Carlos Cardoso 5 anos atrás
Sim, eu amei o Tesla Roadster no espaço, foi uma imagem icônica, algo que trouxe o espaço para mais perto de nós e levou nossa realidade mundana ao espaço. Cimentou a vitória dos nerds.
Não mais o espaço é domínio de engenheiro sisudos de terno e gravata que não riem e são só serious business. A turma que vibra a cada lançamento e pouso como se fosse a primeira vez mostrou que não é só garganta, e de quebra ainda criou o melhor comercial de carro de todos os tempos. Só que esse lançamento não foi realmente importante pra SpaceX.
O Falcon Heavy é lindo, é o foguete mais poderoso da atualidade, mas ele por pouco não foi cancelado: não é necessário. Pelo mesmo motivo que não existem Falcons 2, 3, 5, etc. O BFR (Big Fucking Rocket) está bem adiantado, e deve começar a fazer os primeiros vôos suborbitais de testes no começo do ano que vem. A demanda para o Falcon Heavy é pequena e suprida por outras empresas. O que a SpaceX quer é o filé dos lançamentos de cargas razoavelmente pesadas, que é o grosso do mercado, e futuramente o lançamento de cargas que nem existem pois nenhum foguete consegue levá-las.
E esse é o ponto. A SpaceX é uma empresa comercial, ela já é a mais barata de todas mas para viabilizar o espaço comercialmente esse custo tem que baixar muito, e é o que Elon Musk pretende. O principal componente é o próprio foguete.
Imagine que você vai levar a patroa e o pimpolho pra passar férias na Disney. Chega na Vovó Estela, e descobre que o preço das passagens é de US$ 208 milhões, pois o Boeing 747 que vai te levar só carrega 3 passageiros e é jogado no mar depois do vôo.
Aquele pouso do primeiro estágio do Falcon 9, que achamos rotina, não é. Ninguém mais no planeta faz aquilo. A regra hoje é que o foguete é perdido após o lançamento. Só aquele estágio representa 60% do custo total, mas Elon Musk quer mais, muito mais.
Hoje um Falcon 9 leva alguns meses pra ser reformado para um novo lançamento, mas isso é proposital. A SpaceX estava aprendendo, descobrindo que componentes sofrem mais ou menos desgaste, como devem ser as inspeções de segurança e milhares de outros fatores.
Isso tudo foi compilado no que é o Falcon 8 9 Block 5, a versão final do foguete, com capacidade de ser reabastecido e decolar de novo em 24 horas.
Mais ainda: ele quer recuperar o segundo estágio e já está trabalhando para recuperar a carenagem, com um sistema de navegação e um parapente.
Só essa carenagem (ok, as duas partes) são 10% do custo do foguete. Elon Musk detalhou a tabelinha:
O mais barato é combustível, entre US$ 300 mil e US$ 400 mil. O custo hoje de um lançamento com foguete usado é de US$ 50 milhões, se o cliente quiser foguete novo, US$ 62 milhões, mas a meta é reduzir o custo a algo entre US$ 5 milhões e US$ 6 milhões.
Agora eles vão se concentrar em construir entre 30 e 40 Falcons Block 5, para atender à projeção de 300 vôos nos próximos 5 anos, tempo suficiente pro BFR ser testado e homologado.
Em resumo, entre as mudanças que vieram com o Block 5 temos:
“O objetivo do BFR é permitir que qualquer um se mude para a Lua, Marte e eventualmente os planetas exteriores”
Elon Musk
Com o Falcon 9 Block 5, que voou com sucesso, a SpaceX deixa de ser uma empresa espacial comum e se torna algo que nunca existiu antes: uma empresa espacial com modelo de custos de uma empresa de transporte convencional. O futuro é da SpaceX, é só Elon Musk escolher direitinho sua tripulação.