Ronaldo Gogoni 5 anos e meio atrás
A China é um país esquisito. Embora seja uma das maiores potências capitalistas do mundo e caminhe a passos largos para se tornar a número um, ela precisa seguir o protocolo de nação comunista e assim sendo, liberdade de expressão e direitos individuais são meros detalhes. Enquanto permanecer com a faca, o queijo, o gato e o rato na mão e continuar a fabricar os produtos que todo mundo adora por preço de banana ninguém vai reclamar, o País do Meio vai continuar ditando as regras. É isso ou puxar o carro.
A internet local segue a mesma lógica. Sendo totalmente censurada (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), os mais de 700 milhões de usuários conectados só têm acesso a materiais que o governo considerar saudáveis e obviamente pró-nação. Você não vai encontrar nenhum texto sobre o Massacre na Praça Tiananmen, a questão do Tibete ou discussões sobre democracia e liberdade em nenhum site (nem em livros, sendo justo) e há uma vigilância pesada sobre o que as pessoas comentam em sites, fóruns ou redes sociais.
Agora o cerco está se fechando ainda mais: a partir do dia 1º outubro uma nova lei vai obrigar as operadoras de internet do país a manterem um registro de todos os comentaristas de sites, blogs e fóruns locais, dessa forma acabando de vez com o anonimato na rede. Lembra do deputado brasileiro que queria exigir CPF de todos os comentaristas? É basicamente a mesma coisa (e outro ainda tentou piorar a proposta).
Segundo fontes oficiais o governo está implementando a identificação de comentaristas na internet para punir os responsáveis por textos que contenham “rumores falsos, linguagem inapropriada e mensagens ilegais”; obviamente que o foco de Pequim se dará principalmente no terceiro quesito, de modo a identificar dissidentes e bloquear conversas subversivas.
O timing para a aplicação desse conjunto de decisões elevando a censura no país não foi por acaso: o próximo congresso do Partido Comunista da China está marcado para o fim do ano e ações como identificar comentaristas e banir VPNs são estratégias para blindar o evento e evitar a proliferação de discussões online de assuntos sensíveis e proibidos, além de facilitar a identificação e detenção de quem pisar fora da faixa.
E quando lembramos que a China estava desenvolvendo uma rede de monitoramento capaz de identificar “criminosos” antes que estes cometam delitos, a situação do país só piora.
Fonte: Financial Times (paywall).