Ronaldo Gogoni 6 anos atrás
O Moto X original foi uma revolução. Numa época em que todo mundo focava em dispositivos Android de ponta cada vez mais caros a Motorola, na época sob a tutela do Google entregou um smartphone de qualidade por um preço agressivo, o que se seguiu pelo menos até a geração seguinte. Hoje os chineses da Lenovo preferem fazer a Samsung e abarrotar o mercado com diversos modelos, que não raro competem uns com os outros embora alguns ainda mereçam destaque.
E é nesse cenário confuso que o Moto X reaparece, em sua quarta encarnação. Ele ainda é um smartphone em que vale a pena investir? Eu o testei por um mês e estas são as minhas conclusões.
Especificações e Design
Antes de mais nada, as especificações técnicas:
À primeira vista o Moto X4 parece um Moto G5S Plus de fraque, o problema é que essa impressão permanece quanto mais você o conhece. As especificações da versão mais poderosa do outrora aparelho intermediário da Motorola (que não é mais tão intermediário assim) são muito próximas deste, que possui sim algumas características próprias interessantes. Primeiro, a traseira de vidro com reflexo em "S", graças à curvatura é linda de morrer e chama muito a atenção, ainda que seja um ímã de marcas de dedos.
Visualmente falando este é um smartphone charmoso, ainda que a elevação da câmera não agrade todo mundo; querendo ou não ela já se tornou uma característica inerente à linha Moto.
O dispositivo em si não é tão grande, possui um peso razoável e uma pegada confortável, embora seja um tanto esgorregadio devido o acabamento da traseira mas fora isso, é um smartphone dentro do que espera da Motorola em termos de design. Os botões Power e de volume na lateral são pequenos e discretos, enquanto a bandeja na parte superior é mais uma vez híbrida; o usuário terá novamente que escolher entre utilizar dois cartões SIM ou apenas um e um micro-SD de até 256 GB para expandir o armazenamento interno, que é um de seus calcanhares de Aquiles. Com apenas 32 GB disponíveis, sendo que o sistema come nada menos que 13 GB não utilizar um cartão é praticamente impossível. Eu mesmo consegui lota-lo em apenas uma semana de testes, então tire suas próprias conclusões.
A conclusão que se chega é que a Lenovo/Motorola errou feio, errou rude ao não otimizar o sistema ou pelo menos não fornecer uma bandeja dedicada ao Micro-SD e sob essas condições não há como não usar um cartão de memória, o que mata completamente a possibilidade de usa-lo com dois chips e ter espaço minimamente decente para apps e outras coisas.
O conector é um USB Type-C 1.0, como ocorre em dispositivos mid-high para cima mas ao menos aqui a Motorola manteve a entrada P2 para fone de ouvido estéreo; apenas os dispositivos da linha Moto Z tiveram a conexão removida. Os fones de ouvido que acompanham o Moto X4 são bons e confortáveis, nada de muito especial.
E temos a tela; esta conta com 5,2 polegadas, resolução Full HD e um bom equilíbrio nas cores, nível de preto bem decente e um bom brilho, o suficiente para você ver o que ela reproduz debaixo de Sol forte. Ela poderia ser maior se a Motorola não insistisse em manter o leitor de impressões digitais na frente do aparelho, o que faz com que todos os dispositivos da fabricante ainda sejam dotados de largas bordas superior e inferior; no entanto, como antes este sensor possui funções de gestos. Deslizar para a esquerda aciona o comando Voltar, para a direita abre a gaveta de apps em segundo plano e um toque rápido aciona a função Home, uma boa opção para quem não quer acionar os comandos na tela.
Por fim o Moto X4 possui uma vantagem frente a seus irmãos: certificação IP68, que lhe confere proteção contra poeira e mergulhos acidentais; nem mesmo o poderoso Moto Z2 Force, o top de linha absoluto possui tal característica, ele e todos os outros modelos da fabricante contam apenas com um nanorrevestimento repelente que no máximo protege contra respingos e esguichos. O bom é que as chances de termos a certificação em mais produtos no futuro é quase certa.
Performance e autonomia
Deixando o problema do espaço um pouco de lado, a combinação software/hardware do Moto X4 é adequada. Com um Snapdragon 630 e 3 GB de RAM ele dá conta da maioria das funções básicas para intermediárias sem problemas ou travadinhas, embora chore um pouco com multitarefa. Ele não é o melhor aparelho para jogar (para isso temos os modelos da linha Z, ainda mais se com o Moto Snap Gamepad) e nem é sua função mesmo, já que qualquer coisa mais pesada irá comprometer severamente o armazenamento interno.
