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Greyhound - Tom Hanks e o mais mortal trabalho da 2a Guerra

Greyhound é o novo filme estrelado e escrito por Tom Hanks, e conta a incrível história dos comboios durante a Batalha do Atlântico na 2a Guerra

4 anos atrás

Greyhound é um filme muito bem-vindo sobre uma parte muito negligenciada na Segunda Guerra Mundial, que envolveu inclusive brasileiros, e se tornou a atividade mais perigosa de todas, para os dois lados: Os comboios do Atlântico.

Controlar os oceanos é fundamental em uma guerra. Você pode estrangular a economia de um país, fechando o acesso dele a bens de consumo. Isso era fato conhecido até de Hitler, que mesmo sem ser um bom estrategista (isso mesmo, desculpe decepcionar os fanboys) promoveu a construção dos chamados Encouraçados de Bolso, dentro dos limites especificados pelos tratados do Armistício da Primeira Guerra.

Um desses foi o Graf Spee, 16 mil toneladas de aço germânico, comissionado em 1936 e cuja missão era tocar terror no Atlântico Sul, afundando navios cargueiros aliados. Depois de vários afundamentos, inclusive na costa do Brasil, os ingleses montaram uma força-tarefa de emergência para acabar com ele, o que não foi fácil.

No final, depois de uma série de combates e o Capitão Hans Langsdorf sendo enganado achando que havia toda uma frota pronta para acabar com ele quando saísse do porto em Montevidéu, ele decidiu deixar a maioria dos homens em terra, levar o Graf Spee até o estuário do Rio da Prata e afundar o navio.

Esses cruzadores não eram os únicos perigos no Atlântico, havia isto também:

Inocente, não? Um cargueiro despretensioso, navegando sob uma bandeira neutra, cuidando da própria vida. Pois se enganou e muito. Erro aliás cometido por dezenas de capitães, que viam um inocente cargueiro se aproximando e não se preocupavam, somente para descobrir que estavam lidando com... piratas!

Ou mais precisamente, corsários. Parte de uma frota de navios mercantes fortemente armados, construídos para atacar outros navios. Foi um dos planos mais nefastos e maliciosos de Hitler, que como você deve estar deduzindo, não era boa pessoa.

Essa frota afundou mais de um milhão de toneladas em navios cargueiros aliados, mas foram uma gota no oceano comparado ao estrago da Batalha do Atlântico.

Inicialmente Hitler usou a frota de superfície, mas logo eles estavam sendo caçados pelos ingleses. A alternativa foi o uso dos U-Boats, não exatamente a arma preferida do Führer, mas os resultados eram inegáveis.

Entre Junho de 1940 e Fevereiro de 1941 os alemães viveram o que chamaram de "tempos felizes", quando barbarizavam impunemente o oceano. Os ingleses não tinham navios suficientes para patrulhar o oceano inteiro. Milhões de toneladas foram para o fundo do mar, inclusive na costa brasileira.

Nessa época os ingleses ainda não tinham radar embarcado, e o sonar da época (chamado ASDIC) só detectava alvos submersos. Durante a noite os U-Boats navegavam na superfície atrás de alvos e recarregando as baterias.

Os navios, levando suprimentos vitais dos EUA e outros países para a Inglaterra, que estava ilhada (tecnicamente ainda está) eram atacados logo ao sair do porto. Confiantes em sua impunidade, os submarinos nazistas esperavam na saída do Porto de Nova York, como você pode ver neste gráfico de navios afundados por submarinos durante a guerra:

A situação não era só desesperadora, era cruel. Os americanos desenvolveram um passatempo aonde iam para as praias próximas ao porto de Nova York, ficavam com os faróis acesos, acompanhando no oceano os navios explodindo com os torpedos alemães. A parte cruel é que os faróis acesos, vistos do mar criavam uma linda silhueta dos navios, facilitando aos nazistas encontrar seus alvos.

