Carlos Cardoso 6 anos e meio atrás
Não é nada pessoal, todo mundo que não está do lado errado daquele canhão ama o A-10, mas por ser um jato ele é rápido demais, tem pouca autonomia sobre o alvo e custa caro. Ele é soberbamente bom em apoio a tropas em terra, mas não foi projetado pra isso. O A-10 foi criado para destruir tanques soviéticos em uma invasão da Europa.
Já o AC-130, esse sim foi criado pra isso.
A idéia de encher um avião com canhões de 105 mm, 40 mm e miniguns não é nova. O AC-130 vem de uma longa linhagem de aviões de ataque a solo, que começou no Vietnã, quando alguém teve a idéia de encher um C-47 de metralhadoras, criando o AC-47 Spooky.
O C-47, versão militar do DC-3 foi o avião usado para lançar paraquedistas na invasão da Normandia, e é tudo menos uma aeronave de combate. Mas contra tropas de solo, com 3 miniguns disparando 100 tiros por segundo, enquanto o piloto voa em um círculo e seleciona o alvo usando uma mira lateral, era uma arma perfeita.
O Exército pedia desesperadamente novas conversões dos C-47s, aviões saíam com metralhadoras de Segunda Guerra pois as miniguns estavam em falta, no final da guerra tinham 26 aviões em prontidão de combate. Nenhum posto avançado protegido pelo AC-47 foi tomado pelo inimigo. Em uma única missão um AC-47 matou pelo menos 300 vietcongs.
Agora a parte ruim: não é saudável voar baixo e em círculos em uma região onde o inimigo tenha superioridade aérea ou artilharia antiaérea. As condições de operação do AC-47 eram bem específicas: se houver MiGs no ar, lamento rapazes mas sem apoio aéreo para vocês.
Como a idéia de uma batelada de armamento polpificando inimigos em solo agradou todo mundo que não se chamava Charlie, o Exército dos EUA foi experimentando armar aviões mais e mais pesados, até que chegou ao ponto ideal, o Hércules C-130.
O maior pé-de-boi da aviação mundial, o Hércules foi usado para tudo e testado para tudo. Inclusive pousar e decolar de porta-aviões:
Nos Anos 80 o C-130 foi preparado para uma missão daquelas que a gente não vê em filme por serem inacreditáveis demais. De colocar os estrategistas israelenses do resgate em Entebbe no chinelo. Uma crise de reféns no Irã exigiu o planejamento de uma missão de resgate. Só que o único local de pouso disponível era um estádio de futebol em Teerã.
Um Hércules não pousa em um estádio de futebol, MUITO MENOS DECOLA, é um fato científico. A única forma de fazer isso seria algum maluco instalar foguetes e retrofoguetes para transformar o avião em um artefato voador antinatural.
Os malucos fizeram isso, e o plano teria dado certo se não fossem aqueles garotos intrometidos o cachorro idiota e o piloto que no último teste acionou os retrofoguetes cedo demais, o avião perdeu sustentação e se estabacou na pista.
gmcjetpilot — C-130 YMC-130H Lockheed Hercules flight test accident crash
O AC-130 está longe de ser invulnerável, claro. Na Guerra do Vietnã os americanos perderam sete deles, tudo para fogo antiaéreo de canhões e mísseis. Foi o preço pago por voar baixo demais, atrás de transportes inimigos. Era o exigido pelos sensores da época, capazes de identificar a bobina de ignição dos caminhões inimigos, se voassem perto o bastante (os aviões, não os caminhões).
Hoje o AC-130 é usado no Afeganistão, Iraque e na Síria, essencialmente à noite, de dia só se houver real necessidade, afinal não se ganha guerra dando mole pro inimigo.
Gente confortável em seus escritórios com ar condicionado costuma dizer que o AC-130 é desleal, é covardia, não dá chance ao inimigo. Dois idiotas em um camelo contra um avião de milhões de dólares despejando fogo e destruição. É verdade, é desleal, mas vou contar um segredo: guerra não é videogame. Guerra justa é a que você e seus amigos voltam para casa, com todos os membros no lugar.
Nas imortais palavras do General George S. Patton:
“Nenhum pobre bastardo ganhou uma guerra morrendo por seu país. Ele ganhou fazendo outro pobre bastardo morrer pelo país dele.”