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Ubisoft e o risco de falar sobre política nos games

Mesmo resvalando no assunto em um jogo ou outro, de acordo com o diretor de operações da Ubisoft Massive, levantar bandeiras políticas nos games é ruim para os negócios.

5 anos e meio atrás

Talvez a minha memória esteja me traindo, mas acho que não existe nenhuma empresa que trate tanto sobre políticas em seus games quanto a Ubisoft. Com várias de suas criações abordando o assunto de alguma maneira, há alguns meses o presidente da editora francesa até chegou a dizer que um dos objetivos dos seus títulos é abordar a política e nos fazer pensar. Porém, isso não é tão simples quanto pode parecer.

The Division 2 / Ubisoft

Quem falou sobre o assunto dessa vez foi Alf Condelius, diretor de operações da Ubisoft Massive e que durante a Sweden Game Conference explicou porque o estúdio “não pode ser politicamente aberto em seus jogos”.

Por exemplo no The Division, é um futuro distópico e há muitas interpretações de que ele é algo que vemos para onde a nossa sociedade atual está indo, mas não é isso — é uma fantasia. É um universo e um mundo criado para pessoas explorarem o quão bom alguém é num mundo em lenta decadência. Mas as pessoas gostam de colocar política nisso e nos distanciamos dessas interpretações o máximo que podemos , porque não queremos nos posicionar em relação a política atual.

 

Isso é ruim para os negócios, infelizmente, se você quer saber a verdade... mas isso é interessante e é uma discussão que temos,  uma discussão em andamento que temos com os nossos usuários, porque as pessoas querem fazer uma interpretação do universo que criamos e querem ver suas próprias realidades nas fantasias que lhes damos, e as histórias que os jogos são.

É interessante ver essa postura por parte de um alto executivo da Ubisoft, pois ao mesmo tempo em que ele afirma não querer mexer num vespeiro como este, se olharmos para o passado recente da empresa encontraremos um jogo onde temos um ex-agente do departamento de segurança nacional que causou uma pandemia em Nova York (The Division); outro em que devemos ir à América Latina acabar com um super narcotraficante (Ghost Recon Wildlands); ou ainda um em que precisamos visitar o interior do estado de Montana para matar um líder religioso que tem aterrorizado o local (Far Cry 5).

Mesmo sem que nenhum deles tente explicitamente levantar uma bandeira, não há como dizer se tratarem de títulos apolíticos e por isso sempre admirarei essa "rebeldia controlada" por parte da Ubisoft. Isso porque ao contrário do que vemos comumente em filme, livros ou músicas, os jogos eletrônicos ainda parecem caminhar sobre ovos quando se trata de fazer críticas políticas, numa clara demonstração de que a mídia ainda precisa evoluir em alguns aspectos.

Oras, se os games querem ser tratados como obras de arte — e muitos desenvolvedores vivem pregando isso — eles precisam deixar de se encarar como mera forma de entretenimento para as massas, não tendo medo de incomodar alguns grupos e até correndo o risco de serem boicotados por alguns consumidores. Se isso funciona em outras indústrias, porque não na dos videogames?

Porém, é fácil eu defender este embate quando não estou do lado de quem precisa pagar centenas de funcionários e manter a roda girando. Além disso, basta ver a polarização que o nosso país vive no momento para entender porque esta é uma briga que dificilmente alguma editora de games aceitará encarar.

Fonte: GamesIndustry.

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