Redes sociais, Netflix, Chromecast, pacote Office ou GDocs, tudo isso ele tira de letra mas não é como se ele fosse muito diferente de outros aparelhos similares da Motorola, e por isso mesmo a fabricante fez dele um dispositivo para quem deseja consumir conteúdo de áudio com certa qualidade ou compartilhar experiências, através da opção “Sistema de som sem fios”. Com ela é possível emparelhar até quatro saídas de som Bluetooth, sejam caixas de som ou fones de ouvido ao mesmo tempo e dessa forma, você pode reproduzir sua playlist em vários cômodos da sua casa ou conectar mais de um fone no smartphone, sem ter que compartilhar o fio como fazemos hoje.
É um gimmick, interessante para quem se preocupa com isso mas de qualquer forma, ele só pode ser utilizado em redes Wi-Fi com frequência de 5 GHz. Se seu roteador só der suporte a 2,4 GHz, pode esquecer.
A bateria, com 3.000 mAh aguenta um dia inteiro de reprodução sem problemas. Nos testes utilizando fone Bluetooth, com 4G ligado e streaming de música ele saía de casa às 8:00 e voltava às 18:00 com pouco mais de 10%, o que é adequado dadas as condições de uso. Não é espetacular, mas igualmente não é um consumo de energia exacebado e sem controle.
Câmera
Hora de falar a real: as câmeras do Moto X4 são fracas, tanto o conjunto duplo principal quanto a frontal. As primeiras são dotadas de 12 e 8 megapixels com aberturas ƒ/2,0 e ƒ/2,2, sendo que a segunda conta com uma lente grande angular e dessa forma, o aparelho é compatível com o efeito bokeh das câmeras profissionais de desfocar o fundo e destacar o elemento à frente nas imagens. A Apple chama isso de “Modo Retrato”, já a Samsung de “Foco Dinâmico”. A Motorola, por sua vez usa o nome “Modo Profundidade”.
Em tese a câmera do Moto X4 deveria destacar os elementos com nitidez mas não é bem isso o que acontece, o conjunto tem sérios problemas para ajustar o foco e mais de uma vez seleciona elementos indesejados para criar o efeito. Em muitos testes o motivo estava parcialmente selecionado, em outros ele foi unido com elementos do cenário que foram igualmente realçados.
Tirando isso a câmera é razoavelmente boa para capturar imagens em ambientes iluminados, mas sua um pouco à noite ou em ambientes internos. Fora isso o software é lento, ele para e pensa antes de ajustar o foco e capturar a imagem e isso chega a incomodar após muitos cliques depois.
Ela consegue captar alguns detalhes estando de perto, mas o foco nem sempre se fixará onde você quer e chega a ser incompreensível como cargas d'água a Motorola conseguiu errar tanto em um elemento tão simples. Resumindo, a câmera do Moto X4 é apenas suficiente mas para todo o resto, é uma decepção.
A câmera selfie conta com 16 MP, abertura ƒ/2,0 e Flash LED, e tal qual a principal faz uso do modo de profundidade mas tanto lá quanto aqui, ele não funciona direito e tem problemas de foco. Hora ele foca rostos em partes, hora destaca elementos do fundo. De qualquer forma ela funciona bem em situações com bastante luz e entrega certo ruído em ambientes internos, mas na minha opinião ela deveria ser um pouco melhor dada a resolução.
Dá a impressão de que a Motorola fez uso de câmeras de foco fixo, que passam um sufoco para enquadrar elementos próximos ou distantes e é uma pena que o elemento de destaque do smartphone, que justificaria sua existência esteja tão aquém do esperado.
Como sempre, você confere as originais destas e de mais fotos no Flickr.
Conclusão
Sendo bastante sincero, o Moto X4 é um smartphone sem propósito. Com exceção da certificação IP68 ele possui câmeras piores que a presente no Moto Z2 Play e metade da capacidade interna, fora possuir um preço muito próximo do Moto G5S Plus e os mesmos problemas na hora de tirar fotos, ou pouca coisa melhor. Isso posto, o preço sugerido pela Motorola de R$ 1.699,00 não faz o menor sentido, embora seja possível adquiri-lo por bem menos em promoções da rede varejista.
Em que situações o Moto X4 se destaca então? Eu só consigo pensar em duas situações, se você deseja um aparelho com design mais refinado e faz questão da proteção contra água e poeira, ou se acha o recurso de replicar música em várias caixas Bluetooth ao mesmo tempo um adicional e tanto (se sua rede Wi-Fi doméstica for de 5 GHz, claro).
Fora isso, se você deseja economizar é mais lógico comprar um Moto G5S Plus; se quiser mais espaço e melhor performance, adicione alguns cascalhos e fique com o Moto Z2 Play.
Pontos fortes:
Pontos fracos: