Ronaldo Gogoni 7 anos atrás
Que a China é um país deveras esquisito não é novidade. Ele se porta como a grande nação comunista que deu certo (spoiler: nem de longe) enquanto ganha muito dinheiro fazendo uso do modelo capitalista. A última, embora seja o sonho molhado de todo governo autoritário só se tornou possível não só porque muita grana circula no País do Meio, mas também graças a uma ajudinha dos malditos ianques.
Muita gente pensava que o mundo de Minority Report fosse material de ficção científica, mas na verdade o comportamento individual é relativamente fácil de ser previsto. Pensando nisso o governo chinês anunciou que está desenvolvendo uma grande rede de monitoramento, o que ela chama de “rede de informação unificada”. Ela vai permitir às autoridades chinesas monitorar cidadãos específicos e analisar seu comportamento dentro e fora da internet. Os sites que acessam, lugares que frequentam, movimentações financeiras, mídia que consomem… enfim, tudo.
A partir daí o sistema vai tentar prever os passos seguintes do indivíduo, caso encontre um comportamento fora do padrão de modo a impedir que crimes sequer ocorram (ou melhor dizendo, permitir que dissidentes sejam pegos antes de darem dor de cabeça).
Pense na Polícia do Pensamento com pre-cogs, bastando trocar os mutantes pelo algoritmo de busca e reconhecimento de faces, baseado em pesquisas e tecnologias já utilizadas por órgãos federais dos Estados Unidos e de outros países. A China também possui acesso aos dados das empresas de tecnologia, locais ou não já que por lei elas não só são obrigadas a cedê-los como não podem blinda-los. Mesmo assim grandes companhias sabem que não dá para ignorar o país e perder rios de dinheiro, tanto que o Google vai voltar a atuar por lá. O rolo da Apple com o FBI também está sendo acompanhado por Pequim, que vê numa vitória da agência a oportunidade perfeita para enfim vencer a criptografia da maçã.
A estatal China Electronics Technology Group é a empresa responsável por desenvolver softwares capazes de monitorar os chineses individualmente, cruzando os seus hábitos online para pegar “terroristas” antes que possam fazer qualquer coisa. É um exemplo de Big Data se pararmos para pensar, mas voltado única e exclusivamente para caçar os indivíduos contrários à norma chinesa e que tentam fugir do duro controle estatal.
Isso ainda vai dar pano pra manga, muitos órgãos de defesa dos direitos humanos vão subir nas tamancas e com razão. A definição de terrorismo na China é muito mais ampla do que a nossa pois inclui qualquer tipo de atividade não endossada pelo Partido Comunista, como exercício de liberdade de expressão por exemplo. Uma cenário onde além de ser monitorado o tempo todo te todas as maneiras possíveis e acabar sendo preso por sequer nem ter feito nada não chega nem a ser um pesadelo orwelliano, é muito pior.
Fonte: Ars Technica.