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Cineasta Bernardo Bertolucci morre aos 77 anos

Diretor e roteirista Bernardo Bertolucci morreu aos 77 anos, deixando como legado grandes filmes e uma imensa polêmica

5 anos atrás

Morreu ontem de câncer no pulmão em Roma o diretor e roteirista Bernardo Bertolucci, criador de grandes filmes e responsável por uma polêmica que é tão lembrada do que eles. Capaz de grandes realizações como O Último Imperador, pelo qual ganhou o Oscar de melhor filme e melhor diretor, ele fica marcado por uma cena do seu filme de maior sucesso, O Último Tango em Paris, e a repercussão dela na vida da atriz Maria Schneider.

Bernardo Bertolucci dirigindo Marlon Brando e Maria Schneider em uma cena de O Último Tango em Paris

Maria Schneider acusou o diretor e o ator Marlon Brando de planejarem uma cena de violação que não estava no roteiro original do filme gravado em 1972, com o objetivo de pegá-la de surpresa, na famosa cena da manteiga, um dos principais motivos pro filme ter sido banido na Itália alguns anos depois, além de ter sido proibido para menores de idade no mundo inteiro. Depois da gravação da cena, Brando não teria consolado ou apoiado a atriz, o que a deixou ainda mais abalada.

Poucos anos depois da morte de Schneider, Bertolucci gravou uma entrevista em vídeo no qual ele fala sobre a cena, admitindo que sentia culpa, embora não se arrependesse, dizendo que queria capturar a reação dela "como menina, e não como atriz". A versão dele é diferente da contada pela atriz, pois ele dizia que a única coisa que tinha sido omitida seria o uso de manteiga como lubrificante, e não a cena em si. Qualquer que seja a verdade, isso não ameniza o que foi feito, já que a atriz se sentiu violada e ficou traumatizada.

É muito triste saber que Brando e Bertolucci não tiveram ao menos a decência de pedir desculpas a ela enquanto ela estava viva. Não dá pra passar o pano e fingir que nada aconteceu, assim como não dá pra deixar de reconhecer que Bernardo Bertolucci foi um dos maiores cineastas da história. Quem quer que ele fosse na vida pessoal, seus filmes são belos, e servem como um retrato dos nossos tempos.

Bertolucci era membro do Partido Comunista Italiano em sua juventude, e começou a trabalhar com cinema como assistente de direção de Pier Paolo Pasolini, por sinal um diretor bem mais polêmico que ele. Antes do sucesso com o O Último Tango, dirigiu vários filmes, incluindo O Conformista, baseado no livro de Alberto Moravia e A Estratégia da Aranha, da obra do mestre Jorge Luis Borges.

Vittorio Storaro e Bernardo Bertolucci em ação

Ainda nos anos 70, depois do polêmico filme com Schneider e Brando, fez um filme mais ambicioso, 1900 (Novecento) com Robert De Niro e Gérard Depardieu. Em praticamente toda a sua carreira, trabalhou com o diretor de fotografia Vittorio Storaro, que venceu 3 vezes o Oscar, uma delas por sua parceria com Bertolucci em O Último Imperador.

Cena de O Último Imperador, pelo qual Bertolucci ganhou o Oscar de melhor diretor

Nos anos 80, Bertolucci atingiu o grande sucesso de crítica com este espetacular filme, que conta a história de Pu Yi, o último imperador da China, e foi o primeiro filme ocidental a ser gravado na Cidade Proibida em Pequim. Vencedor de 9 Oscars (além de vários Globos de Ouro e muitos outros prêmios em competições ao redor do mundo), O Último Imperador mereceu todas as honrarias, pois é realmente muito marcante.

Bertolucci foi o único italiano da história a ganhar a estatueta de melhor diretor, um verdadeiro feito, se considerarmos que entre os outros indicados estavam Federico Felini, Michelangelo Antonioni e Lina Wertmüller. Também tem o Roberto Beningni na lista de indicados, mas esse a gente não conta.

Jeremy Thomas, um produtor que trabalhou com Bertolucci em alguns de seus filmes, declarou que ele era "o último dos grandes cineastas italianos daquela era." Eu não diria isto, pois ainda existe pelo menos um grande diretor italiano da sua geração ainda na ativa, Dario Argento.

O maior diretor italiano de todos os tempos pra mim sempre foi Sergio Leone, que sempre foi solenemente ignorado pelo Oscar, como aconteceu com outros gênios do cinema. Não por acaso, Bertolucci, Dario Argento e Sergio Leone trabalharam juntos no argumento original de Era uma Vez no Oeste, grande clássico de Leone lançado em 1968.

Depois do Oscar com O Último Imperador, Bertolucci continuou em alta com o excelente O Céu que nos Protege e O Pequeno Buda (com Keanu Reeves como Buda), que formam sua "trilogia oriental". Depois veio Beleza Roubada em 1996, filme que teve o mérito de ter sido filmado na belíssima Toscana, e de ter sido o primeiro papel de Liv Tyler no cinema, com 19 anos.

Bernardo Bertolucci

Entre seus últimos filmes, o destaque foi Os Sonhadores (2003) com Eva Green, que mostrava o ambiente efervescente da Paris do final dos anos 60, voltando portanto ao clima de O Último Tango em Paris, gravado no começo dos 70.

Nos últimos anos, Bertolucci estava se locomovendo em uma cadeira de rodas. Seu último trabalho foi Eu e Você, de 2012, que eu confesso que não assisti, mas ainda pretendo ver, já que acabou sendo a carta de despedida do cineasta. No ano seguinte, ele ainda ganhou uma estrela na calçada da fama de Hollywood.

Bernardo Bertolucci nas gravações de O Último Imperador na Cidade Proibida de Pequim

Bernardo Bertolucci deixa pra traz a genialidade dos seus filmes, e também a marca da lamentável decisão que tomou com Marlon Brando, e que acabou causando muitos problemas ao longo vida de Maria Schneider. Apesar da polêmica, uma coisa é certa, vários de seus filmes realmente merecem ser vistos, especialmente O Último Imperador. Pra quem por acaso ainda não tiver assistido, recomendo muito.

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