Isso tudo desencadeou uma corrida armamentista tecnológica como nada visto antes. Os ingleses aprimoravam sua tecnologia de sonar e otimizavam táticas de comboio, assim um grupo pequeno de navios de guerra poderia proteger um número bem maior de mercantes.

A tática dos comboios foi combatida com a criação das matilhas de lobos, os alemães identificavam os comboios, e com auxílio de rádio de longa distância, protegidos pela criptografia da Enigma Naval, coordenavam um ataque em massa. Em alguns casos chegaram a enviar 50 submarinos de uma vez.

Os aliados por sua vez aprimoraram os sonares, instalaram radares em navios e começaram a caçar submarinos com aviões, também equipados com radares. Isso funcionou exceto em uma zona no meio do Atlântico, longe demais para os aviões de patrulha.

Os aliados então desenvolveram um novo avião, o B-25, capaz de cobrir a lacuna. Do seu lado os ingleses com ajuda de um tal de Alan Turing decodificaram a Enigma Naval. Muito em parte graças a uma ousada ação quando os ingleses capturaram uma das máquinas de um submarino alemão, incluindo os preciosos livros com as cifras diárias. Isso mesmo, aquele filme, U-571 é MENTIRA, não foram os <comunista monde on>estadunidenses</comunista mode off> que capturaram a Enigma, foram os ingleses.

Aos poucos os aliados foram aprimorando suas técnicas de comboios, identificando as transmissões alemães e preparando armadilhas, incluindo emboscar submarinos e seus navios de suprimento.

As perdas começaram a se tornar brutais para os nazistas, que continuavam a desenvolver novas tecnologias, como um torpedo acústico capaz de identificar e manter sua rota em direção ao alvo. Esse torpedo funcionou por menos de 15 dias, quando os aliados desenvolveram um sistema de contramedidas, um gerador de bolhas rebocado pelos navios, que criava um alvo mais barulhento e atraente.

No pior da guerra para os nazistas (ou seja: O melhor para nós) oito em cada dez U-Boats lançados eram afundados. A expectativa de vida de um marinheiro na esquadra de submarinos era de 60 dias. A Inglaterra foi salva, mas chegou a poucas semanas do colapso. Winston Churchill disse que os U-Boats eram a única coisa que lhe causavam medo.

Mesmo com a virtual destruição da esquadra inimiga, que acabou sendo comandada para voltar às bases na França, os números ainda pendem para o lado alemão.

No total os aliados perderam:

  • 36200 marinheiros de guerra
  • 36000 marinheiros da marinha mercante
  • 175 navios de guerra
  • 741 aviões
  • 3500 navios mercantes
  • 14.5 milhões de toneladas em navios afundados

Do lado alemão, as perdas foram:

  • 30 mil tripulants de submarinos
  • 47 navios de guerra
  • 783 submarinos afundados

Greyhound, o novo filme de Tom Hanks (que também assina o roteiro) conta a história de um dos destróyers de escolta em um comboio no começo de 1942. Se o Coronga deixar, o filme estréia em Junho.

BÔNUS

Se você quiser conhecer, ao vivo por dentro e por fora um legítimo Contratorpedeiro de Escolta que serviu na Segunda Guerra Mundial, além de várias outras atrações, recomendo que visite o Espaço Cultural da Marinha, no Rio de Janeiro. Lá você poderá ver e entrar no Riachuelo, um submarino classe Trafalgar, e no Bauru, antigo USS McCann, comissionado em 1943 e repassado ao Brasil em 1944, quando participou de diversas missões de escolta a comboios e patrulhas.

BÔNUS 2

Quer ter uma visão detalhada de como era a vida a bordo de um contratorpedeiro como o Bauru, durante a Segunda Guerra? Quer ler uma aventura de ação, intriga, política, táticas navais, digna -a sério- de um Tom Clancy? Recomendo MUITO que você procure pelo livro "A Bordo do Contratorpedeiro Barbacena", do Almirante João Carlos Gonçalves Caminha que serviu na Marinha na Segunda Guerra, quando era um jovem tenente. É um dos melhores livros de guerra que já li, gringo ou não.

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