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Thanks, Darwin: estamos selecionando baratas cada vez mais resistentes

A Seleção Natural não perdoa: estudo mostra que gerações de baratas podem apresentar resistência a mais de um novo inseticida de uma vez

5 anos atrás

Todo mundo já ouviu aquela história de se a humanidade acabar num holocausto nuclear, as baratas herdarão a Terra. As espécies domésticas convivem conosco desde sempre, comendo o nosso lixo e transmitindo doenças em troca, enquanto nossos esforços em controla-las não vêm dando muito resultado.

Agora, um novo estudo demonstra algo que muitos já vinham apontando por décadas: graças ao nosso velho amigo Charles Darwin, a Natureza está selecionando novas gerações cada vez mais resistentes a inseticidas, chegando a um ponto em que elas podem vir a se tornar imunes a venenos.

Lmbuga / barata-germânica / Wikimedia Commons / baratas

O artigo (cuidado, PDF) publicado por pesquisadores da Universidade de Purdue, em Indiana, EUA, usaram uma série de estratégias e diversos inseticidas para combater infestações reais da espécie Blatella germanica (foto), conhecida no Brasil como baratinha e em outros países como barata-germânica (na Alemanha ela é chamada de barata-russa, claro). Como o nome local sugere, ela difere da barata-americana (o tipo mais comum no Brasil) por ser consideravelmente menor, mas é bem mais resistente.

Os cientistas constataram que apesar de todos os seus esforços não foi possível controlar as baratas, e estudos mais aprofundados apontaram para o óbvio ululante: a Seleção Natural estava fazendo a sua parte. A fêmea da baratinha pode botar ovos até 50 vezes em toda a sua vida, num espaço de apenas três meses entre um ciclo e outro. Cada nova barata se torna adulta entre 50 e 60 dias apenas. Dentre todas as espécies domésticas, a Blatella germanica é a que se reproduz mais rápido e em maior escala.

Cada geração exposta a um determinado agente químico nocivo será dizimada, mas alguns espécimes apresentarão resistência e conseguirão se reproduzir, gerando descendentes mais resistentes. Cada novo veneno é aos poucos mitigado por espécies que se reproduzem rápido demais, como você pode ver no experimento abaixo feito com bactérias E. coli em uma gigantesca placa de petri com ágar-agar, cada faixa contendo uma concentração progressiva de antibióticos.

Como Charles Darwin descreveu, quando um fator elimina os membros mais vulneráveis de uma espécie, os restantes passam seu DNA para a frente com as características que lhes deram uma vantagem evolutiva. As mutações em si são aleatórias, a Natureza não é consciente mas qualquer mudança prejudicial irá matar o espécime, ou prover uma desvantagem que não lhe permitirá procriar e passar seus genes adiante.

Voltando às baratinhas, os cientistas constataram evidências de resistência cruzada entre as gerações seguintes da espécie, algo já documentado mas não testemunhado de forma tão eficiente; quando uma geração adquire resistência a um agente químico, ela pode também se adaptar a outros semelhantes. No entanto, as baratas testadas não estavam em laboratório e sim no mundo real, demonstrando resistência a uma grande variedade de inseticidas ao mesmo tempo, em diversas concentrações.

Além disso os cientistas testemunharam algo pela primeira vez: novas defesas contra mais de um agente químico por geração. Isso derruba em definitivo o mito de que trocar de inseticidas periodicamente ou usar mais de um ao mesmo tempo são métodos mais eficientes. Todas as estratégias tradicionais com venenos foram testadas e nenhuma teve 100% de sucesso.

Trocando em miúdos, tudo o que estamos fazendo é selecionando os espécimes de baratas mais resistentes, o que poderá levar num futuro próximo (bem próximo) a variedades totalmente imunes a inseticidas que não sejam nocivos a humanos. E ninguém que voltar a usar aquela maldita lata verde de Insetefon dentro de casa, borrifando com aquele pulverizador que o pessoal conhece por "flit", "flitz" ou "fritz", que era a marca de um antigo inseticida.

A pesquisa revelou, entretanto que as baratinhas ainda são particularmente vulneráveis a um uso rotativo de iscas de gel de tipos diferentes (elas apresentaram resistência a uma única variedade), mas recomenda que as pessoas conservem melhor seus alimentos, mantenham as casas limpas e reparem danos na estrutura (fechar rachaduras e buracos nas paredes, por exemplo) para minimizar a presença de baratas. E claro, elas ainda não resistem à ação mecânica de uma boa e velha chinelada, apesar da sujeira que o método causa.

Isto é, eficiente até as baratas começarem a revidar...

Shueisha / Terra Formars / baratas

Com informações: Nature.

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