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O outro lado da glamorosa indústria de games

Como as recentes — e precoces — "aposentadorias" de Cliff Bleszinski e David Jaffe servem para mostrar que nem só de alegria vivem os game designers

5 anos atrás

Trabalhar com criação é algo bastante complicado. A todo momento teremos alguém nos avaliando, julgando e até se considerando mais capazes do que nós. Imagine então ser um renomado game designer, alguém cuja obra é experimentada por milhões de pessoas de todo o mundo e que devido a popularização das redes sociais, estão sujeitos às mais variadas críticas.

Cliff Bleszinski, do sucesso ao fracasso em dois atos.

Por lidarem quase que constantemente com uma comunidade que pode ser extremamente tóxica, vez ou outra vemos alguns desses profissionais demonstrarem toda a sua insatisfação e só nos últimos dias dois grandes nomes da indústria declararam que não deverão voltar a produzir games.

O primeiro deles foi Cliff Bleszinski, que após o fechamento do seu estúdio foi questionado no Twitter se ele não reembolsaria as pessoas que compraram o LawBreakers. CliffB disse então que teve que pagar seus funcionários por meses após o fim das atividades, ficando dois anos sem tirar dinheiro para si e concluiu afirmando que “esse tipo de mer** é outro motivo pelo qual nunca voltaria a fazer outro jogo".

A resposta gerou uma onda de reações, com algumas pessoas como Cory "God of War" Barlog defendendo a maneira como ele lidou com os problemas, mas muitas outras criticando duramente o cocriador da franquia Gears of War. Entre elas estava Zach Lowery, ex-funcionário da Boss Key Productions que disse ter recebido a "ajuda" por apenas três semanas. Após afirmar que havia exagerado, Bleszinski fez questão de lembrar o ex-funcionário de quando levou — em um jato particular — ele e toda a sua família para uma viagem a New Orleans.

Percebendo que o assunto havia alcançado uma proporção enorme, o game designer usou o Facebook para explicar a sua decisão de deixar a indústria de games. Por lá ele disse:

Estamos em um mundo polarizado em que gritamos uns com os outros por trás do brilho de retângulos, quando poderíamos estar sendo gentis pessoalmente. Estamos em um mundo em que é mais legal assistir outra pessoa jogando de um a três jogos, ao invés de jogarmos nós mesmos. Estamos em um mundo em que você é avaliado pelo número de likes, inscritos e as impressões que consegue.

Estamos em um mundo onde as expectativas por um produto são fora de série, assim como o custo de marketing e os orçamentos dos jogos são tão malucos que o consumidor médio não consegue imaginar o custo para fazer esse produto.”

Bleszinski então disse que a partir de agora o seu foco estará em dar atenção à família, amigos e seus cães, e que é um felizardo por poder se aposentar dos games. Isso provavelmente se deve a bolada que recebeu quando a Tencent comprou parte da Epic Games, assim como quando o Facebook adquiriu a Oculus, empresa em que ele atuou como investidor no início.

David Jaffe e a expressão que retrata a sua insatisfação com a indústria.

Mas, lembra que eu disse que Cliff Bleszinski não estava sozinho nesta? Pois o outro game designer que disse que também pode ter abandonado o barco é David Jaffe. No início deste ano ele se viu obrigado a fechar a sua desenvolvedora, a The Bartlet Jones Supernatural Detective Agency e se naquela ocasião Jaffe afirmou que precisaria dar um tempo no desenvolvimento de jogos, ao participar recentemente do podcast “Colin's Last Stand Fireside Chats” o criador das franquias Twisted Metal e God of War foi além, colocando em dúvida o seu retorno à indústria.

Sobre se irei fazer outro jogo ou não, eu não sei. Não tenho nenhum plano no momento. Acho que se eu for fazer outro jogo seria difícil imaginar fazê-lo com o tipo de coisa que fiz no passado. Se você olhar para o que a Sony está fazendo agora, é fantástico, estou obcecado pelo Spider-Man no momento… Mas o que eles fazem atualmente é tão diferente do tipo de coisa que estou curtindo no momento. Meio que estou farto [de desenvolver jogos AAA].

De acordo com David Jaffe, ultimamente ele tem jogado muitos títulos retrô ou que ao menos o lembre de antigamente, além de revelar que esse é um estilo que poderia lhe fazer repensar a aposentadoria. Mesmo assim, as declarações do sujeito e os últimos fracassos comercias da sua carreira (Calling All Cars! e Drawn to Death) deixam claro que ele é mais um que parece ter perdido as forças para continuar tentando sobreviver numa indústria que, ao mesmo tempo em que é capaz de catapultar alguns profissionais ao estrelato, não tem o menor pudor de afundá-los de um dia para o outro. Ou melhor, um insucesso após outro.

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