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ASML pode "desligar" a TSMC, se a China invadir Taiwan

Máquinas da ASML possuem um "kill switch", que pode ser ativado remotamente; EUA não quer a TSMC caindo nas mãos da China

23/05/2024 às 12:30

As tensões entre China e Taiwan voltaram a escalar nas últimas horas, com o país realizando exercícios militares em resposta à posse do presidente William Lai, entendido como "atos separatistas" da ilha. Há uma série de motivos que motivam o premiê Xi Jinping a reanexar a ilha à força, um deles sendo a TSMC, que fabrica os SoCs ARM da Apple, e o rolo pode envolver até a ASML.

Recentemente, graças a pressões por parte dos Estados Unidos, a companhia neerlandesa que fabrica as máquinas impressoras de semicondutores mais modernas do mundo, foi proibida de vender novas unidades dos modelos mais recentes a empresas do País do Meio, e está sendo pressionada a romper contratos e interromper a manutenção das já vendidas.

Logo da TSMC na sede da empresa em Hsinchu, Taiwan (Crédito: Ann Wang/Reuters)

Logo da TSMC na sede da empresa em Hsinchu, Taiwan (Crédito: Ann Wang/Reuters)

Com menos opções, colocar as mãos na TSMC seria interessante para Pequim, mas todos supunham que, no caso de uma invasão a Taiwan, subentende-se que a empresa fará por onde impedir que seus designs e maquinário caiam nas mãos dos chineses. Quanto a esse último, no entanto, a própria ASML é capaz de inutilizar suas máquinas mais modernas remotamente, conforme apurado pelo Bloomberg.

TSMC, ASML, e o "kill switch" anti-China

Quando os EUA impuseram sanções à China, impedindo que empresas do país comprassem chips e componentes que usassem tecnologias desenvolvidas no país, algumas fornecedoras tiveram que revisar seus designs, devido à redução de opções. Já a Nvidia foi impedida de vender alguns de seus produtos, no que o CEO Jensen Huang tentou, mais de uma vez, dar um balão nas regras, apenas para levar um puxão de orelha daqueles.

A ASML também não escapou. A partir de 2022, a Casa Branca começou a pressionar o governo dos Países Baixos, visto que a Rússia, durante sua campanha de invasão à Ucrânia, continuava tendo acesso a componentes modernos que não poderia ter, em tese, através da China. Sanções mais recentes impediam os chineses de comprarem as máquinas mais modernas da ASML, baseadas em ultravioleta profundo (DUV), que viabilizam processos de litografia mais recentes.

Como a ASML já havia vendido algumas máquinas à China antes da imposição das sanções, os EUA entraram no modo "manda quem pode, obedece quem tem juízo", e forçou a empresa a cancelar todos os pedidos; como se não bastasse, o Departamento de Comércio norte-americano está pressionando pelo fim da prestação de serviços de assistência técnica e manutenção, não importa quanto dinheiro pode ser (e será) perdido.

Especialistas defendem que não só as sanções não estão dando o resultado desejado pelos EUA (manter a China atrasada no desenvolvimento de novas tecnologias em semicondutores, para frear avanços em IA e outros setores), como está tendo o efeito contrário, ao estimular engenheiros locais a procurar soluções fora da caixa, incluindo fazer retrofit nas máquinas que já possuem, habilitando impressão em litografias que originalmente elas não davam suporte; nesse cenário, mesmo o fim da manutenção oficial é um problema fácil de ser contornado.

Porém, uma coisa é ter as máquinas, a outra é conseguir acesso a designs e profissionais de ponta, e no momento, ninguém se destaca mais que a TSMC, uma companhia valiosíssima para Taiwan e seus parceiros comerciais, e que o ursi-, digo, premiê Xi quer de todo jeito absorver, em prol do "desenvolvimento científico patriótico" da China.

É consenso que, no caso de uma real invasão chinesa a Taiwan, e uma anexação forçada do país, a TSMC será atomizada por seus executivos, de modo a não deixar que designs, projetos e maquinário valiosos caiam na mão de Pequim, mesmo que isso cause extensos prejuízos a seus mais valiosos parceiros, algo que os EUA também não quer que aconteça, mas está recorrendo a alternativas mesmo assim, afinal, melhor prevenir do que remediar.

A ASML, que fabrica máquinas impressoras de semicondutores, é a empresa mais valiosa da Europa (Crédito: Divulgação/ASML)

A ASML, que fabrica máquinas impressoras de semicondutores, é a empresa mais valiosa da Europa (Crédito: Divulgação/ASML)

Porém, segundo fontes próximas à ASML, a companhia neerlandesa possui os meios para desativar suas máquinas de ultravioleta profundo (EUV), que empresas chinesas possuem e usam, à distância. Ao serem questionados pelo Bloomberg, sobre quais medidas podem ser tomadas no caso de uma invasão de Taiwan pela China, responsáveis explicaram que estas possuem um "modo de desligamento", usado para desativar o maquinário para manutenção, ou quando é necessário realizar atualizações.

Segundo a matéria, a ASML foi questionada pelo governo neerlandês sobre a possibilidade (provavelmente, graças a uma pressãozinha adicional dos EUA por trás), no que a companhia explicou que as enviadas para a China podem ser desativadas remotamente, no que o "modo de desligamento" pode ser usado como um kill switch remoto. A Bloomberg não elabora se todas as máquinas de EUV existentes e presentes em suas outras unidades, como Japão, Israel, Bélgica, Itália, etc., também têm o recurso.

Vale lembrar que a TSMC é atualmente a maior cliente da ASML, mas ela não possui nenhuma máquina da geração mais recente, que usa ultravioleta profundo de alta abertura numérica (High-NA EUV), pois custando US$ 400 milhões, as considerou caras demais, e ainda tem muito o que extrair da geração anterior, que usa EUV; melhor para a Intel, que teria comprado todas as 6 unidades previstas para serem montadas em 2024, para garantir a dianteira no processo de litografias mais baixas, dando o início à impressão do 14A (1,4 nm) em 2025.

Voltando à TSMC, o impacto de uma completa aniquilação da TSMC, em um cenário onde a China decida invadir Taiwan, teria consequências catastróficas para o mercado de semicondutores: de cara, Apple e cia. perderiam uma das maiores e mais avançadas foundries do setor, em que poucas teriam igual capacidade e expertise para ocupar seu lugar; hoje a mais próxima desse patamar, para desespero da maçã, é a Samsung.

Além disso, alguns especialistas acreditam que, mesmo que a China encontre a TSMC arrasada após uma possível anexação, nada impede que os engenheiros de suas foundries estatais, como a SMIC, que imprime chips para a Huawei (ambas estão na lista dos EUA de empresas não-confiáveis, e não podem fazer negócios com quase ninguém), faça engenharia reversa nos equipamentos, e até recupere dados apagados.

Basicamente, a melhor solução para todos os envolvidos é tudo se manter como está, mas no que depender da China, isso não deve durar muito mais.

Fonte: Bloomberg

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