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E3 2020 não terá Geoff Keighley: grandes feiras perdendo relevância?

Após 25 anos, Geoff Keighley não vai participar da E3 2020; empresas vêm preferindo realizar eventos próprios a participar de grandes feiras

4 anos atrás

A E3 acaba de sofrer mais uma baixa: o jornalista e apresentador Geoff Keighley, principal responsável pelo E3 Coliseum, evento paralelo com painéis e entrevistas, e idealizador do The Game Awards, anunciou que não participará da edição 2020 da feira de games, pela primeira vez em 25 anos.

O movimento não é isolado, se lembrarmos de decisões similares da Nintendo e Sony, e não se restringe apenas à E3: grandes empresas estão preferindo organizar eventos próprios ou contar com o streaming, a ter que disputar espaço com concorrentes em grandes feiras.

JC Oliveira / Geoff Keighley / Getty Images / E3

O primeiro sinal de que as coisas estavam mudando para a então maior feira de games do planeta veio em 2013, quando a Nintendo decidiu encerrar sua tradicional apresentação no evento, restringindo-se a uma participação menor limitada a seu estande. O motivo era simples, a casa do Mario poderia se limitar aos Nintendo Directs, suas transmissões online pela internet, para realizar anúncios relevantes de novos jogos e consoles.

Foi assim, por exemplo que se deu o anúncio do Nintendo Switch. Para a Nintendo, que não concorre diretamente com Sony e Microsoft (desde o Wii, a companhia adota a postura de "segundo console" que todo mundo quer ter, se baseando na força de suas franquias exclusivas), gastar dinheiro com grandes apresentações é contra-produtivo; a participação mesmo em eventos no Japão, como a Tokyo Game Show, também foi reduzida.

O movimento da Nintendo em 2013 foi considera atípico e até ousado na época, mas já apontava para uma possibilidade: a de que ao menos para fabricantes de consoles e desenvolvedoras de jogos, a interação com outros profissionais (lembrando, até 2017 a E3 era fechada ao público) não era algo tão essencial para ser mantido, e que os consumidores veriam tudo pela internet, logo, seria melhor investir em transmissões via streaming.

Sony Booth / E3

Levou outros 6 anos para a Sony tomar uma decisão parecida: em 2019, a companhia japonesa decidiu pular fora da E3, citando que "o mercado evoluiu" e que o mais importante é "buscar novas formas de engajar os consumidores". Sendo a feira um evento essencialmente corporativo (visitantes pagam US$ 150 para entrar e testar os jogos), tal explicação é convincente.

Vale lembrar também que a E3 não é maior feira de games faz tempo: segundo dados recentes, a Gamescon 2019 detém o atual recorde com 373 mil visitantes, contra 66 mil da E3 2019; a BGS 2018 ocupa a terceira posição, tendo recebido 325 mil pessoas.

Agora foi a vez de Keighley, host do E3 Coliseum anunciar que não participará da edição 2020 da feira. O jornalista cobre o evento desde 1995, e nos últimos anos foi alçado à condição de apresentador e parceiro de grande porte da feira.

Este não é um fenômeno restrito a feiras de games: eventos de grande porte, como a CES, a MWC (a edição 2020 foi cancelada por causa do coronavírus) e a IFA vêm perdendo relevância, com companhias principalmente do setor de dispositivos móveis preferindo organizar eventos próprios.

A primeira a fazer isso, sem muita surpresa foi a Apple, ainda nos longínquos anos 1990. Mais recentemente temos a Samsung, que não mais anuncia seus novos smartphones de ponta em feiras, para não disputar a atenção com concorrentes. Em comum, ambas têm dinheiro de sobra para bancar seus próprios lançamentos com pompa e circunstância.

As demais, embora ainda participem de feiras vêm demonstrando cada vez mais interesse em fazer eventos menores, ou se restringir ao streaming; isso porque os fabricantes vêm percebendo que a interação com o público é mais importante do que a validação de parceiros comerciais, ou olhos tortos de concorrentes.

Entrada da E3 2017

Um bom exemplo veio da Microsoft, que embora ainda tenha os pezinhos firmes com grande espaço na E3, escolheu o The Game Awards de Geoff Keighley para fazer o primeiro anúncio oficial do Xbox Series X, seu próximo console, pela premiação ser um evento voltado principalmente para o grande público, e não para outras empresas.

É certo que outros detalhes da plataforma serão revelados na feira, mas é curioso que os três últimos consoles (contando com o PS5, ainda a ser revelado) não terão a outrora grande feira de games como palco de estreia.

Isso não quer dizer que a E3 e outras grandes feiras estão destinadas a sumir; aquelas que focam no público, como a BGS estão atraindo cada vez mais atenção, e talvez se afastar de sua origem corporativa seja necessário para manter o evento vivo. E relevante.

Com informações: WIRED

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