiplayer, o que certamente tornaria toda a aventura muito mais divertida.

Ainda assim, por mais que algumas boas oportunidades tenham sido perdidas na criação desta nova versão, a Square Enix novamente nos entregou um bom remake de um dos grandes jogos do seu catálogo e mostrou que, desde que eles estejam dispostos a investir, podem resgatar várias pérolas que ficaram perdidas no tempo. A grande pergunta que fica é: qual será o próximo a receber este tratamento?

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