Meio Bit » Games » E se o GTA III tivesse saído para o Dreamcast?

E se o GTA III tivesse saído para o Dreamcast?

Ex-funcionários da Rockstar falam sobre o desenvolvimento do GTA III, que começou no Dreamcast e nos fazem pensar o que poderia ter acontecido com o console

29/04/2024 às 10:27

Falar sobre o Dreamcast é sempre cair numa onda de saudosismo, é pensar como teria sido caso o ciclo daquele console não tivesse sido interrompendo tão prematuramente. Hoje resta especular o que poderia ter mudado a sorte do último videogame produzido pela Sega e uma dessas possibilidades atende pelo nome GTA III.

GTA III

Crédito: Divulgação/Rockstar

Aquele jogo produzido pela DMA Design foi lançado para o PlayStation 2 em outubro de 2001 e não é exagero afirmar que ele mudou a indústria. Ao nos colocar para explorar um mundo aberto em três dimensões, ele mostrou não só que a franquia poderia conquistar um público muito maior, como influenciou várias outras produções.

Por isso, uma versão do GTA III para o Dreamcast poderia atraído muitos compradores e por mais surreal que possa ser pensar nessa hipótese, por um tempo ela existiu e se não fosse a perspectiva de que aquele console não iria muito longe, o jogo poderia ter existido.

“[O pessoal da DMA Design] criou uma demo técnica com o kit de desenvolvimento do Dreamcast que demonstrava carros zunindo em 3D, com belas luzes e deformação total das carrocerias,” revelou Alan Jack, engenheiro na empresa. “Lembro que o Gary [Penn, produtor na desenvolvedora] basicamente não queria matar a criatividade deles, então reuniu algumas pontas soltas no escritório e disse: ‘vamos criar algo que seja 3D, usar essa cidade como protótipo e será para o Dreamcast.’”

Curiosamente, o projeto migrou para um jogo que nos colocaria no papel do Godzilla, franquia que a empresa não detinha os direitos, mas que o cofundador da DMA Design, Dave Jones, garantiu que eles poderiam conseguir.

Crédito: Reprodução/Rachid Lotf/ArtStation

Segundo Jack, Gary Penn estava empolgado com os gatilhos analógicos do controle do Dreamcast e por isso sugeriu que o jogo que estavam desenvolvendo tivesse um sistema em que um dos botões controlaria o pescoço do monstro, enquanto o outro ficaria responsável pela sua mandíbula. O objetivo seria conseguirmos dosar a pressão ao pegar objetos e pessoas, sem os destruir.

Porém, mesmo com o projeto evoluindo de forma satisfatória, em setembro de 1999 a Take-Two fechou um acordo com a Infogrames para comprar a DMA Design e após mudar o estúdio de cidade, a transformou na Rockstar North. Assim, as equipes que estavam trabalhando no Grand Theft Auto II e no Space Station Silicon Valley se fundiram, passando a trabalhar na franquia focada no mundo dos crimes.

“Quando terminamos nosso primeiro jogo na DMA Design, tivemos algum tempo para prototipar e ter algumas ideias,” contou o atual chefe da Rockstar North, Aaron Garbut. “Durante várias semanas conseguimos criar vários quarteirões de uma cidade com docas, áreas de varejo e arenitos. Estávamos brincando, na verdade, mas adicionamos personagens andando pelas ruas e carros circulando.”

Mas se a declaração de Garbut pode dar a entender que tudo não passou de um experimento, o diretor técnico Obbe Vermeij revelou que a “brincadeira” foi bem mais séria do que muitos podem imaginar. Segundo ele, o desenvolvimento do jogo permaneceu por cerca de quatro meses no Dreamcast e não foi interrompido por uma questão técnica. “Parecia que o DC poderia ter lidado com o GTA III,” afirmou. “[A mudança] foi por uma questão comercial. Começamos a desenvolver o GTA III para o Dreamcast, mas mudamos para o PlayStation 2 quando se tornou claro que o DC não era viável comercialmente.”

GTA III

Crédito: Divulgação/Rockstar

A afirmação levantou alguma desconfiança, até porque, o cofundador da Rockstar, Jamie King, disse em outra ocasião que o hardware do Dreamcast não era poderoso o suficiente para suportar algo como o GTA III e que por isso tiveram que esperar o videogame da Sony. Porém, Vermeij manteve sua opinião.

“Você não sabe se algo realmente funcionará até tentar,” justificou. “Estou convencido de que o Dreamcast teria conseguido a renderização. O Crazy Taxi rodava a 60 fps, então você pode pensar que conseguiríamos 30 fps no GTA III. O Dreamcast tinha uma estranha, mas poderosa placa de vídeo. Porém, não tenho certeza sobre a velocidade do streaming do disco.”

Mas seja por uma questão técnica, seja puramente comercial, o fato é que ao deixarem o Dreamcast para trás, os criadores do Grand Theft Auto III fizeram com que a exclusividade temporária do jogo no PlayStation 2 ajudasse a fazer dele o console mais vendido de todos os tempos, com mais de 155 milhões de unidades.

Considerando a situação conturbada que a Sega vivia na época, é provável que nem um megassucesso como o GTA III tivesse salvado o Dreamcast, mas isso é algo que nunca saberemos. A certeza é que as pessoas responsáveis pela criação daquele jogo tomaram a decisão correta, pois assim puderam aproveitar o maior poderio do PS2, não precisaram ter que fazer o jogo caber numa mídia com muito menos capacidade de armazenamento que o DVD e principalmente, alcançar um público muito maior que o visto no aparelho que iniciou a sexta geração.

Fonte: Time Extension

Leia mais sobre: , , .

relacionados


Comentários